São Paulo, Sábado, 19 de Junho de 1999
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BEBIDA CONTAMINADA
Centro belga diz que argumentos da empresa sobre a intoxicação de 200 pessoas na Europa são "incoerentes"
Laboratório critica explicação da Coca-Cola

HAROLDO CERAVOLO SEREZA
de Paris

Para o Centro Belga de Toxicologia, as explicações dadas pela Coca-Cola para os cerca de 200 casos de intoxicação na Bélgica, na França e em Luxemburgo são insuficientes.
Segundo Bart de Coninck, um dos médicos do centro, a versão da empresa "não permite explicar de forma coerente os sintomas detectados" nos pacientes -diarréias, vômitos e dores de cabeça. Segundo a Coca, houve problemas em duas fábricas do grupo, uma na Bélgica e outra na França.
Na primeira, teria sido utilizado um gás carbônico de má qualidade, contendo sulfeto de hidrogênio, na produção de garrafas. Na segunda, teria ocorrido a contaminação de latas por um fungicida aplicado nos engradados.
Para o centro, a concentração dos produtos detectada nas análises da Coca-Cola não é coerente com o grau dos sintomas.
O médico também considera não explicado o fato de contaminações diferentes terem efeitos semelhantes. O centro ainda não concluiu seus próprios estudos.
A venda de Coca-Cola, Fanta e Sprite está proibida na Bélgica. Na França, as latas da fábrica de Dunquerque (norte) estão fora do mercado. A Espanha retirou de venda ontem 390 mil garrafas importadas da Bélgica. Alemanha, Luxemburgo, Holanda, Letônia e Arábia Saudita estão entre os países que adotaram restrições.

Concorrentes favorecidos
Embora a Coca-Cola evite dar informações sobre perdas, suas principais concorrentes estão ocupando o espaço deixado, seja pela falta de produtos, seja por receio dos consumidores. A produção das fábricas afetadas representa cerca de 1% do mercado mundial da Coca.
Os pedidos da PepsiCo Bélgica, fabricante da Pepsi-Cola, aumentaram de 2.500 litros por dia para 14 mil. A PepsiCo França se diz pronta a suprir toda a demanda deixada pela Coca-Cola.
A Virgin Cola, a menor das três, colocou sua fábrica em Lyon para funcionar 24 horas por dia.
Tradicionalmente, a Coca-Cola domina cerca de 80% do mercado de colas da França. Do setor de refrigerantes, a empresa detém atualmente 37,2%.
A empresa está reembolsando custos médicos dos pacientes que apresentarem atestado.
A Coca-Cola contratou a empresa francesa de comunicação Publicis para tentar reverter a má imagem do grupo. Ninguém na Publicis, por enquanto, fala sobre o tema. "Não podemos dizer nada ainda", disse uma funcionária à Folha, sem se identificar. O presidente mundial da Coca-Cola (sediada em Atlanta, EUA), Douglas Ivester, chegou ontem à Bélgica, onde deve se encontrar com membros do governo.


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