|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítico de Mao, professor atrai censura
Após ganhar fama com aulas de história postadas na internet, Yuan Tengfei passa três semanas desaparecido
Popular entre os alunos, docente diz em vídeo na web que líder é culpado pela Grande Fome, crise que matou 30 milhões
FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM
Todas as notas de yuan, a
moeda chinesa, estampam
Mao Tse-tung, seu mausoléu
está na praça da Paz Celestial, e a China continua sob o
regime fundado por ele.
O que acontece, então,
quando um professor de história da rede pública o acusa
de ser um "abutre com as
mãos sujas de sangue" por
causa da morte de 30 milhões de pessoas por fome?
Docente de ensino médio,
Yuan Tengfei, 38, vem ganhando fama desde 2008,
depois que suas aulas, sempre irreverentes e críticas à
história oficial, passaram a
circular na internet. Em poucos meses, elas foram vistas
por 10 milhões de pessoas.
"O estilo de Yuan é totalmente novo e me fez mudar
de opinião sobre história",
diz a universitária Xu (ela só
autorizou publicar seu sobrenome), 19, uma ex-aluna.
"Arrisco dizer que toda a
classe era fã dele."
Até há pouco, a fama só fazia bem a Yuan. Ganhou o
apelido de "o melhor professor de história da história",
publicou "Que Diabos é História?", coleção de quatro livros que já vendeu 900 mil
exemplares, participou de
um prestigioso programa de
TV e foi contratado por uma
escola pública experimental.
Mas, em maio, Yuan começou a ficar sob pressão depois que uma aula antiga sua
sobre o governo de Mao
(1949-76) caiu na web.
Na aula, Yuan responsabiliza Mao pela Grande Fome
(1959-61), quando 30 milhões
de chineses morreram após
mudanças na política agrícola -para ele, o "maior desastre da história da China".
"Nunca vou à praça da Paz
Celestial", diz Yuan. "Se passo de carro por lá, fico com
vergonha, há 30 milhões de
fantasmas tentando te assombrar. Esse lugar deveria
ser rebatizado de praça da
Comemoração do Massacre."
Yuan ainda disse a seus
alunos que "ri" da história
oficial contada pelos livros
do Partido Comunista.
Todos os vídeos de Yuan
foram censurados, e ele sumiu por três semanas. Reapareceu apenas para uma declaração, postada na internet, em que, comedido, nega
que tenha sido preso.
"Confio no Partido Comunista e no governo popular e
acredito que a lei me trará
justiça", afirmou Yuan, cujas
mãos para trás, em vez da
usual gesticulação, levantaram rumores de que ele estaria algemado.
Procurado pela Folha,
Yuan disse que não está concedendo entrevistas.
O editor de seus livros, Xu
Hang, disse que Yuan passou
a ter mais dificuldade para
publicar seus textos. "O
quarto volume, que sai no final do ano, foi aprovado pelo
governo, mas teve 4.000 das
96 mil palavras cortadas."
Texto Anterior: Opinião: Chore por nós, Argentina Próximo Texto: Historiador vê espaço para liberdade de expressão Índice
|