São Paulo, segunda-feira, 19 de novembro de 2007

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China impulsiona modernização militar

Gastos chineses com defesa já igualam ou até superam os japoneses; ao contrário do Japão, porém, equipamentos ainda são obsoletos

Crescimento é devido ao aumento dos salários de militares e capacitação tecnológica; especialistas divergem sobre "ameaça"

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O aumento dos gastos chineses com defesa deve ou não preocupar o mundo, e mais especificamente os vizinhos do gigante país asiático? Especialistas em assuntos asiáticos e de segurança não chegaram a um consenso durante conferência na semana passada no Rio.
Os gastos têm acompanhado a fenomenal pujança econômica do país. Há quem diga que a maior integração e a dependência da economia chinesa com o resto do mundo militam pela paz. Iniciar conflitos traria um alto e imprevisível custo para a economia chinesa.
Mas ao mesmo tempo, a história tem mostrado que o aumento da influência de uma potência costuma trazer também uma certa arrogância política. E com isso vem a tentação de usar o poderio militar.
"O perigo é maior para os países vizinhos", diz o americano Craig Deare, pesquisador da National Defense University, de Washington. Deare lembra que a China já se envolveu em conflitos no passado com praticamente todos os vizinhos.
Outros pesquisadores reunidos na 4ª Conferência do Forte de Copacabana preferiram apostar na maior integração da economia chinesa como fator capaz de manter a paz. Os chineses são vorazes compradores de bônus do governo americano. A hipótese de guerra com os EUA seria loucura.
São os EUA justamente quem mais se preocupam com o crescente poderio chinês. A única superportência militar hoje no planeta está sempre alerta para o surgimento ou renascimento de rivais militares.

Gastos japoneses
O crescimento da economia chinesa permitu ao país aumentar paralelamente os gastos com defesa, ao ponto de igualarem ou mesmo superarem os do Japão (há muita disputa sobre o real valor dos gastos). Apesar de sua postura defensiva desde a derrota na Segunda Guerra, as forças militares japonesas são as mais eficientes da Ásia, pois são lastreadas pela segunda maior economia do planeta.
As Forças Armadas japonesas são relativamente pequenas -260 mil homens-, mas são altamente tecnológicas, equipadas com armamento moderno em nada devedor ao dos EUA. Já os 2,3 milhões de soldados, marinheiros e aviadores da China ainda contam na maior parte com equipamento obsoleto se comparado ao americano, japonês ou da Europa Ocidental.
Wang Zaibang, vice-presidente dos Institutos de Relações Internacionais Contemporâneas da China, de Pequim, disse no encontro no Rio que um dos motivos do aumento dos gastos chineses foi o aumento de salários do pessoal das Forças Armadas. O aumento foi necessário para acompanhar os maiores salários pagos no mundo civil.
Os chineses também estão lentamente melhorando a capacitação tecnológica do seu setor de defesa. A maior sofisticação tecno-científica permite forças mais poderosas e mais enxutas.
Basta ver que o apogeu numérico das Forças Armadas chinesas ocorreu logo ao final da Guerra da Coréia (1950-1953), na qual a China e a Coréia do Norte lutaram contra os EUA e seus aliados. Havia então 6,3 milhões de homens e mulheres nas forças chinesas.

"1,5 problema"
Luiz Augusto de Castro Neves, embaixador brasileiro na China, presente na conferência, também salientou essa melhora tecnológica para explicar o aumento de gastos militares da China. O chinês Wang Zaibang, obviamente, salientou o papel "defensivo" do armamentismo chinês.
A China, porém, tem "1,5 problema diplomático", segundo Gudrun Wacker, diretora do Departanento de Ásia do SWP, instituto alemão de estudos internacionais e de segurança, de Berlim. O "1" é Taiwan, o "0,5" é o Japão.
A maior fonte de tensão no leste asiático é a insistência chinesa em reaver Taiwan, considerada uma Província rebelde. Já o Japão, que invadiu, devastou e massacrou milhões na China durante a Segunda Guerra, não chega a ser um alvo de potenciais aventuras militares, mas é fonte de crises políticas ocasionais. Em geral, provocadas pela obstinação de alguns políticos japoneses mais nacionalistas em não reconhecer o lastimável papel do país na China durante a guerra.
Taiwan está na mira de centenas de mísseis e aviões chineses. A marinha chinesa, antes uma força estritamente costeira, cada vez mais ganha status oceânico, "de águas azuis". Com isso a China passa a ter mais condições de invadir a ilha rival, cuja existência como entidade política autônoma - "independente" de fato, mas não oficialmente - depende da garantia militar americana.


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