São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2001

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OFENSIVA LEGAL

Cortes pedem que o ex-secretário de Estado dos EUA fale sobre a Operação Condor

Argentina e Chile querem ouvir Kissinger

DO "LE MONDE"

Uma ofensiva legal foi lançada em Santiago e Buenos Aires para tentar obter o depoimento de Henry Kissinger, ex-secretário de Estado dos EUA e Prêmio Nobel da Paz de 1973, sobre a Operação Condor, a vasta operação de repressão organizada nos anos 70 e 80 pelas ditaduras do Cone Sul.
O juiz federal argentino Rodolfo Canicoba Corral pediu em 10 de agosto que o Departamento de Justiça americano interrogasse Kissinger para determinar se ele conhecia a existência desse plano quando chefiava a diplomacia dos EUA. Se ele não depuser pela via diplomática, o juiz Canicoba deverá ir a Washington para ouvi-lo.
Do outro lado dos Andes, a Corte Suprema de Justiça do Chile autorizou, em 30 de julho, que Kissinger fosse interrogado nos EUA no caso do assassinato do jornalista americano Charles Horman, durante a ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990). Um questionário foi preparado pelo juiz Juan Guzmán, responsável pelas investigações sobre os abusos no governo do ex-ditador, e enviado ao tribunal em 4 de julho para ser passado às autoridades de Washington.
Segundo documentos divulgados em junho de 2000 pela CIA (serviço de inteligência dos EUA), Horman foi fuzilado no estádio nacional de Santiago, com centenas de outros prisioneiros, após o golpe de Estado de Pinochet.
A pressão sobre Kissinger começa a tomar força também em seu próprio país. Durante a turnê de promoção de seu último livro ("A América Precisa de uma Política Externa?"), o ex-secretário foi várias vezes questionado sobre o envolvimento dos EUA em violações dos direitos humanos em outros países. Restringiu-se, contudo, a mencionar a Guerra Fria e o "sincero" raciocínio de que "era preciso fazer algo para impedir os comunistas de tomar o poder".
Kissinger estaria atualmente receoso de visitar determinados países "arriscados", nos quais uma pretensão de jurisdição universal poderia surpreendê-lo, como no dia 28 de maio, em Paris, quando o juiz francês Le Loire, que investiga o desaparecimento de cinco franceses no Chile, chamou o ex-secretário para depor como testemunha.
No dia 26 de junho, a deputada do Partido Democrata Cynthia McKinney pediu a Collin Powell, o atual secretário de Estado dos EUA, que encorajasse Kissinger a "responder às intimações e a se apresentar ao juiz Le Loire".
Na quarta-feira, o semanário alternativo nova-iorquino "Village Voice" saiu com um título de impacto. Kissinger foi chamado de "Milosevic de Manhattan", em referência a Slobodan Milosevic, ex-presidente iugoslavo preso no tribunal internacional de Haia por crimes de guerra.
As crescentes pressões já têm um resultado: há uma semana, o Departamento de Estado anunciou que, por pedido do governo, Kissinger aceitara passar ao órgão cerca de 10 mil páginas de transcrições de conversas telefônicas mantidas por ele quando chefiava a diplomacia americana.



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