PAULO DANIEL FARAH
ENVIADO ESPECIAL AO VATICANO

O papa João Paulo 2º, 83, beatifica hoje Madre Teresa de Calcutá em um dos processos mais rápidos da história da Igreja Católica. Esperam-se até 400 mil fiéis de todas as partes do mundo em Roma, segundo a polícia, e já foram distribuídos mais de 280 mil convites para a cerimônia de hoje na praça de São Pedro.
Agnes Gonxha Bojaxhiu (nome de batismo de Madre Teresa) nasceu em 26 de agosto de 1910, em Skopje, na atual Macedônia. Em 1949, ela fundou em Calcutá, na Índia, a ordem Missionárias da Caridade, que fornece alimentos a 500 mil famílias, atende 90 mil pacientes com lepra e educa 20 mil crianças por ano.
Há tantas integrantes das Missionárias da Caridade na capital italiana atualmente e os conventos estão tão lotados que a irmã Nirmala, sucessora de Madre Teresa à frente da ordem, pediu que a defesa civil italiana providenciasse tendas para acomodar as que não encontram lugar.
Para que uma pessoa seja beatificada, é necessária a comprovação de um milagre, segundo os critérios do Vaticano. Em outubro do ano passado, a Congregação das Causas dos Santos, que analisa o caso, aprovou um milagre envolvendo uma mulher indiana de 31 anos, Monica Besra, que foi supostamente curada de um tumor no estômago depois que uma imagem de madre Teresa foi colocada sobre sua barriga e que rezaram para a religiosa.
A decisão de atestar o milagre foi tomada após uma reunião de membros da Congregação das Causas dos Santos com um painel de médicos consultado pelo Vaticano que disse não ter encontrado nenhuma explicação científica para a cura.
O caso, porém, é motivo de controvérsia em Calcutá, onde algumas pessoas rejeitam a tese do milagre.
Após a morte de madre Teresa, em 1997, quando ela tinha 87 anos, João Paulo 2º permitiu a aceleração do seu processo de beatificação, sem levar em conta o período de cinco anos exigido normalmente para o início do processo.
Os simpatizantes da religiosa pediram que o papa fizesse uma exceção e acelerasse o processo -iniciado em 1999, três anos antes do normal.
Foram enviados ao Vaticano mais de 70 volumes de documentos, com cerca de 35 mil páginas, para que o caso fosse estudado.
A beatificação pode durar décadas ou centenas de anos.
No caso do padre Anchieta, o processo de canonização se iniciou em 1617. O Vaticano demorou 363 anos para declarar Anchieta beato, em 1980. Os defensores da causa aguardam a comprovação de um milagre para que ele venha a ser santo.
A Igreja Católica leva em consideração a impressionante popularidade de Madre Teresa de Calcutá em diversas partes do mundo para acelerar sua beatificação e divulgá-la como modelo para os católicos.
"A mensagem dela é urgente no mundo contemporâneo. Ela estava sempre a serviço do homem, fosse ele cristão, hindu, muçulmano ou de qualquer outra religião. Mesmo não-cristãos fazem pedidos a ela. Beatificá-la é respeitar a dignidade dela", diz o cardeal português d. José Saraiva Martins, prefeito da Congregação das Causas dos Santos (leia entrevista ao lado).
As Missionárias da Caridade atuam em mais de 120 países, incluindo o Brasil, onde desenvolvem projetos há mais de 20 anos em Estados como Bahia, Amazonas, Sergipe e Rio.
Madre Teresa de Calcutá (1910-1997) recebeu o Prêmio Nobel da Paz de 1979.
"Nossa madre foi e sempre será uma santa para a Índia e para o mundo todo, pois sempre se entregou totalmente e ajudou a todos sem se preocupar com a religião ou a ideologia dos necessitados", afirma a missionária indiana Ancy M.C.
O sobrenome que adota (M.C., de Missionárias da Caridade) é o mesmo de milhares de integrantes da ordem religiosa fundada por Madre Teresa. "Demonstra nosso comprometimento com o ideal de ajudar os pobres e os enfermos", diz.
João Paulo 2º já beatificou e canonizou mais pessoas que todos os papas anteriores desde a fundação, em 1594, da Congregação das Causas dos Santos.
Enquanto seus predecessores nomearam 808 beatos e 296 santos, o atual líder católico realizou mais de 1.314 beatificações, incluindo as de 1.031 mártires, e 476 canonizações, incluindo as de 402 mártires, desde que foi eleito papa, em 1978.



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