São Paulo, sábado, 20 de janeiro de 2007

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Alfonsín é intimado a depor sobre acordo

Ex-presidente argentino é acusado de ter fechado pacto político para evitar investigações sobre Isabelita Perón

Governo do radical pode ter negociado com peronistas inação em casos de abusos e desaparecimentos durante mandato da viúva de Perón

BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

A Justiça argentina intimou ontem o ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-89) a depor sobre um suposto acordo político com o Partido Justicialista (peronista) para que seu governo não investigasse desaparecimentos e torturas ocorridos no governo de Isabelita Perón, que antecedeu a última ditadura militar no país (1976-83).
Alfonsín, 79, é um dos líderes da UCR (União Cívica Radical), principal partido opositor ao presidente Néstor Kirchner.
A intimação foi determinada pelo mesmo juiz federal da Província de Mendoza que deu a primeira das duas ordens de captura internacional contra a viúva do general Juan Domingo Perón (1895-1974).
Aos 75 anos, Isabelita, que vive em Madri desde 1981, espera em liberdade o início de dois processos que pedirão sua extradição para a Argentina. Ela é acusada de envolvimento em crimes contra a humanidade praticados pela organização terrorista de ultradireita Triple A (Aliança Anticomunista Argentina).
A Justiça quer saber agora se Alfonsín facilitou a ocultação de provas de que já havia terrorismo de Estado no governo de Isabelita (1974-76) para proteger a viúva de Perón.
"Isso não é sério", afirmou Ricardo Alfonsín, dirigente da UCR e filho do ex-presidente. Para ele, a intimação de seu pai é "um disparate", pois um pacto entre os dois principais partidos políticos não impediria que "qualquer cidadão fizesse denúncias à Justiça".
Mas o filho do ex-presidente admite que os peronistas "se opuseram à investigação das violações de direitos humanos pela Conadep [Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas", instalada no governo Alfonsín.
Relatório da Conadep publicado em 1984 reconheceu desaparecimentos antes do golpe militar, mas não aprofundou as investigações. Apesar de ter havido convites, segundo o também dirigente da UCR Luis Brandoni, os peronistas não quiseram integrar a comissão, o que prejudicou os trabalhos.
Entre os governistas, o discurso é o de que a intimação a Alfonsín e as acusações contra Isabelita são decisões da Justiça -uma tentativa de afastar a idéia de julgamentos políticos.
A revisão do passado e a condenação de repressores é uma das principais bandeiras políticas de Kirchner, que pertence ao PJ.
Alfonsín é o principal impulsionador da recém-anunciada candidatura do ex-ministro Roberto Lavagna à Casa Rosada nas eleições de outubro próximo.


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