São Paulo, quarta-feira, 19 de julho de 2006

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De volta, brasileiros relatam caos libanês

Avião da FAB trouxe grupo de 98 pessoas após fuga da zona de conflito em três ônibus que passaram por Síria e Turquia

Choro e aplausos marcam recepção de amigos e familiares em Recife e SP; consulado estima que haja 200 mil brasileiros no país


SIMONE HARNIK
THIAGO MOMM
DA REPORTAGEM LOCAL

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

No dia em que o garoto de Foz do Iguaçu Bassel Termos, 7, morreu no Líbano, o pouso do avião da Força Aérea Brasileira no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, às 17h12, trouxe alívio para os brasileiros que haviam saído, há dois dias, de Beirute, e para as famílias no saguão.
No total, 85 brasileiros, oito libaneses e cinco argentinos conseguiram o ingresso na aeronave, sendo que 80 desembarcaram em São Paulo. O consulado do Brasil em Beirute estima que haja 200 mil brasileiros no Líbano. A cada familiar que saía, choro e aplausos para os que chegavam e angústia pelos que viram.
"Deixei tudo lá. Minha mãe e meu pai", conta Hiba Chawa, 35, que lamentava a guerra e o fato de que os pais, que moram no Líbano, continuarem no país -sua mãe, doente, tem dificuldade de locomoção. Com Hiba, retornaram a pequena Dana, de oito meses, o filho Omar e a filha Nur.
A missão brasileira de resgate encerrada ontem começou com uma viagem rodoviária de 16 horas. O grupo deixou Beirute em três ônibus, escoltados por três carros de passeio.
Na tentativa de evitar ataques aéreos, bandeiras do Brasil foram estendidas no teto dos veículos. O comboio seguiu para a Síria e, depois, para a Turquia. Os viajantes chegaram a Adana (Turquia) e, às 22h (horário de Brasília) embarcaram rumo ao Brasil.
Rassan, 9, filho de Cleoni Bueno, 33, dona-de-casa em Foz do Iguaçu e a primeira a sair pelos portões do aeroporto, recorda: "Tinha bomba por perto. Da janela, dava para ver tudo. Chorei por causa da avó e do avô que ficaram lá".
As férias de 45 dias em Beirute foram reduzidas a 15 dias à procura de abrigo ou escapatória. A saída, tumultuada, só foi conseguida com muita insistência. "A embaixada dizia que não podia fazer nada. Meu marido [que estava no Brasil] viu que ia ter um ônibus e me avisou. Mas tem muitos amigos que não conseguiram sair. Eu só pensava: "Agora vou morrer'", afirmou Cleoni.
O libanês Samir Bayoud e sua mulher, Olga, ambos de 73 anos, ele libanês e ela descendente, eram esperados pelos quatro filhos. Samir foi conhecer a sua cidade natal, Marjiyun, no sul libanês, onde encontraria com seus dois irmãos e suas duas irmãs -todos juntos pela primeira vez após quatro décadas.
No Brasil, os filhos de Samir e Olga permaneciam apreensivos, sem dormir desde a última quarta-feira. "Fui rever minha cidade natal onde eu me formei, ver amigos, irmãos e familiares. Isso foi muito forte", disse Samir.

Euforia
Segundo o comandante do avião e responsável pelo vôo, Salvini Krieger, a euforia dos passageiros foi maior na partida. Mas, na chegada, houve choro de quem se lembrou dos familiares e amigos que ficaram na zona de conflito.
Segundo Krieger, diversos passageiros confirmaram que ainda existem brasileiros no Líbano. "Eles disseram que alguns não conseguiram vaga e que outros já tinham passagem marcada. Mas a preocupação existe, porque ninguém sabe se eles poderão viajar", afirmou.


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