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Sindicalista é preso por tiros em funeral
Líderes peronistas trocam acusações por atos de violência no translado do corpo de Perón, em Buenos Aires
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
O dirigente sindical argentino Hugo Moyano, presidente
da CGT (Confederação Geral
do Trabalho) e responsável pela organização do segundo funeral do ex-presidente Juan
Domingo Perón -realizado anteontem em meio a tiros, pedradas e saldo de 50 feridos-,
disse que pessoas se infiltraram
no evento para armar confusão
e impedir a participação do
presidente Néstor Kirchner,
que esperava ser a maior estrela viva da festa peronista.
Ficou provado, porém, que o
homem que atirou contra a
multidão que esperava a chegada do corpo, era Emilio Quiroz,
sindicalista da CGT. O funcionário, flagrado por uma rede de
TV, entregou-se ontem, foi preso e indiciado por tentativa de
homicídio.
"Essas coisas não acontecem
por acaso. Querem apontar
contra Kirchner para frear a
mudança e a justiça", disse ontem o presidente, segundo a
agência France Presse.
Pessoas próximas do governo relacionaram o episódio a
setores peronistas ligados ao
ex-presidente Eduardo Duhalde -o único dos líderes do Partido Justicialista (peronista)
que conseguiu anteontem brilhar com Perón, ao comparecer
a uma bênção ao corpo na CGT.
Estragos
O Museu Histórico 17 de Outubro, onde agora descansa Perón, que presidiu por três vezes
a Argentina, amanheceu arrasado após o ato que pretendia
homenagear o general.
Em 17 de outubro de 1945,
Perón, que havia sido preso pelo governo militar, foi libertado
após forte pressão popular. Foi
quando ele fez seu primeiro
discurso na Casa Rosada e ficou
conhecido nacionalmente. O 17
de Outubro é a principal data
peronista, o Dia da Lealdade.
A sede do museu, a bela quinta de 19 hectares que pertenceu
a Perón na cidade de San Vicente (sul de Buenos Aires), refúgio do general, cheia de áreas
verdes e estradinhas rodeadas
por eucaliptos, computava ontem os prejuízos.
Foi feita perícia para identificar os responsáveis pelo vandalismo, que destruiu parte do
mausoléu de US$ 1,1 milhão e
até um carro Fiat da coleção de
Perón. Peças que pertenceram
ao general foram roubadas.
A Folha visitou o local anteontem e assistiu a brigas e
atos de violência entre sindicalistas que deixaram pelo menos
50 feridos. Antes, havia um
grande palco montado e pessoas distribuindo santinhos do
presidente Néstor Kirchner e
do governador da Província de
Buenos Aires, Felipe Solá, que
buscam a reeleição em 2007.
Estava tudo pronto para o palanque de Kirchner. Com a violência, o presidente não compareceu ao funeral.
Desde anteontem, o clima
era de ressaca moral em Buenos Aires. O motorista do táxi
que transportou a reportagem
após a visita a San Vicente dirigiu parte do tempo chorando
-disse que era "raiva", pois era
"uma vergonha para a Argentina o mundo inteiro assistir esse espetáculo". Ele não quis se
identificar.
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