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México tenta conter a revolta da tortilha
Uso do milho para etanol nos EUA e especulação causaram alta do produto
Preço da tortilha, base da alimentação mexicana, explodiu nos últimos dois meses; governo de Calderón tenta controlar preços
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente do México, Felipe Calderón, anunciou um
controle de preços do quilo da
tortilha, principal base da culinária mexicana desde os tempos dos astecas. O ministro da
Economia, Eduardo Sojo, determinou a importação de 650
mil toneladas de milho dos Estados Unidos sem nenhum tipo
de imposto para forçar a queda
dos preços.
Ainda assim, associações de
camponeses e trabalhadores
rurais convocaram uma megamarcha para o próximo dia 31
para protestar contra o aumento do preço da tortilha. Nas últimas seis semanas, o quilo da
tortilha aumentou em média
40%, custando 10 pesos mexicanos, pouco mais de R$ 2.
O que já é chamada de "batalha da tortilha" se transformou
em uma das mais inesperadas
crises que o presidente conservador, empossado em 1º de dezembro, tem que enfrentar.
A gritaria é tão generalizada
que Calderón, um advogado
conservador que estudou administração pública em Harvard, engavetou vários conceitos do livre mercado e partiu
para o controle de preços.
Há um jogo de acusações para saber quem tem a culpa pelo
aumento da tortilha. Todas as
alegações desembocam em falhas da economia mexicana.
Nafta
Primeiramente, a culpa recaiu sobre os Estados Unidos. O
México importa milho do sócio
no Nafta (Área de Livre Comércio da América do Norte). Com
o fim dos subsídios agrícolas no
governo do ex-presidente Carlos Salinas de Gortari, a produção local de milho entrou em
crise e o país passou a ser importador.
Mas, nos últimos seis anos, o
uso de milho nos Estados Unidos para a produção de etanol
aumentou em 155% - 41 milhões de toneladas de milho
americano foram usadas na
produção de combustível. Com
isso, o preço do cereal americano subiu 13% no ano passado.
Só que o milho que o México
importa dos EUA, o amarelo, é
usado para rações animais e
energia. O milho branco, que os
mexicanos usam na tortilha, é
100% produzido no país. Mas,
com o aumento internacional,
as maiores empresas de tortilha do México aproveitaram
para subir seus preços.
Culpa do monopólio
"Houve uma escassez temporal de milho no ano passado e
algumas empresas aproveitaram para subir os preços com a
mudança de governo", conta
Macario Schettino, diretor de
Investigação do Instituto Tecnológico de Monterrey.
A empresa Gruma/Maseca,
maior fabricante de tortilhas
no mundo, detém 70% do mercado mexicano. É um monopólio, como existem tantos no
México - na telefonia fixa, no
cimento, na televisão.
A pressão contra os culpados
de fazer a tortilha chegar mais
cara à mesa dos mexicanos
obrigou a Gruma/Maseca a publicar anúncios nos principais
jornais mexicanos garantindo
que não subirá o preço da tortilha até meados do ano.
"Até o início dos anos 90, havia uma rede de empresas estatais que faziam a distribuição
do milho e de vários outros alimentos por todo o país. Esse
sistema foi desmantelado", diz
o professor de ciência política
da Universidade Autônoma do
México Pablo Marentes.
Pacto tortilheiro
Com protestos de rua em vários Estados mexicanos, o presidente Calderón negociou um
"pacto tortilheiro".
"Não toleraremos especuladores, nem aproveitadores, faremos que os preços sejam respeitados, ou haverá multas para quem desrespeite as leis",
anunciou Calderón.
A rede de supermercados
Wal-Mart tabelou os preços da
tortilha, assim como a gigante
panificadora Bimbo (que, no
Brasil, é dona das marcas Pullman e Plus Vita).
O pacto tortilheiro vigora até
30 de abril. A Procuradoria Federal do Consumidor, o Procon
mexicano, lançou uma campanha chamada "Quem é quem
nos preços da tortilha" para divulgar os abusos.
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