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ENTREVISTA
Presidente rebate objeções da China e da Rússia a sistema de defesa contra mísseis e critica manifestantes antiglobalização
Ao partir para a Europa, Bush se defende
Reuters
![](../images/e1907012001.jpg) |
O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, faz sinal de positivo ao deixar a Casa Branca |
PATRICE DE BEER
DO "LE MONDE", EM WASHINGTON
Antes de embarcar para a Europa para a cúpula do G-8 (os sete
países mais industrializados mais
a Rússia) em Gênova, o presidente dos EUA, George W. Bush, concedeu uma entrevista a sete jornais estrangeiros. Bush comentou
as relações de seu país com a Europa, as objeções da China e da
Rússia ao seu projeto de escudo
antimísseis e os assuntos que
constam da pauta da reunião na
Itália, criticando os manifestantes
antiglobalização que o aguardam.
Bush chegou ontem a Londres, de
onde seguirá para a Itália.
Pergunta - O sr. não acha que essas reuniões cada vez mais têm o ar
de campos fortificados? O sr. estava na cúpula das Américas em Québec. A OMC (Organização Mundial
do Comércio) vai se reunir no deserto. Em Gênova, algumas pessoas vão se abrigar num barco, e o
Canadá pensa em manter a próxima reunião do G-8 em uma montanha. O que o sr. prevê para a cúpula
de Gênova?
George W. Bush - Ter um diálogo
aberto é uma coisa, e promover
destruição é outra. Sou totalmente contrário a uma estratégia e
uma filosofia que, ao esforçar-se
por impedir mudanças, encerra
as pessoas na pobreza.
Afirmo com toda a clareza e firmeza possíveis que os manifestantes na Itália têm o direito de
expressar sua opinião pacificamente. Mas, ao opor-se ao comércio internacional, eles privam os
países em via de desenvolvimento
de oportunidades de crescimento.
Como disse meu amigo, o ex-presidente mexicano Ernesto Zedillo,
eles parecem estar estranhamente
determinados a proteger esses
países contra o desenvolvimento.
Podem dizê-lo com as palavras
que quiserem, mas o que fazem é
condenar as pessoas à miséria.
Deveriam perguntar o que querem àqueles que pretendem representar -ouviriam uma resposta bem diferente.
Durante minha visita anterior à
Europa, falei de uma casa da liberdade, de abrir as portas à liberdade com a ampliação da Otan
(aliança militar ocidental) e da
União Européia e de abrir as janelas para que os EUA, seus aliados
e seus amigos possam enxergar
mais claramente os problemas
dos países em desenvolvimento.
Em Gênova, direi que aqueles que
são prósperos devem implementar as políticas necessárias para
reforçar essa prosperidade: menos impostos, menos regulamentação e mais livre comércio. Também devemos desenvolver juntos
novos dispositivos de segurança
para fazer frente às ameaças do
século 21. Não existe prosperidade para todos sem um mundo
próspero e estável.
Pergunta - Que visão o sr. tem das
relações entre os Estados Unidos e
a Europa?
Bush - Quando fui à Europa pela
primeira vez (junho), foi para
quebrar o gelo. Alguns dirigentes
já tinham vindo me ver. Os outros
tinham lido coisas a meu respeito,
mas não tinham tido a oportunidade de ouvir meu ponto de vista.
Eles tinham lido coisas nos jornais, coisas às vezes verdadeiras e
outras vezes inteiramente falsas.
Tivemos um diálogo franco e
acho que eles compreenderam
que estamos firmemente engajados com a Otan e sua ampliação.
Durante minha campanha eleitoral, eu disse claramente que o
papel de nossos soldados era vencer guerras. Expressei minha inquietude com as missões de manutenção da paz, que, a meu ver,
não são uma estratégia para militares.
Em consequência disso, alguns
setores na Europa sentiram receio
quanto à manutenção de nossa
presença nos Bálcãs. Nosso secretário de Estado não demorou a
lembrar minha posição: fomos
para lá juntos e de lá sairemos
juntos. Isso dito, é importante
continuar a substituir nossas tropas, de maneira responsável, por
estruturas civis capazes de fazer o
mesmo trabalho.
Estou convencido de que podemos ter relações muito construtivas com a União Européia. Está
claro que temos divergências
quanto a determinados assuntos,
mas não devemos permitir que
essas desavenças -sobre a biotecnologia, por exemplo- prejudiquem o fato de compartilharmos os mesmos valores. E são esses valores que unem a América e
a Europa: liberdade de imprensa,
de expressão, de religião, eleições
livres. Nossos amigos europeus
começam a compreender que eu
respeito a Europa, nossa história
e, sobretudo, seus valores. Vou representar meu governo de maneira direta e transparente. Todo o
mundo vai conhecer nossa posição. Alguns vão gostar, outros,
não, mas todos saberão que estarei sempre pronto a ouvir, a discutir sobre temas importantes.
Pergunta - Os países europeus falaram em tornar-se o motor da economia mundial. O que eles devem
fazer?
Bush - As economias de mercado e as democracias têm um papel
a desempenhar. Em primeiro lugar, devem assegurar que nossas
economias sejam fortes e que possamos comerciar livremente entre nós. Estou convencido de que
os países cuja economia é regida
pelo Estado de direito e a transparência podem ajudar a propagar a
prosperidade no mundo. Em outras palavras, se nossas economias não se cruzarem, os países
africanos terão muita dificuldade
para se desenvolver. Uma parte
do problema vem do desaquecimento de nossas economias.
Nosso país tomou medidas para
estimular o crescimento. Vamos
lançar um processo de incentivo
por meio da redução dos impostos. Os primeiros cheques serão
enviados nesta semana, e, no prazo de três meses, US$ 40 bilhões
serão injetados em nossa economia. E o Federal Reserve (Banco
Central) continua a reduzir as taxas de juros.
Pergunta - E o protocolo de Kyoto
sobre o meio ambiente, ao qual o
sr. se opôs?
Bush - Disse claramente aos dirigentes do mundo inteiro que somos a favor de seus objetivos, mas
que divergimos quanto ao método. Vamos trabalhar para criar
uma estratégia que os outros países possam compreender claramente. Mas que não nos enganemos: esse tratado tem algumas
metas que são insuportáveis para
nós. Devo confessar que alguns líderes têm mais simpatia com nossa posição do que outros. Cabe a
cada país tomar suas próprias decisões, mas podemos continuar a
cooperar.
Pergunta - O presidente russo,
Vladimir Putin, falando na segunda-feira, defendeu uma nova estrutura de segurança na Europa
que inclua a Rússia na Otan ou que
substitua a Otan por outra aliança
que incluísse a Rússia. Por outro lado, Moscou e Pequim estão decididamente contra seu projeto de defesa antimísseis.
Bush - Eu disse claramente a Putin, no mês passado, que a Rússia
não é mais nossa inimiga e que
não devemos mais nos olhar mutuamente com desconfiança, e
sim cooperar para nos livrarmos
de um documento que codifica a
desconfiança decorrente da Guerra Fria. É isso que significava o
Tratado Antimísseis Balísticos
[TAB". É hora de desenvolvermos
um novo quadro estratégico para
a paz. As ameaças às quais o tratado TAB fazia frente deixaram de
existir. Existem hoje novas formas de terror -o ciberterrorismo, os extremistas fundamentalistas, um extremismo que ameaça a nós, a Israel, nosso bom aliado e amigo, e à Rússia. Devemos
coordenar nossa segurança para
fazer frente a essa ameaça e nos
dotarmos da capacidade de livrar
o mundo das forças de chantagem e terrorismo. Assim, precisamos ter condições de destruir
qualquer míssil que nos ameace.
Na Eslovênia, Putin falou de
uma Otan que pudesse incluir a
Rússia. A idéia é interessante.
Mas, enquanto isso, ingressamos
num novo ciclo de ampliação da
Otan e precisamos estender a
mão aos países que avançam rumo à democracia e trabalham duro para conformar-se ao plano de
ação. Mas eu lhes direi o seguinte:
quando a Rússia olha para o Ocidente, ela não vê nenhum inimigo, e será assim enquanto eu for
presidente.
Pergunta - Em sua viagem anterior à Europa o sr. contornou a
França sem parar no país, e na próxima o sr. fará a mesma coisa.
Quando imagina ir a Paris?
Bush - Não se preocupem com
isso. Estou apenas começando
minha vida de "globe-trotter"!
Tradução de Clara Allain
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