São Paulo, quarta, 19 de agosto de 1998

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DISPUTA DE FRONTEIRA
Países vão aceitar a proposta brasileira de transformar em parque ecológico a área em litígio
Peru e Equador acertam itens de acordo

RUI NOGUEIRA
da Sucursal de Brasília

RENATA GIRALDI
da Sucursal de Brasília

O Brasil e os demais países garantes (Estados Unidos, Argentina e Chile) terão de enviar mais tropas para a região da fronteira em litígio entre o Peru e o Equador. Apesar desse aumento da presença militar, o acordo de paz nunca esteve tão perto de ser fechado.
A Folha apurou que Peru e Equador vão mesmo aceitar a solução de transformar os 78 quilômetros disputados, na cordilheira do Condor (região amazônica), em um parque ecológico administrado por uma comissão mista composta por representantes dos dois governos.
No final de maio, durante um encontro de FHC com Fujimori, em Brasília, chegou-se a temer pelo fim da proposta de criação do parque. Por um erro da assessoria de imprensa do Planalto, a proposta vazou. Isso irritou peruanos e equatorianos.
O número de militares da Momep (Missão de Observadores Militares Equador-Peru) vai aumentar porque, pelo acordo firmado na semana passada, a área a vigiar cresceu em mais 600 km2 -as tropas dos garantes já estão em 400 km2.
A nova região sob observação da Momep fica 18 quilômetros ao sul dos 400 km2 situados na cordilheira do Condor. Os militares vão ficar no meio das patrulhas equatorianas e peruanas para tentar evitar que qualquer atrito deite a perder as negociações diplomáticas em curso.
Dos quatro acordos em negociação, dois estão praticamente fechados: o da integração fronteiriça (que é negociado em Washington) e o da segurança e confiança mútua (negociado em Santiago). A corrida contra o tempo é para fechar os acordos de delimitação de fronteiras (negociado em Brasília) e o de navegação (Buenos Aires).

Resistências
O governo equatoriano ainda faz objeções aos locais dos marcos físicos a serem colocados no futuro parque. O governo peruano preferia a criação de uma reserva ambiental, sem limites fronteiriços.
Há também, por parte dos peruanos, restrições ao monumento dedicado à paz, sugerido pelos países garantes (Brasil, EUA, Argentina e Chile).
Para tentar garantir que as negociações diplomáticas não sejam interrompidas pelos atritos militares registrados 15 dias atrás, o presidente Fernando Henrique Cardoso escreveu aos chefes de Estado dos dois países, Alberto Fujimori (Peru) e Jamil Mahuad (Equador).
A Mahuad pediu que o país abandonasse a idéia de prorrogar as negociações sem data-limite para um acordo final. O presidente equatoriano pediu prazo de duas semanas para negociar com os setores nacionalistas, que resistem a alguns detalhes do acordo.
A carta a Fujimori foi entregue, pessoalmente, pelo ministro-chefe do Emfa brasileiro (Estado-Maior das Forças Armadas), o general Benedito Leonel, na quarta-feira da semana passada.
FHC afirmou a Fujimori que há empenho para que as negociações não sejam adiadas e pediu que o governo peruano compreendesse as dificuldades internas existentes no Equador para alcançar o consenso.

Soberania
FHC também pediu a Fujimori que desistisse da idéia dos chefes militares peruanos de simplesmente afastar os militares equatorianos da nova área em litígio -o Equador poderia entender esse gesto como uma interferência na soberania do país, uma vez que o acordo final ainda não está assinado e equatorianos e peruanos têm os mesmos direitos de transitar na região.
Nessa área, onde os observadores da Momep serão postados entre equatorianos e peruanos, chegaram a ser feridos pelo menos um oficial e um cabo das Forças Armadas do Peru.



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