São Paulo, quarta-feira, 19 de outubro de 2011

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Hamas rouba a festa nas boas-vindas aos presos palestinos

Acordo com Israel é celebrado como triunfo do grupo islâmico mesmo no quartel-general do adversário Fatah

Em 54 anos, diz jornal, israelenses soltaram 13.509 para reaver 16 militares, média de 800 palestinos por soldado

DO ENVIADO A RAMALLAH

Condenado a duas penas de prisão perpétua por terrorismo, Hamza Abu Arqub, 32, fez questão de sair da prisão israelense em que estava havia nove anos usando na cabeça uma faixa verde do movimento islâmico Hamas.
"Devemos a nossa liberdade aos guerreiros do Hamas em Gaza que capturaram o soldado israelense", exultava Hamza, em meio à grande festa montada em Ramallah (Cisjordânia) para recepcionar parte dos prisioneiros palestinos libertados ontem. Embora realizada na Moqata, a sede da Autoridade Nacional Palestina e do grupo secular Fatah, o dono da festa era o rival islâmico. Em Gaza, controlada pelo Hamas, a festa foi ainda maior.
No quartel-general do Fatah, bandeiras verdes tremulavam ontem como jamais ocorrera nos últimos anos, em um sinal de que o Hamas sai como vitorioso do acordo.
Num palanque montado no pátio da Moqata, políticos do Fatah se revezaram em discursos de boas-vindas aos prisioneiros, até que chegou a vez do presidente palestino, Mahmoud Abbas.
Em contraste com o fugaz momento de herói que Abbas teve há poucas semanas, quando discursou na ONU pedindo o reconhecimento da Palestina, ontem suas palavras tiveram pouco eco. As atenções estavam voltadas para a fileira de ônibus que trouxe parte dos 477 prisioneiros libertados.
Pouco mais de 100 deles vieram para a Cisjordânia, enquanto a maioria era enviada para a faixa de Gaza. Pelo acordo entre Israel e o Hamas, em dois meses mais 550 serão postos em liberdade, totalizando 1.027 palestinos em troca do israelense. Foi o preço mais alto já pago por Israel por um soldado. Alto, mas longe de ser uma anomalia histórica.
Pelas contas do colunista Bradley Burston, do jornal "Haaretz", nas nove trocas de prisioneiros feitas nos últimos 54 anos, Israel libertou 13.509 para reaver 16 soldados -uma média de 800 por soldado, não muito menos do que o preço pago por Shalit. Em Gaza, líderes do Hamas aproveitaram a festa para exaltar o triunfo político.
Diante da multidão, o presidente do governo de Gaza, Ismail Haniyeh, disse que o acordo é uma derrota para Israel e marca "uma virada estratégica no conflito". (MN)


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