São Paulo, sábado, 19 de julho de 1997.



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ANTI-SEMITISMO
Líderes israelenses criticam investigações do caso, até hoje não solucionado; representantes do governo são vaiados
20 mil lembram atentado na Argentina

FERNANDO GODINHO
de Buenos Aires

Cerca de 20 mil pessoas se reuniram ontem em Buenos Aires para recordar o terceiro aniversário do atentado a bomba contra o prédio da Amia (Associação Mutual Israelita-Argentina), que matou 86 pessoas em 18 de julho de 1994.
Os protestos contra a falta de resultados nas investigações marcaram a manifestação. Até agora, há quatro pessoas detidas -todas pertencentes à Polícia da Província de Buenos Aires. Mas nenhuma delas foi acusada como responsável pelo ataque.
O atentado a bomba contra a Embaixada de Israel na Argentina, ocorrido em 1992 e com 29 mortos, também continua impune.
"Quanto maior a impunidade, menor é a distância entre o dia de hoje e um novo atentado", disse o titular da Amia, Oscar Hansman. Os nomes das vítimas foram lidos em voz alta, e os manifestantes gritavam "presente" para cada um.
Os representantes do governo federal na manifestação foram vaiados pela população. Estiveram presentes os ministros Carlos Corach (Interior), Raúl Granillo Ocampo (Justiça) e Guido Di Tella (Relações Exteriores), além do chefe do Gabinete presidencial, Jorge Rodríguez.
O atentado ocorreu na manhã de 18 de julho de 1994. Um carro-bomba explodiu do lado de fora da sede da Amia, destruindo grande parte do prédio.
Os quatro policiais detidos (Juan Ribelli, Raúl Ibarra, Ireneo Leal e Mário Barreiro) são acusados de terem fornecido a pick-up usada como carro-bomba. O receptador de carros roubados Carlos Alberto Telleldín também está preso, pois foi ele quem roubou a pick-up.
A comunidade israelita argentina acredita que o atentado contra a Amia -assim como o ataque à embaixada- foi realizado por grupos terroristas iranianos.
Mas o juiz Juan José Galeano, responsável pela causa, argumenta não ter informações suficientes para sustentar essa acusação.
As investigações do atentado à Amia estão em 275 volumes (com 54 mil folhas). Até agora, 292 mil horas de escutas telefônicas foram gravadas (377 telefones grampeados). Foram ouvidas 1.465 testemunhas e tomados os depoimentos de 188 suspeitos.
O titular da Daia (Delegação das Associações Israelitas da Argentina), Rubén Beraja, lembrou ontem que as investigações já foram prejudicadas pela própria polícia.
Ele citou como exemplo os desaparecimentos de 66 fitas com gravações das escutas telefônicas e da agenda eletrônica de carlos Alberto Telleldín. Esse material estava sob a custódia da Polícia Federal.
Em entrevista antes do ato, os ministros Carlos Corach e Jorge Rodríguez afirmaram que o governo também não está satisfeito com o andamento das investigações.



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