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AMÉRICAS
Novo secretário-geral, o costarriquenho Miguel Angel Rodríguez quer acabar com a imagem de irrelevante do órgão
OEA faz cortes e busca estrutura "realista"
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Em uma cidade obcecada com a
pontualidade como Washington,
a OEA (Organização dos Estados
Americanos) tem fama de viver
em um fuso horário diferente e de
habitar uma espécie de ""túnel do
tempo" na eficiente capital norte-americana.
Com reuniões gerais difíceis de
começar na hora marcada e com
uma estrutura inchada, a OEA foi
sacudida na semana passada com
a posse de seu novo secretário-geral, o costarriquenho Miguel Angel Rodríguez, 64.
Ex-presidente ""pró-mercado"
da Costa Rica entre 1998 e 2002,
Rodríguez assumiu a OEA na
quarta-feira. No mesmo dia, demitiu 13 de seus 26 diretores e cortou salários individuais da diretoria em até US$ 40 mil ao ano.
Como exemplo, o novo secretário-geral também reduziu seus
próprios vencimentos em 10%.
"Pode estar certo que, em todas
as reuniões que eu estiver presente, serei sempre pontual", afirmou
Rodríguez em entrevista à Folha
na sexta-feira.
"Aproveitei a renúncia de praxe
do pessoal de confiança no início
de cada nova administração para
criar uma estrutura mais simples
e organizada", afirma.
Déficits
A medida radical tem o objetivo
de tirar a OEA de uma crise financeira que projeta um déficit de
US$ 1 milhão neste ano e de US$ 5
milhões em 2005. As decisões da
semana passada visam uma economia de US$ 2,3 milhões ao ano.
Dona de um orçamento anual
ao redor de US$ 100 milhões, a
OEA vinha gastando quase 70%
desse valor com seus cerca de 600
funcionários em suas três representações em Washington e nos
34 países americanos em que se
faz representar.
Com um sistema de reajuste salarial regular que segue o mesmo
padrão da ONU, a OEA chegou a
uma situação de ter de tomar dinheiro a juros em banco para cobrir os salários de seus funcionários. A mesma necessidade já levou o órgão a hipotecar um dos
seus três prédios em Washington.
Ao contrário dos salários, a contribuição anual de cada país para
financiar a organização tem se
mantido estagnada nos últimos
anos. No total, os EUA são o
maior contribuinte, com 40%, seguidos pelo Canadá (10%) e pelo
Brasil (5%). "O objetivo agora é
montar uma estrutura mais realista, pragmática e prática", ambiciona o costarriquenho.
As demissões levaram à criação
de quatro grandes áreas dentro da
organização, duas delas destinadas a cuidar de um tema crônico
na América Latina: a consolidação de democracias que não trazem benefícios econômicos a seus
participantes.
"Vivemos um período de desencanto com a democracia. Temos melhores políticas econômicas, mas sem os níveis de crescimento e de redução de pobreza
que esperávamos", diz.
Nesse contexto, Rodríguez afirma que o presidente brasileiro,
Luiz Inácio Lula da Silva, representa um "modelo extraordinário" para toda a região.
"Lula demonstra que é possível
ter uma posição de solidariedade
com os mais oprimidos e, ao mesmo tempo, manter uma grande
responsabilidade fiscal e políticas
econômicas que não descambem
para o populismo."
Rodríguez estará com Lula
amanhã na sede da ONU, em Nova York, para um encontro entre
os dirigentes de 56 países que debaterão o combate à fome e à pobreza mundial.
Outro dos objetivos da nova administração da OEA é unificar
programas e suas nomenclaturas
para tentar apagar o estigma de
que o órgão é pouco atuante ou
efetivo em seus programas.
Segundo Rodríguez, muitas das
iniciativas bancadas pelo órgão
hoje têm nomes e siglas que não
remetem à organização -o que
deve ser mudado.
A meta principal, porém, continuará sendo o saneamento financeiro. Com gastos fixos altos, tem
sido difícil aplicar os recursos do
órgão em suas prioridades.
Há alguns meses, por exemplo,
quando precisou estabelecer uma
missão para acompanhar o referendo eleitoral na Venezuela, a
OEA necessitou de ajuda financeira extra do Brasil e do Japão,
país-observador do organismo.
Na época, o Canadá também se
comprometeu a ajudar a bancar o
plebiscito, que confirmou o presidente Hugo Chávez no poder.
Mas, até agora, os canadenses não
entregaram o prometido.
No final de agosto, ainda sob o
comando do ex-secretário-geral
César Gaviria, a OEA realizou
uma reunião para avaliar o resultado do trabalho na Venezuela.
O evento ocorreu em seu edifício principal, uma construção
clássica com um imenso átrio repleto de plantas e cores tropicais
no centro de Washington.
O encontro, antecedido por calorosas conversas e abraços entre
latino-americanos presentes, começou com 45 minutos de atraso.
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