São Paulo, sábado, 19 de agosto de 2006

Próximo Texto | Índice

Brasileiros ilegais crescem acima da média nos EUA

Entrada clandestina aumentou 70% entre 2000 e 2005, contra média geral de 24%

Segundo o Departamento de Segurança Interna, os "não autorizados" superam 11 milhões de pessoas, das quais 2% vieram do Brasil


FABIANO MAISONNAVE
DA REPORTAGEM LOCAL

O números de brasileiros vivendo ilegalmente nos Estados Unidos aumentou 70% entre 2000 e o início do ano passado, taxa de crescimento inferior apenas à dos indianos, segundo estimativa divulgada ontem pelo Departamento de Segurança Interna. Com aproximadamente 170 mil "indocumentados" em janeiro de 2005, o Brasil é a nona maior comunidade ilegal em território americano.
Ao todo, o estudo estima que a população ilegal nos EUA era de 10,5 milhões há 19 meses. Mantida a taxa de crescimento média desde 2000 (408 mil por ano), esse contingente seria hoje de pouco mais de 11,1 milhões de pessoas -o equivalente a quase 4% da população americana (299,5 milhões).
De acordo com o levantamento, os brasileiros representam cerca de 2% da população ilegal, com um ritmo médio de 14 mil novos imigrantes por ano entre 2000 e janeiro de 2005 -ou 38 por dia.
Em números absolutos, os novos imigrantes brasileiros (70 mil) ficaram em quarto lugar nesse período, abaixo dos imbatíveis mexicanos (1,3 milhão), dos indianos (160 mil) e dos guatemaltecos (80 mil).
Apesar de expressivo, o crescimento registrado pela estimativa não captou o "boom" da imigração brasileira no ano passado pela fronteira americana com o México, fenômeno que ganhou destaque na grande imprensa americana e chegou a ser mencionado em discurso pelo presidente norte-americano, George W. Bush.

Brecha
Ao longo do ano fiscal de 2005 (de 1º de outubro de 2004 a 30 de setembro seguinte), 31.070 brasileiros foram presos na região de fronteira com o México, segundo a Patrulha da Fronteira, órgão subordinado ao Departamento de Segurança Interna. Em média, houve 85 prisões de brasileiros por dia, a maioria no Texas.
A explosão do fluxo de brasileiros deveu-se, em grande parte, à estratégia dos imigrantes de se entregar à Patrulha da Fronteira e, dessa forma, utilizar uma brecha conhecida como "catch and release" (prende e solta). Ou seja, os brasileiros eram liberados pelos agentes sob a condição de comparecer a uma audiência judicial -o que raramente ocorria.
Em meados do ano passado, o governo americano passou a adotar gradativamente a chamada "remoção rápida" contra os brasileiros, medida que acelera a deportação e nega o direito à corte judicial.
A medida- aliada à volta da exigência de visto para a entrada no México, em outubro- fez com que o número de brasileiros detidos caísse vertiginosamente a partir de outubro. A redução foi comemorada publicamente por Bush no mês seguinte, em discurso.
Nos três primeiros meses deste ano, apenas 215 brasileiros foram presos vindos do México, segundo a Patrulha da Fronteira -média de apenas 2,3 casos por dia. O número de brasileiros cruzando, no entanto, deve ser maior, já que não é mais vantajoso se entregar.
O endurecimento também fez com que alguns brasileiros começassem a usar uma rota a partir da Guatemala. Dali, atravessam ilegalmente o México para chegar aos EUA.
A estimativa confirma que os imigrantes têm se espalhado cada vez mais pelo território americano. Embora a Califórnia, o Texas e a Flórida, destinos tradicionais, concentrem 47% dos "imigrantes não autorizados" -termo empregado pelo estudo-, o maior crescimento ocorreu no Estado da Geórgia, cuja capital, Atlanta, tem uma comunidade nova e crescente de brasileiros.
O aumento nesse Estado sulista com pouca tradição de absorver imigrantes foi de 114% entre 2000 e 2005, contra uma média nacional de 24%.
Por outro lado, a Califórnia continua abrigando a maior população ilegal, com 2,8 milhões de "não autorizados" -a imensa maioria, mexicanos. Mas a porcentagem californiana sobre total de ilegais no país caiu de 30% para 26%.


Próximo Texto: Pesquisa usou método "residual" em cálculo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.