São Paulo, domingo, 19 de julho de 2009

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Economia em ponto morto abala apoio a Obama

Em Estados onde a crise é mais forte, aprovação a presidente cai abaixo de 50%

Na média nacional, avaliação positiva caiu de 68% para 58% desde a posse; maior taxa de desemprego em 26 anos influi negativamente

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

"O plano de estímulo econômico de Barack Obama não está funcionando."
"Acima de tudo, sr. presidente, o que Michigan precisa é dos empregos prometidos."
Assim Barack Obama foi recebido na semana passada pelos editoriais de dois dos principais jornais de Detroit, onde o presidente anunciou um novo programa para treinamento de ex-operários demitidos pela indústria automobilística.
Pela primeira vez desde sua posse, em 20 de janeiro, pesquisas em alguns Estados norte-americanos (como Ohio e Virgínia) mostram o nível de aprovação de Obama no cargo caindo abaixo de 50%.
Por trás da erosão na popularidade, a maior taxa de desemprego em 26 anos (9,5%) e recordes de desempregados e pessoas obrigadas a aceitar vagas instáveis ou precárias.
Na Califórnia, 25% da população economicamente ativa está nessa situação, contra apenas 12% há um ano. Na Flórida, na Carolina do Norte e em Washington, cerca de 20%.
Segundo dados do Departamento do Trabalho dos EUA, em média os "semiempregados" trabalham só três dias da semana. Obviamente, eles ganham menos com isso.
Na média nacional, de acordo com o instituto Gallup, a taxa de aprovação de Obama desde a posse caiu de 68% para 58%. Já o descontentamento subiu de 12% para 36%, um salto de 24 pontos em seis meses.
No mesmo período, o total de norte-americanos que dizem ser "insatisfatória" a situação atual da economia pulou de 29% em janeiro para 46% em julho.
Na semana passada, Obama pediu "paciência" em Michigan e em várias outras aparições públicas.
O democrata também mudou sua estratégia e passou a apontar mais claramente o dedo para os republicanos de George W. Bush como responsáveis pela crise.
"Adoro essas pessoas que ajudaram a nos meter nessa enorme confusão e que agora, de uma hora para a outra, dizem: "Bom, essa é a economia de Obama'", disse o presidente.
No Congresso, o líder da minoria republicana na Câmara dos Representantes, Eric Cantor, disse que o atual pacote de US$ 787 bilhões do governo Obama para estimular a economia é "apenas um programa de endividamento em massa e de gastos que não produziu empregos nem prosperidade". "Simplesmente não está funcionando", disse Cantor.
No lançamento do plano, em fevereiro, Obama estimou que cerca de 600 mil empregos seriam criados até meados de setembro. Até agora, porém, 2 milhões de vagas foram extintas em sua gestão. A estimativa é de que apenas 150 mil empregos tenham sido criados por conta do programa federal.

Recessão e emprego
Uma série de indicadores nos EUA começam a sinalizar que a recessão poderá ficar para trás dentro de alguns poucos meses. Os bancos voltaram a exibir lucros e o ritmo de queda na produção industrial arrefeceu.
Na semana passada, como reflexo dessa expectativa otimista, a Bolsa de Valores de Nova York teve valorização de 7% entre segunda e sexta.
O problema é o emprego, que deve continuar subindo ainda por muitos meses antes de se estabilizar. O próprio Obama admite um desemprego acima de 10% durante alguns meses de 2010.
Nesta recessão, o desemprego é também mais longo do que em ciclos negativos recentes. Na média, quem fica desempregado hoje nos EUA demandará 24,5 semanas para encontrar um novo trabalho. Trata-se do período mais longo desde que o governo começou a compilar essas estatísticas, em 1948.
O total dos chamados "desempregados de longo prazo" (há mais de 27 semanas fora do mercado) também bateu o recorde histórico. Eles somam hoje 4,4 milhões de pessoas, quase um terço do total de desempregados no país.
Para Gary Burtless, do Instituto Brookings, o governo Obama errou no início ao não reforçar o suficiente que o cenário econômico poderia ficar ainda muito pior e que ele era herança do governo anterior.
"Os eleitores poderão agora concluir erradamente que os problemas econômicos são produto das políticas deste governo", afirma.

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