São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 2002

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GUERRA À VISTA

Casa Branca força Legislativo dos EUA a autorizar ofensiva contra o Iraque antes que a ONU decida sobre o assunto

Bush cobra aval do Congresso para ataque

DA REDAÇÃO

A Casa Branca pressionou ontem o Congresso dos EUA a conceder autorização para um ataque ao Iraque antes mesmo que o Conselho de Segurança (CS) da ONU se decida a respeito.
Diante do racha no CS sobre uma ação contra o Iraque, surgido depois que Bagdá aceitou a volta dos inspetores de armas, o presidente dos EUA, George W. Bush, disse que enviará nos próximos dias ao Congresso do país um pedido de autorização para uma ação militar.
"[Aprovar a ofensiva" será um sinal importante para o mundo de que este país está unido em sua vontade de encarar as ameaças que enfrenta", disse Bush.
Pouco depois, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, pediu aos parlamentares que se antecipassem à ONU. "Atrasar a votação no Congresso daria a impressão de que os EUA não estão preparados para um ataque, justamente quando pedimos uma ação à comunidade internacional."
Sua exposição no Congresso foi interrompida por um pequeno grupo de manifestantes que levava cartazes contra uma ação militar e gritava "inspeções sim, guerra não". Eles acabaram sendo retirados à força do local.
As lideranças democrata e republicana manifestaram apoio à intenção do governo de colocar a questão em votação antes do início do recesso parlamentar, em 5 de outubro. Mas alguns congressistas admitem que ainda há dúvidas sobre o tema.
"Há alguma ameaça iminente agora ou nos próximos anos de que Saddam esteja pronto para usar armas de destruição em massa? Não tenho visto isso", disse o deputado democrata Jim Langevin. "Não estou interessado em aprovar uma resolução que pode dar carta branca para o governo".
O líder do Partido Democrata no Senado, Tom Daschle, disse confiar que o Congresso americano e a ONU chegarão a uma posição única. "Temos de insistir em inspeções abertas e na destruição das armas de destruição em massa", afirmou ele, que chamou a oferta iraquiana de "truque".

Plano B
Na segunda-feira, o governo do ditador iraquiano, Saddam Hussein, anunciou que permitirá a volta das inspeções de armas da ONU ao país, sem condições. As inspeções, determinadas após a Guerra do Golfo (1991), haviam sido suspensas em 1998, após o Iraque acusar os inspetores de espionar para os EUA.
A oferta iraquiana foi bem-recebida na ONU, mas os EUA pressionam o CS a aprovar uma resolução que permita uma ação caso as inspeções fracassem.
A Rússia, um dos cinco membros permanentes do CS, com poder de veto, se opôs a uma nova resolução. A França, outro membro permanente, considera que a ONU deva "testar" antes o compromisso expresso por Saddam, enviando os inspetores.
Bush disse acreditar que a oferta de Saddam Hussein venha a ser vista pelo CS da ONU como um "truque" para evitar uma guerra.
"Estou convencido de que, se continuarmos a mostrar que [Saddam] engana e desafia, os países que se preocupam em manter a paz e a validade da ONU se juntarão a nós."
A Casa Branca diz não ter um plano alternativo para o caso de o esforço diplomático na ONU fracassar, mas funcionários do governo dizem que Bush mantém a intenção de agir unilateralmente nesse caso. "Não há plano B. Ainda estamos no plano A, que é trabalhar para conseguir uma resolução da ONU", afirmou Sean McCormack, porta-voz do Conselho Nacional de Segurança.
O porta-voz da Casa Branca Ari Fleischer disse que a oferta para inspeções foi inadequada porque não atende a outras demandas da ONU ao Iraque. Ele disse que Bagdá mente ao dizer que não tem armas de destruição em massa.
"Nenhum Estado terrorista representa uma ameaça maior e mais imediata para a segurança de nossos cidadãos e para a estabilidade do mundo que o regime de Saddam Hussein no Iraque", afirmou Rumsfeld durante seu discurso no Congresso.
O vice-premiê iraquiano, Tareq Aziz, disse que o discurso de Rumsfeld prova que o governo americano não está preocupado com armas de destruição em massa e só quer um pretexto para atacar o Iraque.
"Esperamos que o mundo não ceda às ameaças americanas", disse. Segundo ele, o Iraque vai cumprir todos os compromissos anunciados na carta enviada à ONU na segunda-feira.
Os EUA e o Reino Unido estão preparando um rascunho para uma nova resolução da ONU que autorize o uso da força caso Bagdá não cumpra com suas resoluções anteriores, segundo fontes diplomáticas. O texto deve ser apresentado até a próxima semana.
O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, deve intensificar seus contatos diplomáticos para convencer os membros do CS da ONU a aprovar a resolução.
O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, disse ontem que a ameaça de ação militar deve existir mesmo se as inspeções acontecerem. "Temos de continuar pressionando. Ninguém deve ter nenhuma dúvida", disse. "Não é porque Saddam quer deixar os inspetores voltarem [que a pressão deve acabar". Foi a pressão que o forçou a essa posição."


Com agências internacionais


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