São Paulo, segunda-feira, 19 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Papa reconhece pressão por renúncia

DO ENVIADO ESPECIAL

O papa João Paulo 2º, 82, admitiu ontem, pela primeira vez, que vem sofrendo pressões para que renuncie e abra caminho para a eleição de um novo líder católico.
Pouco depois da homilia no parque Blonia, quando a multidão pedia em coro "Fique conosco! Fique conosco! Não vá embora!", o papa respondeu: "Há quem venha me incitando a renunciar e abandonar Roma".
A saúde frágil do papa, agravada por uma doença degenerativa, mal de Parkinson, e artrose no joelho direito, despertou rumores de que ele poderia renunciar nesta viagem a sua terra natal e recolher-se a um mosteiro, mas a inédita declaração de ontem parece contrariar essa versão.
Ao final de uma entrevista coletiva em Cracóvia, questionado pela reportagem da Folha se a declaração do papa significava que ele descartava uma eventual renúncia por ora, o porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, disse: "Ele foi bastante claro e transmitiu uma mensagem direta aos que o consideram incapaz. Não é preciso dizer mais nada". Navarro-Valls já se manifestara contrário a um abandono da liderança católica por parte do papa. O porta-voz do Vaticano também disse que esta é a última viagem papal "por enquanto". Sobre planos para futuras viagens, foi evasivo: "Há todo um programa que ainda está aberto".
Cardeais como os alemães Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação da Doutrina da Fé e uma das principais autoridades católicas, e Karl Lehmann, presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha, além do hondurenho Oscar Rodriguez Maradiaga, cogitaram a possibilidade de João Paulo 2º renunciar.
Já o cardeal chileno Jorge Medina Estevez afirmou que o papa acredita que sua missão seja morrer no Vaticano. Recentemente, segundo ele, o papa teria dito, em particular, que não renunciaria "porque Jesus não desceu da cruz".
Foi o próprio papa quem revisou o Código de Direito Canônico (principal documento legislativo da igreja) e que estabeleceu a possibilidade de uma renúncia -extremamente rara na história da igreja- sem precisar da aceitação de nenhuma autoridade.

Improvisos
Por duas vezes o papa não resistiu ao entusiasmo dos peregrinos e fez improvisos durante a missa no parque Blonia ontem.
Na primeira vez, admitiu que existe um questionamento sobre sua capacidade de liderar a igreja. Depois, no final da missa, em resposta à multidão, que dizia "Sto Lat" (literalmente, cem anos), expressão normalmente usada pelos poloneses para dar parabéns a alguém em seu aniversário -com o sentido de "vida longa!"-, o papa afirmou: "Gostaria de vê-los novamente, mas isso agora está nas mãos de Deus. Deixemos isso para a misericórdia divina". (PDF)


Texto Anterior: Religião: João Paulo 2º reúne 2,5 milhões na Polônia
Próximo Texto: Polônia supera o Brasil em número de padres
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.