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OURO NAZISTA
Subsecretário Eizenstat tenta facilitar investigação sobre bens tirados de judeus
Brasil deve abrir arquivos, dizem EUA
OTÁVIO DIAS
da Reportagem Local
O subsecretário para Assuntos
Econômicos dos Estados Unidos,
Stuart Eizenstat, pediu ontem a
abertura de arquivos do governo
brasileiro para que seja possível investigar se o país recebeu bens
confiscados de judeus durante a
Segunda Guerra Mundial.
Eizenstat se reuniu em São Paulo
com integrantes da comissão criada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso com o objetivo de
apurar se o Brasil, assim como outros países, foi destinatário de bens
confiscados de judeus durante a
perseguição nazista.
"É importante que haja acesso
total e irrestrito aos arquivos em
tempo hábil para que a comissão
termine seus trabalhos em abril de
99", afirmou Eizenstat.
Subordinada ao Ministério da
Justiça, a comissão iniciou as investigações em agosto de 97 e tem
até abril para concluí-las. Seus
membros estariam tendo dificuldades em consultar os arquivos do
Ministério das Relações Exteriores
e do Banco do Brasil (equivalente,
na época, ao atual Banco Central).
"Talvez por ser uma democracia
recente, o Brasil não tem o costume de abrir seus arquivos", disse à
Folha o rabino Henry I. Sobel, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista e membro da
comissão.
O subsecretário Eizenstat negou
que estivesse pressionando o governo brasileiro. "Não estamos
pressionando nenhum país, mas,
sem dúvida, os encorajamos."
Segundo ele, 16 países, incluindo
os EUA, criaram comissões para
investigar o destino dos bens confiscados pelos nazistas.
Os bens incluíam desde obturações de ouro retiradas dos dentes
das vítimas a quantias de dinheiro
e de metais preciosos, jóias, objetos de valor, obras de arte e propriedades. Não é possível precisar
qual o valor total do patrimônio
que foi confiscado.
Além da Alemanha, outros países têm participação no confisco.
Em agosto, os bancos suíços admitiram ter comprado ouro tirado de
judeus e se comprometeram a pagar US$ 1,25 bilhão de indenização
às vítimas do Holocausto.
Outros países neutros durante a
Segunda Guerra -Suécia, Turquia, Espanha e Portugal- também podem ter se beneficiado.
Também os regimes comunistas
que se instalaram no Leste Europeu no pós-guerra se apossaram
de propriedades de judeus, muitos
deles mortos.
Finalmente, há países como a
Argentina e o Brasil, onde, em
maior ou menor número, nazistas
se refugiaram, trazendo na bagagem eventuais bens roubados.
Designado para coordenar as investigações nos EUA, Eizenstat foi
figura-chave no acordo firmado
com os bancos suíços.
Em dezembro próximo, na capital dos EUA, ocorrerá a Conferência de Washington sobre o Patrimônio Judaico, durante a qual empresas de seguro norte-americanas e européias discutirão o que
fazer com apólices de seguro que
até hoje não foram pagas.
Também serão discutidas regras
para definir a propriedade de
obras de arte roubadas que, mais
de 50 anos depois, já mudaram diversas vezes de proprietários e se
encontram espalhadas pelo mundo.
"Não sei se saberemos a verdade
sobre o que aconteceu com o patrimônio saqueado dos judeus, mas
caminhamos a passo acelerado",
diz Stuart Eizenstat.
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