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China impulsiona modernização militar
Gastos chineses com defesa já igualam ou até superam os japoneses; ao contrário do Japão, porém, equipamentos ainda são obsoletos
Crescimento é devido ao aumento dos salários de militares e capacitação tecnológica; especialistas divergem sobre "ameaça"
RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
O aumento dos gastos chineses com defesa deve ou não
preocupar o mundo, e mais especificamente os vizinhos do
gigante país asiático? Especialistas em assuntos asiáticos e de
segurança não chegaram a um
consenso durante conferência
na semana passada no Rio.
Os gastos têm acompanhado
a fenomenal pujança econômica do país. Há quem diga que a
maior integração e a dependência da economia chinesa com o
resto do mundo militam pela
paz. Iniciar conflitos traria um
alto e imprevisível custo para a
economia chinesa.
Mas ao mesmo tempo, a história tem mostrado que o aumento da influência de uma potência costuma trazer também uma certa arrogância política.
E com isso vem a tentação de
usar o poderio militar.
"O perigo é maior para os países vizinhos", diz o americano
Craig Deare, pesquisador da
National Defense University,
de Washington. Deare lembra
que a China já se envolveu em
conflitos no passado com praticamente todos os vizinhos.
Outros pesquisadores reunidos na 4ª Conferência do Forte
de Copacabana preferiram
apostar na maior integração da
economia chinesa como fator
capaz de manter a paz. Os chineses são vorazes compradores
de bônus do governo americano. A hipótese de guerra com os
EUA seria loucura.
São os EUA justamente
quem mais se preocupam com
o crescente poderio chinês. A
única superportência militar
hoje no planeta está sempre
alerta para o surgimento ou renascimento de rivais militares.
Gastos japoneses
O crescimento da economia
chinesa permitu ao país aumentar paralelamente os gastos com defesa, ao ponto de
igualarem ou mesmo superarem os do Japão (há muita disputa sobre o real valor dos gastos). Apesar de sua postura defensiva desde a derrota na Segunda Guerra, as forças militares japonesas são as mais eficientes da Ásia, pois são lastreadas pela segunda maior
economia do planeta.
As Forças Armadas japonesas são relativamente pequenas
-260 mil homens-, mas são
altamente tecnológicas, equipadas com armamento moderno em nada devedor ao dos
EUA. Já os 2,3 milhões de soldados, marinheiros e aviadores
da China ainda contam na
maior parte com equipamento
obsoleto se comparado ao americano, japonês ou da Europa
Ocidental.
Wang Zaibang, vice-presidente dos Institutos de Relações Internacionais Contemporâneas da China, de Pequim, disse no encontro no Rio que
um dos motivos do aumento
dos gastos chineses foi o aumento de salários do pessoal
das Forças Armadas. O aumento foi necessário para acompanhar os maiores salários pagos
no mundo civil.
Os chineses também estão
lentamente melhorando a capacitação tecnológica do seu
setor de defesa. A maior sofisticação tecno-científica permite
forças mais poderosas e mais
enxutas.
Basta ver que o apogeu numérico das Forças Armadas
chinesas ocorreu logo ao final
da Guerra da Coréia (1950-1953), na qual a China e a Coréia do Norte lutaram contra os
EUA e seus aliados. Havia então 6,3 milhões de homens e
mulheres nas forças chinesas.
"1,5 problema"
Luiz Augusto de Castro Neves, embaixador brasileiro na
China, presente na conferência, também salientou essa melhora tecnológica para explicar
o aumento de gastos militares
da China. O chinês Wang Zaibang, obviamente, salientou o
papel "defensivo" do armamentismo chinês.
A China, porém, tem "1,5
problema diplomático", segundo Gudrun Wacker, diretora do
Departanento de Ásia do SWP,
instituto alemão de estudos internacionais e de segurança, de
Berlim. O "1" é Taiwan, o "0,5" é
o Japão.
A maior fonte de tensão no
leste asiático é a insistência chinesa em reaver Taiwan, considerada uma Província rebelde.
Já o Japão, que invadiu, devastou e massacrou milhões na
China durante a Segunda Guerra, não chega a ser um alvo de
potenciais aventuras militares,
mas é fonte de crises políticas
ocasionais. Em geral, provocadas pela obstinação de alguns
políticos japoneses mais nacionalistas em não reconhecer o
lastimável papel do país na China durante a guerra.
Taiwan está na mira de centenas de mísseis e aviões chineses. A marinha chinesa, antes
uma força estritamente costeira, cada vez mais ganha status
oceânico, "de águas azuis".
Com isso a China passa a ter
mais condições de invadir a ilha
rival, cuja existência como entidade política autônoma - "independente" de fato, mas não
oficialmente - depende da garantia militar americana.
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