São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006

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Sindicalista é preso por tiros em funeral

Líderes peronistas trocam acusações por atos de violência no translado do corpo de Perón, em Buenos Aires

BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

O dirigente sindical argentino Hugo Moyano, presidente da CGT (Confederação Geral do Trabalho) e responsável pela organização do segundo funeral do ex-presidente Juan Domingo Perón -realizado anteontem em meio a tiros, pedradas e saldo de 50 feridos-, disse que pessoas se infiltraram no evento para armar confusão e impedir a participação do presidente Néstor Kirchner, que esperava ser a maior estrela viva da festa peronista.
Ficou provado, porém, que o homem que atirou contra a multidão que esperava a chegada do corpo, era Emilio Quiroz, sindicalista da CGT. O funcionário, flagrado por uma rede de TV, entregou-se ontem, foi preso e indiciado por tentativa de homicídio.
"Essas coisas não acontecem por acaso. Querem apontar contra Kirchner para frear a mudança e a justiça", disse ontem o presidente, segundo a agência France Presse.
Pessoas próximas do governo relacionaram o episódio a setores peronistas ligados ao ex-presidente Eduardo Duhalde -o único dos líderes do Partido Justicialista (peronista) que conseguiu anteontem brilhar com Perón, ao comparecer a uma bênção ao corpo na CGT.

Estragos
O Museu Histórico 17 de Outubro, onde agora descansa Perón, que presidiu por três vezes a Argentina, amanheceu arrasado após o ato que pretendia homenagear o general.
Em 17 de outubro de 1945, Perón, que havia sido preso pelo governo militar, foi libertado após forte pressão popular. Foi quando ele fez seu primeiro discurso na Casa Rosada e ficou conhecido nacionalmente. O 17 de Outubro é a principal data peronista, o Dia da Lealdade.
A sede do museu, a bela quinta de 19 hectares que pertenceu a Perón na cidade de San Vicente (sul de Buenos Aires), refúgio do general, cheia de áreas verdes e estradinhas rodeadas por eucaliptos, computava ontem os prejuízos.
Foi feita perícia para identificar os responsáveis pelo vandalismo, que destruiu parte do mausoléu de US$ 1,1 milhão e até um carro Fiat da coleção de Perón. Peças que pertenceram ao general foram roubadas.
A Folha visitou o local anteontem e assistiu a brigas e atos de violência entre sindicalistas que deixaram pelo menos 50 feridos. Antes, havia um grande palco montado e pessoas distribuindo santinhos do presidente Néstor Kirchner e do governador da Província de Buenos Aires, Felipe Solá, que buscam a reeleição em 2007. Estava tudo pronto para o palanque de Kirchner. Com a violência, o presidente não compareceu ao funeral.
Desde anteontem, o clima era de ressaca moral em Buenos Aires. O motorista do táxi que transportou a reportagem após a visita a San Vicente dirigiu parte do tempo chorando -disse que era "raiva", pois era "uma vergonha para a Argentina o mundo inteiro assistir esse espetáculo". Ele não quis se identificar.


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