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Com novos ataques, Beirute acorda do sonho da reconstrução
Cidade vê retrocesso do impulso ao turismo e à economia após a guerra civil
GUSTAVO CHACRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE NOVA YORK
A Nigéria também anunciou
que retirará 5.000 cidadãos nigerianos que estão no Líbano.
Essa medida deixa claro o caos
que se tornou o território libanês em menos de uma semana.
Um país envolto a inúmeros
conflitos civis como a Nigéria
teme pela segurança de seus cidadãos na região.
O site do projeto Solidere
(www.solidere-online.com.lb), levado adiante pelo premiê
Rafik Hariri, morto em atentado em 2005, continuava no ar
ontem tentando vender a imagem de uma Beirute reconstruída por US$ 2 bilhões.
A estratégia libanesa para
alavancar sua cambaleante
economia nos últimos anos foi
vender a imagem de que o país
estava reerguido da guerra civil
e que Beirute voltava a ser a
mais atraente cidade do Oriente Médio, com suas praias, restaurantes e a possibilidade de,
como os libaneses gostam de
dizer, tomar um banho de mar
e esquiar no mesmo dia.
O bilionário Hariri esteve
duas vezes no Brasil para vender este novo Líbano, abrindo
inclusive uma empresa com este nome (Novo Líbano). Seu filho esteve em São Paulo no ano
passado para manter de pé o
ideal do pai, com o objetivo de
atrair um número maior de
brasileiros para visitar o Líbano. O Brasil sempre foi considerado um mercado potencial
para os libaneses, pois vivem
no país cerca de 6 milhões de
descendentes -a população do
Líbano é de 3,4 milhões.
O objetivo de Hariri foi alcançado. O clube Monte Líbano de São Paulo voltou a organizar viagens para o Líbano como fazia nos anos 60 e 70. Milhares de outros foram por
conta própria aproveitando
ofertas de agências de turismo.
Novamente os descendentes
podiam visitar com segurança
as cidades de onde vieram as
suas famílias, como Marjayoun, Hasbaya, Rachaya e muitas outras.
Excursões foram organizadas para que os jovens descendentes de libaneses pudessem
conhecer o Líbano moderno,
com as atracões da rua Monot
em Beirute, as boates de Kaslik,
ao norte da cidade, e visitar os
festivais de música nas ruínas
romanas de Tiro e de Baalbeck
ou os restaurantes à beira-mar
de Biblos, antiga cidade dos fenícios.
No ano passado, durante a
Revolução dos Cedros, parecia
claro que o Líbano se tornaria
novamente um grande destino
turístico, como nos anos 60,
com capas em revistas no Brasil e no mundo. Muitos árabes
de países mais ricos no golfo
Pérsico passaram a ver em Beirute a possibilidade de aproveitar a vida ocidental sem ir para
o Ocidente, onde muitos passaram a se sentir mal recebidos
após o 11 de Setembro. Redes
de hotéis também investiram
dinheiro no mercado libanês,
assim como restaurantes e
companhias aéreas.
Pesadelo
Mas tudo terminou nesta semana. Não foi a primeira vez
que o Líbano foi bombardeado
no verão. Nos anos 90, isso já
havia acontecido durante a
operação "Vinhas da Ira". Mas
naquela época Israel ainda ocupava o sul do Líbano, que permanecia em guerra.
Desta vez, para os libaneses,
o país dos cedros já estava reconstruído. O velho centro de
Beirute havia deixado de ser
aquela cidade fantasma para se
converter num centro onde todas as diversas facções se juntavam para aproveitar as noites
do verão sem brigas.
Com o seqüestro dos soldados pelo Hizbollah e o conseqüente ataque israelense, essa
região de Beirute está novamente às moscas, apesar de
ainda não ter sido alvejada, ao
contrário do sul do capital. Festivais de música foram cancelados, os hotéis esvaziaram, os
moradores que puderam fugiram para as montanhas e os estrangeiros se espremem em navios para deixar o país.
E Beirute mais uma vez se
converte no destino preferido
dos jornalistas de guerra. Para
muitos libaneses, o país havia
acordado do pesadelo da guerra
civil. Agora, muitos acham que
acordou de um sonho no qual
ele havia sido reconstruído.
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