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Alfonsín é intimado a depor sobre acordo
Ex-presidente argentino é acusado de ter fechado pacto político para evitar investigações sobre Isabelita Perón
Governo do radical pode ter negociado com peronistas inação em casos de abusos e desaparecimentos durante mandato da viúva de Perón
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
A Justiça argentina intimou
ontem o ex-presidente Raúl Alfonsín (1983-89) a depor sobre
um suposto acordo político
com o Partido Justicialista (peronista) para que seu governo
não investigasse desaparecimentos e torturas ocorridos no
governo de Isabelita Perón, que
antecedeu a última ditadura
militar no país (1976-83).
Alfonsín, 79, é um dos líderes
da UCR (União Cívica Radical),
principal partido opositor ao
presidente Néstor Kirchner.
A intimação foi determinada
pelo mesmo juiz federal da Província de Mendoza que deu a
primeira das duas ordens de
captura internacional contra a
viúva do general Juan Domingo
Perón (1895-1974).
Aos 75 anos, Isabelita, que vive em Madri desde 1981, espera
em liberdade o início de dois
processos que pedirão sua extradição para a Argentina. Ela é
acusada de envolvimento em
crimes contra a humanidade
praticados pela organização
terrorista de ultradireita Triple
A (Aliança Anticomunista Argentina).
A Justiça quer saber agora se
Alfonsín facilitou a ocultação
de provas de que já havia terrorismo de Estado no governo de
Isabelita (1974-76) para proteger a viúva de Perón.
"Isso não é sério", afirmou
Ricardo Alfonsín, dirigente da
UCR e filho do ex-presidente.
Para ele, a intimação de seu pai
é "um disparate", pois um pacto
entre os dois principais partidos políticos não impediria que
"qualquer cidadão fizesse denúncias à Justiça".
Mas o filho do ex-presidente
admite que os peronistas "se
opuseram à investigação das
violações de direitos humanos
pela Conadep [Comissão Nacional sobre o Desaparecimento de Pessoas", instalada no governo Alfonsín.
Relatório da Conadep publicado em 1984 reconheceu desaparecimentos antes do golpe
militar, mas não aprofundou as
investigações. Apesar de ter havido convites, segundo o também dirigente da UCR Luis
Brandoni, os peronistas não
quiseram integrar a comissão,
o que prejudicou os trabalhos.
Entre os governistas, o discurso é o de que a intimação a
Alfonsín e as acusações contra
Isabelita são decisões da Justiça -uma tentativa de afastar a
idéia de julgamentos políticos.
A revisão do passado e a condenação de repressores é uma
das principais bandeiras políticas de Kirchner, que pertence
ao PJ.
Alfonsín é o principal impulsionador da recém-anunciada
candidatura do ex-ministro
Roberto Lavagna à Casa Rosada nas eleições de outubro próximo.
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