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Livro faz tanto estrago quanto um carro-bomba
VITOR PAOLOZZI
DA REDAÇÃO
Certamente quando disse que
Seymour Hersh era "a coisa mais
próxima de um terrorista que
existe no jornalismo americano",
Richard Perle, ex-assessor do presidente George W. Bush, não tinha a menor intenção de fazer um
elogio. Mas a frase enobrece como
uma medalha no peito, e o livro
que o veterano jornalista está lançando agora é mais uma prova de
que ele pode causar tantos estragos na Casa Branca quanto alguns
carros-bombas no Iraque.
"Cadeia de Comando - A Guerra de Bush, do 11 de Setembro às
Torturas de Abu Ghraib" (ed.
Ediouro, 398 págs.) é um ataque
tão contundente à administração
do 43º presidente americano
quanto o filme "Fahrenheit 11 de
Setembro", mas sem as pirotecnias habituais de Michael Moore.
Terminado no mês passado, o
livro, ao mesmo tempo em que
recapitula fracassos militares e
dos serviços de inteligência -que
fazem o leitor se perguntar se por
acaso o inspetor Clouseau não recebeu o seu treinamento nos
EUA-, apresenta informações
novas. Hersh sustenta que o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, e a assessora para Segurança
Nacional, Condoleezza Rice, foram alertados em 2002 e 2003 sobre os excessos em Guantánamo.
A maior parte das críticas arrasadoras a Bush e sua equipe está
na boca de incontáveis funcionários da CIA, do FBI, da Casa Branca e de outros órgãos governamentais que não têm seus nomes
revelados. "Há honra nesse anonimato", diz Hersh ao explicar
que eles não podem ser identificados "por razões óbvias".
O que dá força às informações
reveladas é a credibilidade do jornalista, construída com os furos
acumulados em décadas de carreira -como a denúncia do massacre de My Lai na Guerra do
Vietnã, em 1968.
No último capítulo, Hersh faz
uma avaliação da situação no
Oriente Médio após o 11 de Setembro. "As coisas não saíram como planejado. O terrorismo, em
vez da democracia, se espalha
agora pela região. [Arábia Saudita, Irã, Síria, Israel e Turquia] foram diretamente afetados pelo
caos na região, para o qual o governo Bush parece ter poucas respostas. O resultado: tensão e perigo agravados."
Apesar de a história no Iraque
estar longe do fim, "Cadeia de Comando" é forte o suficiente para
no futuro ser visto como um retrato definidor do período e do
governo Bush, com a mesma autoridade que "Todos os Homens
do Presidente", de Carl Bernstein
e Bob Woodward, narra Watergate e a queda de Richard Nixon.
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