São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2010 |
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Após salto chinês, PIB de Cuba patina
Economia cresceu 9% ao ano até 2007, mas deve subir 2% neste ano, menos da metade da média continental
ÉRICA FRAGA DE SÃO PAULO O governo cubano publica dados relevantes sobre a economia apenas uma vez por ano e com defasagem. Analistas que acompanham o regime castrista sabem, no entanto, que em tempos de vacas gordas estatísticas vão "vazando" nos discursos de autoridades. Em 2010, o silêncio em relação a tais informações econômicas tem imperado. A leitura de especialistas sobre essa falta de referências é consensual: a economia claramente não vai bem. Depois de crescer em ritmo chinês (a uma média anual de 9%) entre 2004 e 2007, o PIB (Produto Interno Bruto) cubano entrou em desaceleração em 2008. Isso se acentuou com a crise financeira global de 2009, e tudo indica que o desempenho econômico ainda é fraco. Os problemas econômicos podem não ter sido o estopim das reformas anunciadas recentemente (a mais drástica é um plano para demitir 500 mil funcionários públicos ao longo do próximo ano). Mas aumentaram o senso de urgência de reforma. "Eles precisam fazer algo para crescer novamente. Isso é urgente", afirma Emily Morris, diretora do Centro de Pesquisa e Consultoria para o Caribe e a América Latina da Universidade Metropolitana de Londres. Ela ressalta que a economia do país -ao contrário de outras desenvolvidas e emergentes- não chegou a se contrair em 2009. Mas deve crescer só 2% em 2010, menos da metade da média esperada para a América Latina, de cerca de 5%. FUTURO DO REGIME Muitas dúvidas rondam o futuro de Cuba. A mais perene é sobre a capacidade de sobrevivência do regime. Segundo analistas, essa resposta só virá em muitos anos -mas o sucesso ou o fracasso das reformas recentes será determinante. A taxa de desemprego em Cuba é muito baixa, inferior a 2% desde 1996. Mas esse número reflete dois sérios problemas: a existência de um setor público inchado e o excesso de informalidade. Só são capturados nas estatísticas de desemprego os cubanos que preenchem registro de busca por emprego. Muitos não o fazem, pois as possibilidades de ganhos no setor informal da economia são maiores do que no setor público ou no mercado privado legal. As reformas têm visado esses problemas. A intenção é que atividades do setor público sejam transferidas para o privado, que absorveria os que serão demitidos. Ilustrativo foi o fechamento de cantinas para trabalhadores subsidiadas pelo governo. A ideia é estimular a formação de uma classe de donos de pequenos restaurantes. Segundo Morris, presume-se que o Estado fornecerá algum tipo de crédito a esses empreendimentos. O outro lado disso será trazer quem opera na informalidade para o setor privado legal, o que significa fazer com que esses cubanos passem a pagar impostos. "Os cubanos estão cansados da situação atual. Essas medidas tendem a aumentar as tensões", afirma Irenea Renuncio-Mateos, analista de Cuba da consultoria IHS Global Insight. Outros problemas, como a dependência do país do níquel, que representa 30% das exportações, também precisam ser atacados. A queda do preço da commodity em 2008 e 2009 contribuiu para a desaceleração da economia recentemente. Apesar dos desafios, a aposta de observadores é que o regime dos irmãos Castro consiga sobreviver ajudado por China e Venezuela. Próximo Texto: Entrevista: "Mudanças não foram novidade para cubanos' Índice | Comunicar Erros |
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