São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2004

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Bush tentará parecer estadista em discurso hoje

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O presidente dos EUA, George W. Bush, fará, na noite de hoje, seu mais importante discurso programado para este ano e buscará passar aos eleitores americanos uma imagem de chefe de Estado preocupado com grandes questões sociopolíticas, não com paixões partidárias ligadas à eleição presidencial de novembro.
Segundo analistas ouvidos pela Folha, o Discurso sobre o Estado da União de 2004 será bastante distinto dos precedentes pronunciados por Bush. "Em 2002, meses depois do 11 de Setembro, o presidente procurou mostrar-se enérgico, com uma verdadeira política externa. Assim, incluiu o Iraque, de Saddam Hussein, o Irã, cujo governo xiita é contrário a Washington, e a Coréia do Norte, antiga inimiga dos EUA, no que chamou de "eixo do mal'", analisou Matthew Crenson, da Universidade Johns Hopkins (EUA).
"Em 2003, pouco antes de ordenar a invasão do Iraque, Bush tentou expor justificativas para fazê-lo, apresentando supostas provas de que Saddam buscara comprar urânio do Níger. Isso foi feito com talento político, pois o modo como isso foi dito já deixava transparecer que uma admissão de erro não minaria muito sua popularidade. Afinal, segundo Washington, foi o serviço de inteligência britânico que cometeu esse erro."
Em 2004, de acordo com Diana Owen, da Universidade de Georgetown (EUA), Bush se concentrará em grandes temas, como o "sucesso da guerra ao terrorismo internacional e a economia".
"Para ele, é essencial que o eleitorado pense que ele precisa de mais quatro anos para completar seu "projeto de governo". Assim, Bush insistirá nos supostos benefícios econômicos de seu corte de impostos [US$ 10,7 trilhões em dez anos] e na guerra ao terror. Esta é tão distante das pessoas que elas não poderão contestar suas afirmações se não houver novos ataques aos EUA", avaliou Owen.
Segundo a Casa Branca, Bush deverá enfatizar a necessidade de criar empregos. Para Stephen Harris, do Instituto de Políticas Econômicas (EUA), todavia, a redução de impostos não servirá para atenuar o desemprego.
"Primeiro, a recuperação econômica atual ainda não pode ser creditada ao corte de impostos, que beneficia sobretudo as camadas mais abastadas da população. Segundo, ela tem ocorrido sem que haja verdadeira criação de empregos", explicou Harris.
Para Crenson, outro tema que deverá ser abordado por Bush hoje é sua iniciativa de enviar seres humanos à Lua e a Marte. "Não se trata de algo sério, já que os custos do projeto são muito altos. Contudo trata-se de um ótimo assunto num ano eleitoral. Não há projeto mais ambicioso que a conquista do espaço, que se insere no velho triunfalismo americano."
Bush buscará, portanto, desviar a atenção dos eleitores dos problemas de sua política externa. Ademais, salientando o suposto sucesso de suas políticas econômicas, tentará precaver-se de ataques dos democratas, como os de Bill Clinton a Bush pai, em 1992.


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