São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 2007

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México tenta conter a revolta da tortilha

Uso do milho para etanol nos EUA e especulação causaram alta do produto

Preço da tortilha, base da alimentação mexicana, explodiu nos últimos dois meses; governo de Calderón tenta controlar preços

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do México, Felipe Calderón, anunciou um controle de preços do quilo da tortilha, principal base da culinária mexicana desde os tempos dos astecas. O ministro da Economia, Eduardo Sojo, determinou a importação de 650 mil toneladas de milho dos Estados Unidos sem nenhum tipo de imposto para forçar a queda dos preços.
Ainda assim, associações de camponeses e trabalhadores rurais convocaram uma megamarcha para o próximo dia 31 para protestar contra o aumento do preço da tortilha. Nas últimas seis semanas, o quilo da tortilha aumentou em média 40%, custando 10 pesos mexicanos, pouco mais de R$ 2.
O que já é chamada de "batalha da tortilha" se transformou em uma das mais inesperadas crises que o presidente conservador, empossado em 1º de dezembro, tem que enfrentar.
A gritaria é tão generalizada que Calderón, um advogado conservador que estudou administração pública em Harvard, engavetou vários conceitos do livre mercado e partiu para o controle de preços.
Há um jogo de acusações para saber quem tem a culpa pelo aumento da tortilha. Todas as alegações desembocam em falhas da economia mexicana.

Nafta
Primeiramente, a culpa recaiu sobre os Estados Unidos. O México importa milho do sócio no Nafta (Área de Livre Comércio da América do Norte). Com o fim dos subsídios agrícolas no governo do ex-presidente Carlos Salinas de Gortari, a produção local de milho entrou em crise e o país passou a ser importador.
Mas, nos últimos seis anos, o uso de milho nos Estados Unidos para a produção de etanol aumentou em 155% - 41 milhões de toneladas de milho americano foram usadas na produção de combustível. Com isso, o preço do cereal americano subiu 13% no ano passado.
Só que o milho que o México importa dos EUA, o amarelo, é usado para rações animais e energia. O milho branco, que os mexicanos usam na tortilha, é 100% produzido no país. Mas, com o aumento internacional, as maiores empresas de tortilha do México aproveitaram para subir seus preços.

Culpa do monopólio
"Houve uma escassez temporal de milho no ano passado e algumas empresas aproveitaram para subir os preços com a mudança de governo", conta Macario Schettino, diretor de Investigação do Instituto Tecnológico de Monterrey.
A empresa Gruma/Maseca, maior fabricante de tortilhas no mundo, detém 70% do mercado mexicano. É um monopólio, como existem tantos no México - na telefonia fixa, no cimento, na televisão.
A pressão contra os culpados de fazer a tortilha chegar mais cara à mesa dos mexicanos obrigou a Gruma/Maseca a publicar anúncios nos principais jornais mexicanos garantindo que não subirá o preço da tortilha até meados do ano.
"Até o início dos anos 90, havia uma rede de empresas estatais que faziam a distribuição do milho e de vários outros alimentos por todo o país. Esse sistema foi desmantelado", diz o professor de ciência política da Universidade Autônoma do México Pablo Marentes.

Pacto tortilheiro
Com protestos de rua em vários Estados mexicanos, o presidente Calderón negociou um "pacto tortilheiro".
"Não toleraremos especuladores, nem aproveitadores, faremos que os preços sejam respeitados, ou haverá multas para quem desrespeite as leis", anunciou Calderón.
A rede de supermercados Wal-Mart tabelou os preços da tortilha, assim como a gigante panificadora Bimbo (que, no Brasil, é dona das marcas Pullman e Plus Vita).
O pacto tortilheiro vigora até 30 de abril. A Procuradoria Federal do Consumidor, o Procon mexicano, lançou uma campanha chamada "Quem é quem nos preços da tortilha" para divulgar os abusos.


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