São Paulo, domingo, 19 de dezembro de 2010

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Sensação política britânica vira decepção em 7 meses

Vice-premiê Nick Clegg se torna político menos confiável do país ao contrariar suas promessas de campanha

LEILA CORREIA
DE SÃO PAULO

Em apenas sete meses, o vice-premiê britânico e líder do Partido Liberal-Democrata, Nick Clegg, passou de sensação das eleições a político menos confiável do país. Motivo: estar fazendo o oposto do que prometeu.
A onda da "Cleggmania", criada após seu desempenho nos debates de campanha -os primeiros da história do Reino Unido-, deu lugar a acusações de traição. O próprio Clegg reconhece que muitos, até em seu partido, o veem como "Judas".
O descontentamento ficou claro nos recentes distúrbios provocados por estudantes em protesto contra a aprovação do aumento do valor anual máximo de taxas universitárias para 9.000 libras (R$ 24 mil) -quase o triplo do atual.
O problema é que, antes da eleição, em maio, o partido de Clegg se comprometera a votar contra tal proposta.
Porém, como o resultado da eleição foi uma coalizão de "lib dems" e conservadores, já que os últimos conquistaram mais cadeiras (mas não o suficiente para um governo de maioria), os liberais-democratas ajudaram a redigir o plano -e Clegg, a defendê-lo.
E não foi apenas essa promessa quebrada. "Eles prometeram agir de forma diferente em quase todas as áreas", disse à Folha o escocês Mark Blyth, professor de Ciência Política da Universidade Brown (EUA).
Na campanha, Clegg se mostrou contrário a impor cortes de gastos públicos para alavancar a economia, como defendiam os conservadores do agora premiê David Cameron. Depois da eleição, apoiou o plano de reduzir em 83 bilhões de libras (R$ 220 bilhões) as despesas públicas até 2015.

CARNE MORTA
"O caso dos liberais-democratas, adotando algo mais extremo do que o que formalmente eram contra, é notável", disse Blyth.
Nem mesmo dentro de seu partido a proposta encontrou apoio total: 21 dos 57 liberais-democratas no Parlamento votaram contra o aumento das mensalidades.
A "troca de lado" já surte efeito. Duas pesquisas divulgadas na semana passada mostram que o apoio aos liberais-democratas caiu dos 24% na eleição para 11%, e que o vice-premiê é tido como o político menos confiável por 61% dos britânicos.
"Muita gente que votou neles acha que eles "se venderam" e não votará de novo", diz Paul Whiteley, do Departamento de Governo da Universidade de Essex.
Para Blyth, os liberais-democratas "cometeram suicídio político" ao entrar em uma coalizão que os fez "perder sua credibilidade".
"Clegg é "carne morta'", diz. "Sua distinção e seu individualismo foram vendidos por uma fatia de poder."
Whiteley não acredita que os liberais-democratas abandonem a coalizão.
Nesse caso, eleições para o Parlamento poderiam ser convocadas antes da data fixada, que é 2015.
"Essa perda de apoio irá, na verdade, reforçar a coalizão por enquanto, porque, se ela não funcionar e houver eleição, os liberais-democratas perderão mais da metade de seus assentos [no Parlamento]."


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