São Paulo, sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

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Raúl propõe troca de presos aos EUA

No Brasil, dirigente diz que libertaria dissidentes caso fossem soltos cinco cubanos condenados por espionagem

Lula volta a defender fim de embargo econômico à ilha e afirma que Washington deveria pedir desculpas a Havana por exclusão da OEA

SIMONE IGLESIAS
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após dizer que "a época dos gestos unilaterais acabou", o presidente de Cuba, Raúl Castro, propôs ontem soltar os mais de 200 prisioneiros políticos da ilha caso os EUA libertem cinco cubanos condenados na Flórida por espionagem.
"A época dos gestos unilaterais se acabou em Cuba, tem de ser gestos bilaterais. Esses prisioneiros [políticos], querem soltá-los? Que nos digam, que os mandamos para lá [EUA] com família e tudo. Mas que nos devolvam nossos cinco heróis", disse Raúl ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Itamaraty.
Raúl refere-se aos cinco cubanos presos na Flórida em 1998 e condenados em 2001 por espionagem. Gerardo Hernández, Antonio Guerrero, Ramón Labañino, Fernando González e René González são vistos como heróis pelo regime.
Lula cobrou "gestos" do presidente eleito Barack Obama sobre o embargo econômico à ilha. "O primeiro gesto dele é dizer qual será a política para América Latina, Caribe e África. A segunda coisa é dizer qual a razão do bloqueio." Ao defender o fim do embargo, Lula disse que "o mundo precisa viver democraticamente". Desde 1959 Cuba vive sob ditadura.
O embargo a Cuba foi imposto pelos EUA em 1962, após a descoberta de que a extinta União Soviética instalaria mísseis na ilha. Na ocasião, os americanos também pressionaram a OEA (Organização dos Estados Americanos), que suspendeu a participação do país por ausência de democracia na ilha.
Na campanha, Obama prometeu que "suavizaria" restrições comerciais, mas não suspenderia o bloqueio. Ontem, Raúl ironizou a ex-secretária de Estado dos EUA Madeleine Albright, que auxilia Obama na transição de governo, por ter condicionado o fim do embargo a "gestos" de Havana. "Gestos de quê? Por que gestos de um país agredido e pequeno?"
Lula completou: "Cuba não tem que fazer gesto. Quem tem que fazer é o governo americano que impôs o bloqueio. É só dizer que não tem mais bloqueio que está tudo resolvido".
O Departamento de Estado dos EUA rejeitou a proposta. A equipe de Obama não comentou as declarações de Raúl.
Para a cubana Marifeli Pérez-Stable, vice-presidente do Inter-American Dialogue, a proposta de troca de Raúl é descabida e equipara cubanos condenados pela Justiça americana a prisioneiros de consciência da ilha. "Mas, no balanço geral, é positiva porque pela primeira vez se menciona a possibilidade de soltar essa gente [no contexto de uma eventual negociação com os EUA]."

OEA e fraternidade
Lula cobrou dos EUA um pedido de desculpas a Cuba pela suspensão na OEA. "Que seja feita uma reparação. A desculpa faz parte da grandeza dos homens e das mulheres. Mas na política dos países ricos essa palavra não existe."
Indagado se o fim do bloqueio era urgente, Raúl disse que não, porque já se passaram 50 anos: "Esperaremos com paciência". Lula brincou e disse que sabia o motivo da manutenção do bloqueio: "A única explicação é a quantidade de eleitores cubanos na Flórida".
Esta foi a primeira visita do cubano ao país. Antes de Brasília, ele passou pela Bahia. "Vou embora logo, porque tenho medo de me apaixonar perdidamente pelo Brasil e de me apaixonar pelas brasileiras."
No Palácio do Planalto, ao ouvir pedido dos fotógrafos para que apertasse a mão de Lula, Raúl ironizou: "Querem que façamos como os políticos da União Européia, que dão as mãos, sorriem, mas não têm as relações fraternas que temos?"


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