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Bush tentará parecer estadista em discurso hoje
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O presidente dos EUA, George
W. Bush, fará, na noite de hoje,
seu mais importante discurso
programado para este ano e buscará passar aos eleitores americanos uma imagem de chefe de Estado preocupado com grandes
questões sociopolíticas, não com
paixões partidárias ligadas à eleição presidencial de novembro.
Segundo analistas ouvidos pela
Folha, o Discurso sobre o Estado
da União de 2004 será bastante
distinto dos precedentes pronunciados por Bush. "Em 2002, meses
depois do 11 de Setembro, o presidente procurou mostrar-se enérgico, com uma verdadeira política
externa. Assim, incluiu o Iraque,
de Saddam Hussein, o Irã, cujo
governo xiita é contrário a Washington, e a Coréia do Norte, antiga inimiga dos EUA, no que chamou de "eixo do mal'", analisou
Matthew Crenson, da Universidade Johns Hopkins (EUA).
"Em 2003, pouco antes de ordenar a invasão do Iraque, Bush tentou expor justificativas para fazê-lo, apresentando supostas provas
de que Saddam buscara comprar
urânio do Níger. Isso foi feito com
talento político, pois o modo como isso foi dito já deixava transparecer que uma admissão de erro não minaria muito sua popularidade. Afinal, segundo Washington, foi o serviço de inteligência
britânico que cometeu esse erro."
Em 2004, de acordo com Diana
Owen, da Universidade de Georgetown (EUA), Bush se concentrará em grandes temas, como o
"sucesso da guerra ao terrorismo
internacional e a economia".
"Para ele, é essencial que o eleitorado pense que ele precisa de
mais quatro anos para completar
seu "projeto de governo". Assim,
Bush insistirá nos supostos benefícios econômicos de seu corte de
impostos [US$ 10,7 trilhões em
dez anos] e na guerra ao terror.
Esta é tão distante das pessoas que
elas não poderão contestar suas
afirmações se não houver novos
ataques aos EUA", avaliou Owen.
Segundo a Casa Branca, Bush
deverá enfatizar a necessidade de
criar empregos. Para Stephen
Harris, do Instituto de Políticas
Econômicas (EUA), todavia, a redução de impostos não servirá
para atenuar o desemprego.
"Primeiro, a recuperação econômica atual ainda não pode ser
creditada ao corte de impostos,
que beneficia sobretudo as camadas mais abastadas da população.
Segundo, ela tem ocorrido sem
que haja verdadeira criação de
empregos", explicou Harris.
Para Crenson, outro tema que
deverá ser abordado por Bush hoje é sua iniciativa de enviar seres
humanos à Lua e a Marte. "Não se
trata de algo sério, já que os custos
do projeto são muito altos. Contudo trata-se de um ótimo assunto num ano eleitoral. Não há projeto mais ambicioso que a conquista do espaço, que se insere no
velho triunfalismo americano."
Bush buscará, portanto, desviar
a atenção dos eleitores dos problemas de sua política externa.
Ademais, salientando o suposto
sucesso de suas políticas econômicas, tentará precaver-se de ataques dos democratas, como os de
Bill Clinton a Bush pai, em 1992.
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