São Paulo, domingo, 19 de junho de 2005

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DIREITOS CIVIS

Protesto contra casamento homossexual é o primeiro promovido pela igreja em 20 anos

Igreja reage a união gay na Espanha

MARI CARMEN NOGUERA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Intensificando as pressões sobre o governo do socialista José Luis Rodríguez Zapatero, a Igreja Católica e o oposicionista Partido Popular reuniram ontem 166 mil pessoas, segundo a polícia, em um protesto em Madri contra o casamento gay na Espanha, que deve ser legalizado em julho.
A manifestação, que começou às 17h (13h em Brasília) com a expectativa de atrair 500 mil sob o lema "É a família que importa. Pelo direito a uma mãe e um pai. Pela liberdade", foi convocada pela organização católica Fórum da Família e contou com a participação de 18 bispos.
Trata-se do primeiro protesto político antigovernista, em mais de 20 anos, organizado pela igreja no país, onde 94% se declaram católicos. O papa Bento 16, que quando cardeal era árduo crítico da união entre gays, já pediu aos bispos espanhóis que "reforcem" a mensagem cristã no país.
Os organizadores do protesto disseram ter fretado 600 ônibus e cerca de dez trens para levar manifestantes à capital, além de vôos das Ilhas Canárias e Baleares.
"A união de pessoas do mesmo sexo é uma negação explícita da verdade do matrimônio", disse à Folha Leopoldo Vives, secretário da Família e Vida da Conferência Episcopal Espanhola.
O projeto de lei que modifica o Código Civil espanhol para permitir o casamento gay foi proposto pelo governo e aprovado pelo Congresso em abril deste ano.
Além de legalizar a união, ele reconhece o direito dos casais homossexuais de adotar crianças. "Trata-se de um experimento psicológico com as crianças", disse Benigno Blanco, vice-presidente do Fórum da Família.
Pesquisas mostram que a maioria da população da Espanha aprova o casamento gay. "Nós só estamos cumprindo o programa apresentado nas eleições, no qual votaram a maioria dos cidadãos", disse Pedro Zerolo, secretário de Movimentos Sociais e Relações com as ONG do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol). "É uma reforma que não ataca ninguém, mas que está a favor de uma sociedade plural", afirmou.
Concomitantemente à manifestação, estava programada uma festa de rua comandada pelo músico brasileiro Carlinhos Brown. Associações homossexuais pediram que militantes comparecessem ao evento com bandeiras de arco-íris, símbolo do orgulho gay.
Horas antes do protesto, a Federação Estatal de Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (FELGT) divulgou um manifesto contra a homofobia assinado por 1.623 organizações sociais e convidou os espanhóis para a parada do Orgulho Gay, em 2 de julho.


Com agências internacionais

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