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De volta, brasileiros relatam caos libanês
Avião da FAB trouxe grupo de 98 pessoas após fuga da zona de conflito em três ônibus que passaram por Síria e Turquia
Choro e aplausos marcam recepção de amigos e familiares em Recife e SP; consulado estima que haja 200 mil brasileiros no país
SIMONE HARNIK
THIAGO MOMM
DA REPORTAGEM LOCAL
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
No dia em que o garoto de
Foz do Iguaçu Bassel Termos,
7, morreu no Líbano, o pouso
do avião da Força Aérea Brasileira no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, às 17h12, trouxe alívio para
os brasileiros que haviam saído,
há dois dias, de Beirute, e para
as famílias no saguão.
No total, 85 brasileiros, oito
libaneses e cinco argentinos
conseguiram o ingresso na aeronave, sendo que 80 desembarcaram em São Paulo. O consulado do Brasil em Beirute estima que haja 200 mil brasileiros no Líbano. A cada familiar
que saía, choro e aplausos para
os que chegavam e angústia pelos que viram.
"Deixei tudo lá. Minha mãe e
meu pai", conta Hiba Chawa,
35, que lamentava a guerra e o
fato de que os pais, que moram
no Líbano, continuarem no
país -sua mãe, doente, tem dificuldade de locomoção. Com
Hiba, retornaram a pequena
Dana, de oito meses, o filho
Omar e a filha Nur.
A missão brasileira de resgate encerrada ontem começou
com uma viagem rodoviária de
16 horas. O grupo deixou Beirute em três ônibus, escoltados
por três carros de passeio.
Na tentativa de evitar ataques aéreos, bandeiras do Brasil foram estendidas no teto dos
veículos. O comboio seguiu para a Síria e, depois, para a Turquia. Os viajantes chegaram a
Adana (Turquia) e, às 22h (horário de Brasília) embarcaram
rumo ao Brasil.
Rassan, 9, filho de Cleoni
Bueno, 33, dona-de-casa em
Foz do Iguaçu e a primeira a
sair pelos portões do aeroporto,
recorda: "Tinha bomba por
perto. Da janela, dava para ver
tudo. Chorei por causa da avó e
do avô que ficaram lá".
As férias de 45 dias em Beirute foram reduzidas a 15 dias à
procura de abrigo ou escapatória. A saída, tumultuada, só foi
conseguida com muita insistência. "A embaixada dizia que
não podia fazer nada. Meu marido [que estava no Brasil] viu
que ia ter um ônibus e me avisou. Mas tem muitos amigos
que não conseguiram sair. Eu
só pensava: "Agora vou morrer'", afirmou Cleoni.
O libanês Samir Bayoud e sua
mulher, Olga, ambos de 73
anos, ele libanês e ela descendente, eram esperados pelos
quatro filhos. Samir foi conhecer a sua cidade natal, Marjiyun, no sul libanês, onde encontraria com seus dois irmãos
e suas duas irmãs -todos juntos pela primeira vez após quatro décadas.
No Brasil, os filhos de Samir e
Olga permaneciam apreensivos, sem dormir desde a última
quarta-feira. "Fui rever minha
cidade natal onde eu me formei, ver amigos, irmãos e familiares. Isso foi muito forte", disse Samir.
Euforia
Segundo o comandante do
avião e responsável pelo vôo,
Salvini Krieger, a euforia dos
passageiros foi maior na partida. Mas, na chegada, houve
choro de quem se lembrou dos
familiares e amigos que ficaram
na zona de conflito.
Segundo Krieger, diversos
passageiros confirmaram que
ainda existem brasileiros no Líbano. "Eles disseram que alguns não conseguiram vaga e
que outros já tinham passagem
marcada. Mas a preocupação
existe, porque ninguém sabe se
eles poderão viajar", afirmou.
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