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Papa reconhece pressão por renúncia
DO ENVIADO ESPECIAL
O papa João Paulo 2º, 82, admitiu ontem, pela primeira vez, que
vem sofrendo pressões para que
renuncie e abra caminho para a
eleição de um novo líder católico.
Pouco depois da homilia no
parque Blonia, quando a multidão pedia em coro "Fique conosco! Fique conosco! Não vá embora!", o papa respondeu: "Há quem
venha me incitando a renunciar e
abandonar Roma".
A saúde frágil do papa, agravada por uma doença degenerativa,
mal de Parkinson, e artrose no
joelho direito, despertou rumores
de que ele poderia renunciar nesta viagem a sua terra natal e recolher-se a um mosteiro, mas a inédita declaração de ontem parece
contrariar essa versão.
Ao final de uma entrevista coletiva em Cracóvia, questionado pela reportagem da Folha se a declaração do papa significava que ele
descartava uma eventual renúncia por ora, o porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, disse:
"Ele foi bastante claro e transmitiu uma mensagem direta aos que
o consideram incapaz. Não é preciso dizer mais nada". Navarro-Valls já se manifestara contrário a
um abandono da liderança católica por parte do papa. O porta-voz
do Vaticano também disse que esta é a última viagem papal "por
enquanto". Sobre planos para futuras viagens, foi evasivo: "Há todo um programa que ainda está
aberto".
Cardeais como os alemães Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação da Doutrina da Fé e uma
das principais autoridades católicas, e Karl Lehmann, presidente
da Conferência dos Bispos da Alemanha, além do hondurenho Oscar Rodriguez Maradiaga, cogitaram a possibilidade de João Paulo
2º renunciar.
Já o cardeal chileno Jorge Medina Estevez afirmou que o papa
acredita que sua missão seja morrer no Vaticano. Recentemente,
segundo ele, o papa teria dito, em
particular, que não renunciaria
"porque Jesus não desceu da
cruz".
Foi o próprio papa quem revisou o Código de Direito Canônico
(principal documento legislativo
da igreja) e que estabeleceu a possibilidade de uma renúncia -extremamente rara na história da
igreja- sem precisar da aceitação
de nenhuma autoridade.
Improvisos
Por duas vezes o papa não resistiu ao entusiasmo dos peregrinos
e fez improvisos durante a missa
no parque Blonia ontem.
Na primeira vez, admitiu que
existe um questionamento sobre
sua capacidade de liderar a igreja.
Depois, no final da missa, em resposta à multidão, que dizia "Sto
Lat" (literalmente, cem anos), expressão normalmente usada pelos poloneses para dar parabéns a
alguém em seu aniversário
-com o sentido de "vida longa!"-, o papa afirmou: "Gostaria
de vê-los novamente, mas isso
agora está nas mãos de Deus. Deixemos isso para a misericórdia divina".
(PDF)
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