São Paulo, sábado, 19 de junho de 2010

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Chanceler argentino renuncia e causa crise

Taiana era tido como aliado da presidente

GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES

O chanceler argentino, Jorge Taiana, considerado um dos ministros mais próximos à presidente Cristina Kirchner, renunciou ao cargo na manhã de ontem e provocou uma crise no governo local.
Depois de discutir por telefone com a presidente, Taiana entregou uma carta escrita à mão onde anunciou a "renúncia irrecusável".
Ele conduzia a diplomacia argentina desde dezembro de 2005, ainda no governo de Néstor Kirchner, marido de Cristina.
O desentendimento decorreu da "falta de apoio e de divergências que Taiana sentia na implementação de decisões relativas à política externa", segundo nota divulgada pela Chancelaria.
O ministro estava descontente com uma suposta diplomacia paralela promovida pelo governo. Reuniões e acordos que fugiam ao seu controle eram conduzidos por embaixadores e funcionários do Executivo com a Venezuela de Hugo Chávez e também em fóruns internacionais como o G20, segundo a imprensa local.
Funcionários próximos à Presidência disseram que Taiana também foi pressionado a renunciar pelo próprio Néstor Kirchner.
O ex-presidente passou a considerar Taiana um traidor porque ele supostamente passava informações a meios de comunicação críticos do governo, como os jornais "Clarín" e "La Nación".
O governo argentino disse que a renúncia se deve a motivos "estritamente pessoais" e anunciou Héctor Timerman como novo chanceler. Jornalista de formação, Timerman exercia o cargo de embaixador da Argentina em Washington desde 2007 e recentemente se aproximou do casal Kirchner.
A renúncia de Taiana foi surpreendente, segundo diplomatas argentinos, porque ele era considerado forte aliado de Cristina e acumulava conquistas na política externa durante sua gestão.
O bom relacionamento que mantinha com o primeiro escalão do governo brasileiro contribuiu para o salto nas relações econômicas bilaterais nos últimos anos.
Também é creditado a Taiana o apoio unânime obtido pela Argentina no âmbito da OEA (Organização dos Estados Americanos) no conflito com o Reino Unido pelas ilhas Malvinas.
Formado em sociologia, Taiana atua fortemente na área dos direitos humanos. Esteve preso por sete anos, durante a ditadura.


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