São Paulo, quinta, 19 de novembro de 1998

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OURO NAZISTA
Subsecretário Eizenstat tenta facilitar investigação sobre bens tirados de judeus
Brasil deve abrir arquivos, dizem EUA

OTÁVIO DIAS
da Reportagem Local

O subsecretário para Assuntos Econômicos dos Estados Unidos, Stuart Eizenstat, pediu ontem a abertura de arquivos do governo brasileiro para que seja possível investigar se o país recebeu bens confiscados de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.
Eizenstat se reuniu em São Paulo com integrantes da comissão criada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso com o objetivo de apurar se o Brasil, assim como outros países, foi destinatário de bens confiscados de judeus durante a perseguição nazista.
"É importante que haja acesso total e irrestrito aos arquivos em tempo hábil para que a comissão termine seus trabalhos em abril de 99", afirmou Eizenstat.
Subordinada ao Ministério da Justiça, a comissão iniciou as investigações em agosto de 97 e tem até abril para concluí-las. Seus membros estariam tendo dificuldades em consultar os arquivos do Ministério das Relações Exteriores e do Banco do Brasil (equivalente, na época, ao atual Banco Central).
"Talvez por ser uma democracia recente, o Brasil não tem o costume de abrir seus arquivos", disse à Folha o rabino Henry I. Sobel, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista e membro da comissão.
O subsecretário Eizenstat negou que estivesse pressionando o governo brasileiro. "Não estamos pressionando nenhum país, mas, sem dúvida, os encorajamos."
Segundo ele, 16 países, incluindo os EUA, criaram comissões para investigar o destino dos bens confiscados pelos nazistas.
Os bens incluíam desde obturações de ouro retiradas dos dentes das vítimas a quantias de dinheiro e de metais preciosos, jóias, objetos de valor, obras de arte e propriedades. Não é possível precisar qual o valor total do patrimônio que foi confiscado.
Além da Alemanha, outros países têm participação no confisco. Em agosto, os bancos suíços admitiram ter comprado ouro tirado de judeus e se comprometeram a pagar US$ 1,25 bilhão de indenização às vítimas do Holocausto.
Outros países neutros durante a Segunda Guerra -Suécia, Turquia, Espanha e Portugal- também podem ter se beneficiado.
Também os regimes comunistas que se instalaram no Leste Europeu no pós-guerra se apossaram de propriedades de judeus, muitos deles mortos.
Finalmente, há países como a Argentina e o Brasil, onde, em maior ou menor número, nazistas se refugiaram, trazendo na bagagem eventuais bens roubados.
Designado para coordenar as investigações nos EUA, Eizenstat foi figura-chave no acordo firmado com os bancos suíços.
Em dezembro próximo, na capital dos EUA, ocorrerá a Conferência de Washington sobre o Patrimônio Judaico, durante a qual empresas de seguro norte-americanas e européias discutirão o que fazer com apólices de seguro que até hoje não foram pagas.
Também serão discutidas regras para definir a propriedade de obras de arte roubadas que, mais de 50 anos depois, já mudaram diversas vezes de proprietários e se encontram espalhadas pelo mundo.
"Não sei se saberemos a verdade sobre o que aconteceu com o patrimônio saqueado dos judeus, mas caminhamos a passo acelerado", diz Stuart Eizenstat.



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