São Paulo, quinta-feira, 19 de agosto de 2010

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Veto é medida política, afirma jornal

Editor do "El Nacional", de oposição, avalia que proibição a fotos violentas na Venezuela tem fins eleitorais

Para Miguel Henrique Otero, governo Chávez quer impedir acesso a informações sobre questões de segurança


Jorge Silva/Reuters
Capa do jornal venezuelano "El Nacional" traz a inscrição "censurado" no lugar de imagem vetada após decisão judicial

DE CARACAS

Miguel Henrique Otero, presidente e editor-chefe do jornal "El Nacional", diz que decidiu publicar a foto com corpos acumulados no necrotério de Caracas, na sexta-feira passada, "para que o governo se movimentasse, fizesse algo" para reagir aos "explosivos" índices de violência do país.
Para Otero, que dirige um jornal de aberta oposição ao governo, o veto judicial é uma "medida política", tomada em contexto eleitoral, que pretende bloquear o acesso a informações sobre insegurança, que é o que "provoca a queda da popularidade do presidente" Hugo Chávez. "Em nível mundial, isso é um alerta vermelho que se volta para a Venezuela." (FLÁVIA MARREIRO)

Folha - Como o sr. avalia a decisão judicial [de proibir a publicação de fotos violentas]?
Miguel Enrique Otero
- É uma arbitrariedade. Foram muitos os momentos duros que enfrentamos nesses 11 anos de governo Chávez. Ataques terroristas, a retirada de toda a publicidade oficial, o que foi um golpe duro à época. Essa é a primeira ação de censura prévia que sofremos e é muito grave.

O que jornal vai fazer?
Vamos recorrer judicialmente, mas tendo claro as limitações desse recurso na Venezuela. Recebemos a solidariedade de toda a imprensa, e amanhã [hoje] o Bloco de Imprensa [similar à Associação Nacional de Jornais] vai se reunir e pode tomar uma decisão coletiva de desacato a essa medida arbitrária. Em nível mundial, isso é um alerta vermelho que se volta para a Venezuela.
Trata-se de uma decisão política proibir a publicação de fotos sobre o tema que provoca a queda da popularidade do presidente nas pesquisas. Começou com o "El Nacional", mas afeta todos os meios de comunicação. A proibição é por 30 dias, em plena campanha eleitoral. O governo ainda não pode fazer "cadeia obrigatória" com os meios impressos ainda. Mas quem sabe inventam.

O sr. disse que a foto é "forte", e a ONG Repórteres Sem Fronteiras disse que publicá-la levanta dúvida sobre a "responsabilidade" dos meios de comunicação . Porque decidiu publicá-la?
A publicação dessa foto não faz parte da nossa linha editorial, e por isso a tínhamos guardado desde dezembro. Mas decidimos publicá-la porque, em primeiro lugar, as cifras de violência são explosivas. Só nas duas últimas semanas entraram 200 corpos no necrotério de Caracas, a maioria por morte violenta.
Depois, houve a repercussão do documentário "Guardiães de Chávez" [da TV Espanhola], que fala de grupos paramilitares do chavismo. O ex-ministro de Comunicação e hoje presidente da Telesur [num programa da CNN Espanhol, na semana passada], Andrés Izarra, ria, dava gargalhadas, diante das cifras de violência. Então, tomamos essa uma decisão editorial, para que o governo se movimentasse, fizesse algo.


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