São Paulo, terça-feira, 19 de outubro de 2004

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"ROMEU E JULIETA"

Blackwell e Ehdaa, que se casaram no Iraque, pretendem "contar tudo o que tiveram de enfrentar"

Ex-soldado e iraquiana querem escrever livro

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Morando nos EUA desde agosto, o ex-sargento da Guarda Nacional da Flórida Sean Blackwell, 28, e sua mulher, a iraquiana Ehdaa Alrays, 26, que ficaram conhecidos como "Romeu e Julieta do Iraque", planejam escrever um livro para contar sua história.
"Chegamos aos EUA em 13 de agosto. Pretendemos escrever um livro para contar a todos tudo o que tivemos de enfrentar", afirmou Ehdaa, por e-mail, à Folha. "Mas minha agente me pediu que ainda não explicasse os detalhes à mídia", acrescentou a médica iraquiana.
Ehdaa e o ex-sargento, que vivem hoje em Pensacola, na Flórida, se casaram em Bagdá, em agosto de 2003, quando Blackwell trabalhava na segurança do Ministério da Saúde do Iraque. Este, à época, era comandado pela coalizão anglo-americana, que depusera o ex-ditador Saddam Hussein em abril.
Em seguida, Blackwell recebeu punição das Forças Armadas por deixar sua patrulha sem autorização para casar-se com Ehdaa, sendo restrito à sua base. De acordo com o Exército, "ele não foi punido por casar-se, mas por descumprir seu dever militar".
Mais tarde, Blackwell sofreu uma repreensão formal e, em dezembro passado, foi desligado das Forças Armadas. "Sean chegou a Pensacola antes do Natal. Ficou aqui até 11 de fevereiro, quando foi à Jordânia para tratar do caso de Ehdaa", explicou Vickie McKee, mãe de Blackwell.
Segundo ela, apesar dos riscos para sua segurança, Ehdaa "permaneceu em Bagdá até 12 de fevereiro", quando rumou para Amã para reencontrar-se com o marido. Eles permaneceram seis meses na Jordânia, até a iraquiana obter um "green card".
"O casamento é válido nos EUA. Ehdaa já pode viver aqui, mas não deverá receber a cidadania americana tão cedo", explicou Richard Alvoid, advogado americano da médica.
Por outro lado, ele se mostrou cético, por ora, quanto à possibilidade de publicação do livro. "O casal quer pôr sua vida em ordem. No entanto ainda não houve acordo sobre um livro ou um filme por conta da situação no Iraque e de Abu Ghraib", disse Alvoid, aludindo ao escândalo sobre a tortura de detentos na prisão iraquiana.
De fato, a Guerra do Iraque não é um tema popular nos EUA atualmente, embora domine a campanha eleitoral.
Blackwell, que era cristão e aceitou converter-se ao islamismo para poder casar-se oficialmente no Iraque, afirmou que ainda pretende "formar-se em nutrição e viver tranqüilamente com Ehdaa na Flórida".


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