São Paulo, segunda-feira, 19 de novembro de 2007

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Irã "estuda" enriquecer urânio na Suíça

No que seria um novo blefe, Ahmadinejad diz que integraria consórcio árabe, proposto pelos sauditas

DA REDAÇÃO

O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse ontem à agência Dow Jones Newswires que "conversará com dirigentes árabes" sobre a proposta de um consórcio regional para o enriquecimento de urânio, capaz de abastecer de combustível os reatores que seu país pretende construir.
Ahmadinejad levantou a possibilidade de o combustível ser produzido "num país neutro" e citou nominalmente a Suíça.
Ainda ontem, em entrevista ao semanário "NZZ am Sonntag", a presidente suíça, Micheline Calmy-Rey, afirmou que a neutralidade de seu país permitiria que ele intermediasse para pôr fim ao impasse criado pelo programa nuclear iraniano.
"As grandes potências não foram até agora capazes de forçar o Irã a deixar de enriquecer urânio", afirmou. Ela também disse que a Suíça se opõe à proliferação de tecnologia nuclear, mas reconhece aos iranianos o direito de manter um programa nuclear com fins pacíficos.

Mais um blefe?
É impossível afirmar até que ponto o presidente iraniano não está estimulando um novo blefe diplomático. Na última quinta-feira, quando foi divulgado o relatório da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), com dúvidas e uma formulação ambígua sobre os projetos atômicos de seu país, por 48 horas ele reiterou que não abriria mão do controle do ciclo completo do átomo, que prevê o enriquecimento de urânio -a agência da ONU disse que seu país já dispõe de 3.000 centrífugas instaladas.
Ter mudado repentinamente de opinião em razão da Suíça, um país com baixíssimo poder de pressão, seria algo de certo modo inacreditável.
Em 2005 a Rússia propôs a Teerã a criação de uma empresa binacional para a produção de combustível que funcionaria em seu território. Depois de meses "estudando cuidadosamente" a idéia, o Irã anunciou que prosseguiria enriquecendo seu próprio urânio.
Agora Ahmadinejad se referiu a uma iniciativa da Arábia Saudita, onde ele se encontrava ontem para participar de reunião dos integrantes da Opep, o cartel do petróleo.

Consórcio no Golfo
O ministro saudita das Relações Exteriores, príncipe Saud al Faiçal, em entrevista ao "Middle East Economic Digest", afirmou há duas semanas que seria sensato que os países do Oriente Médio se juntassem num consórcio para a produção de urânio enriquecido.
O mecanismo seria coordenado pelo Conselho de Cooperação do Golfo, organismo integrado por seis países árabes, ao qual Teerã poderia aderir (o Irã é muçulmano, mas não é árabe). Foi o príncipe Faiçal que mencionou a eventual instalação da usina do consórcio num país neutro como a Suíça.
A AIEA só agora recebeu detalhes sobre o programa clandestino de enriquecimento de urânio que os iranianos desenvolveram por 18 anos. Trata-se de um projeto que aos poucos ganhou o peso de plataforma capaz de unificar tendências políticas e confessionais naquele Estado islâmico.
Se for levada adiante a idéia de produzir combustível por meio do consórcio -e nada por enquanto indica ser esse o caso-, o Irã estaria automaticamente debaixo de mecanismos de controle que evitariam o desvio de material para a produção da bomba atômica. É o temor dos Estados Unidos, de Israel e do Conselho de Segurança, que já votou contra aquele país islâmico dois pacotes de sanções e se prepara para votar um terceiro.


Com agências internacionais


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