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Raúl propõe troca de presos aos EUA
No Brasil, dirigente diz que libertaria dissidentes caso fossem soltos cinco cubanos condenados por espionagem
Lula volta a defender fim de embargo econômico à ilha e afirma que Washington deveria pedir desculpas a Havana por exclusão da OEA
SIMONE IGLESIAS
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após dizer que "a época dos
gestos unilaterais acabou", o
presidente de Cuba, Raúl Castro, propôs ontem soltar os
mais de 200 prisioneiros políticos da ilha caso os EUA libertem cinco cubanos condenados
na Flórida por espionagem.
"A época dos gestos unilaterais se acabou em Cuba, tem de
ser gestos bilaterais. Esses prisioneiros [políticos], querem
soltá-los? Que nos digam, que
os mandamos para lá [EUA]
com família e tudo. Mas que
nos devolvam nossos cinco heróis", disse Raúl ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Itamaraty.
Raúl refere-se aos cinco cubanos presos na Flórida em
1998 e condenados em 2001
por espionagem. Gerardo Hernández, Antonio Guerrero, Ramón Labañino, Fernando González e René González são vistos como heróis pelo regime.
Lula cobrou "gestos" do presidente eleito Barack Obama
sobre o embargo econômico à
ilha. "O primeiro gesto dele é
dizer qual será a política para
América Latina, Caribe e África. A segunda coisa é dizer qual
a razão do bloqueio." Ao defender o fim do embargo, Lula disse que "o mundo precisa viver
democraticamente". Desde
1959 Cuba vive sob ditadura.
O embargo a Cuba foi imposto pelos EUA em 1962, após a
descoberta de que a extinta
União Soviética instalaria mísseis na ilha. Na ocasião, os americanos também pressionaram
a OEA (Organização dos Estados Americanos), que suspendeu a participação do país por
ausência de democracia na ilha.
Na campanha, Obama prometeu que "suavizaria" restrições comerciais, mas não suspenderia o bloqueio. Ontem,
Raúl ironizou a ex-secretária
de Estado dos EUA Madeleine
Albright, que auxilia Obama na
transição de governo, por ter
condicionado o fim do embargo
a "gestos" de Havana. "Gestos
de quê? Por que gestos de um
país agredido e pequeno?"
Lula completou: "Cuba não
tem que fazer gesto. Quem tem
que fazer é o governo americano que impôs o bloqueio. É só
dizer que não tem mais bloqueio que está tudo resolvido".
O Departamento de Estado
dos EUA rejeitou a proposta. A
equipe de Obama não comentou as declarações de Raúl.
Para a cubana Marifeli Pérez-Stable, vice-presidente do
Inter-American Dialogue, a
proposta de troca de Raúl é descabida e equipara cubanos condenados pela Justiça americana a prisioneiros de consciência da ilha. "Mas, no balanço geral, é positiva porque pela primeira vez se menciona a possibilidade de soltar essa gente [no
contexto de uma eventual negociação com os EUA]."
OEA e fraternidade
Lula cobrou dos EUA um pedido de desculpas a Cuba pela
suspensão na OEA. "Que seja
feita uma reparação. A desculpa faz parte da grandeza dos
homens e das mulheres. Mas na
política dos países ricos essa
palavra não existe."
Indagado se o fim do bloqueio era urgente, Raúl disse
que não, porque já se passaram
50 anos: "Esperaremos com paciência". Lula brincou e disse
que sabia o motivo da manutenção do bloqueio: "A única
explicação é a quantidade de
eleitores cubanos na Flórida".
Esta foi a primeira visita do
cubano ao país. Antes de Brasília, ele passou pela Bahia. "Vou
embora logo, porque tenho medo de me apaixonar perdidamente pelo Brasil e de me apaixonar pelas brasileiras."
No Palácio do Planalto, ao
ouvir pedido dos fotógrafos para que apertasse a mão de Lula,
Raúl ironizou: "Querem que façamos como os políticos da
União Européia, que dão as
mãos, sorriem, mas não têm as
relações fraternas que temos?"
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