|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
OFENSIVA LEGAL
Cortes pedem que o ex-secretário de Estado dos EUA fale sobre a Operação Condor
Argentina e Chile querem ouvir Kissinger
DO "LE MONDE"
Uma ofensiva legal foi lançada
em Santiago e Buenos Aires para
tentar obter o depoimento de
Henry Kissinger, ex-secretário de
Estado dos EUA e Prêmio Nobel
da Paz de 1973, sobre a Operação
Condor, a vasta operação de repressão organizada nos anos 70 e
80 pelas ditaduras do Cone Sul.
O juiz federal argentino Rodolfo
Canicoba Corral pediu em 10 de
agosto que o Departamento de
Justiça americano interrogasse
Kissinger para determinar se ele
conhecia a existência desse plano
quando chefiava a diplomacia dos
EUA. Se ele não depuser pela via
diplomática, o juiz Canicoba deverá ir a Washington para ouvi-lo.
Do outro lado dos Andes, a Corte Suprema de Justiça do Chile autorizou, em 30 de julho, que Kissinger fosse interrogado nos EUA
no caso do assassinato do jornalista americano Charles Horman,
durante a ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990). Um
questionário foi preparado pelo
juiz Juan Guzmán, responsável
pelas investigações sobre os abusos no governo do ex-ditador, e
enviado ao tribunal em 4 de julho
para ser passado às autoridades
de Washington.
Segundo documentos divulgados em junho de 2000 pela CIA
(serviço de inteligência dos EUA),
Horman foi fuzilado no estádio
nacional de Santiago, com centenas de outros prisioneiros, após o
golpe de Estado de Pinochet.
A pressão sobre Kissinger começa a tomar força também em
seu próprio país. Durante a turnê
de promoção de seu último livro
("A América Precisa de uma Política Externa?"), o ex-secretário foi
várias vezes questionado sobre o
envolvimento dos EUA em violações dos direitos humanos em
outros países. Restringiu-se, contudo, a mencionar a Guerra Fria e
o "sincero" raciocínio de que "era
preciso fazer algo para impedir os
comunistas de tomar o poder".
Kissinger estaria atualmente receoso de visitar determinados
países "arriscados", nos quais
uma pretensão de jurisdição universal poderia surpreendê-lo, como no dia 28 de maio, em Paris,
quando o juiz francês Le Loire,
que investiga o desaparecimento
de cinco franceses no Chile, chamou o ex-secretário para depor
como testemunha.
No dia 26 de junho, a deputada
do Partido Democrata Cynthia
McKinney pediu a Collin Powell,
o atual secretário de Estado dos
EUA, que encorajasse Kissinger a
"responder às intimações e a se
apresentar ao juiz Le Loire".
Na quarta-feira, o semanário alternativo nova-iorquino "Village
Voice" saiu com um título de impacto. Kissinger foi chamado de
"Milosevic de Manhattan", em referência a Slobodan Milosevic, ex-presidente iugoslavo preso no tribunal internacional de Haia por
crimes de guerra.
As crescentes pressões já têm
um resultado: há uma semana, o
Departamento de Estado anunciou que, por pedido do governo,
Kissinger aceitara passar ao órgão
cerca de 10 mil páginas de transcrições de conversas telefônicas
mantidas por ele quando chefiava
a diplomacia americana.
Texto Anterior: Aviação: Após reforma, Concorde deve retomar vôos Próximo Texto: Saúde pública: Morte de doentes de Aids cresce nos EUA Índice
|