São Paulo, domingo, 19 de julho de 2009

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"Guerra contra o terror" de Bush ameaça a agenda de democrata

DO "FINANCIAL TIMES", EM WASHINGTON

Seis meses após Barack Obama e o Partido Democrata assumirem as rédeas em Washington, o partido ainda procura decidir o que fazer com o legado que recebeu de Bush.
Os esforços do ex-presidente na chamada "guerra ao terror" -termo que Obama aposentou- estão mostrando ser quase impossíveis de desfazer, e o legado de Bush ameaça desviar as atenções das prioridades políticas atuais.
A CIA (agência de inteligência dos EUA) e o Departamento da Justiça divergem sobre os planos do secretário da Justiça, Eric Holder, de investigar as alegadas torturas na era Bush.
Tanto o Departamento da Justiça quanto o Departamento de Estado estão irritados com o acordo fechado entre a Casa Branca e o Congresso para impedir a transferência de detentos de Guantánamo para solo americano, ao menos até setembro. Os dois departamentos dizem que o acordo, selado para respeitar as preocupações do Congresso quanto a abrigar "terroristas" em solo americano, dificulta o fechamento da prisão, o que seria obtido com a transferência de detentos para prisões de segurança máxima ou para outros países. A intransigência dos EUA fez outros países relutarem em cooperar.
Os democratas no Congresso estão divididos sobre a criação ou não de uma "comissão da verdade" para avaliar as alegações de tortura, algo que, segundo foram avisados, pode desmoralizar a CIA e desviar as atenções da agenda de Obama de reforma da saúde.
A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, apoia a criação da comissão e ganhou um reforço nos últimos dias, quando a CIA admitiu ter deixado de transmitir ao Congresso informações sobre um plano de matar líderes da Al Qaeda.
A grande decisão a ser tomada nas próximas semanas é a que Holder enfrenta: sobre uma possível investigação para averiguar se representantes americanos extrapolaram os "memorandos sobre a tortura" do governo Bush, nas técnicas de interrogatório empregadas.
"Se o departamento vir evidências de conduta criminal, tem o dever de investigar, e essa decisão cabe ao secretário da Justiça", disse um alto funcionário do departamento.
Já a CIA disse que seu "programa de detenção e interrogatório de terroristas foi moldado e movido sob a orientação legal" do Departamento da Justiça, que "conhece -e conhece há anos- os detalhes sobre as práticas de interrogatório passadas. Isso já foi revisto antes".
A CIA acrescentou que o Departamento da Justiça teve em mãos durante cinco anos um relatório do inspetor-geral da CIA sobre detenções e interrogatórios e decidiu não abrir processos. Representantes do Departamento da Justiça responderam que foi o governo Bush, e não a equipe de Obama, que decidiu não processar.
Obama já afirmou em várias ocasiões que, nesta fase crucial de seu governo, quer olhar para a frente, não para trás.
Mas reportagem da "Newsweek" sobre os planos de Holder de abrir uma investigação criminal relatou que ele está perturbado com os relatos sobre tortura, enquanto sua equipe destaca a necessidade de agir independentemente em questões criminais.


Tradução de CLARA ALLAIN


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