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Saída de Porto Príncipe vira aventura aérea
JANAINA LAGE
ENVIADA ESPECIAL A SANTO DOMINGO
Uma semana após o terremoto que atingiu Porto Príncipe,
entrar ou sair da capital do Haiti ainda não é tarefa fácil. Não
há voos regulares, e contratar
um carro em uma cidade que
enfrenta falta de gasolina é uma
empreitada ainda mais difícil.
A Folha passou a manhã no
aeroporto de Porto Príncipe,
controlado pelos americanos.
Para entrar, basta passaporte.
Mas, para sair em voo rumo aos
EUA, não basta o visto -é preciso ser cidadão americano.
Uma funcionária explica que
o país só é responsável pela
evacuação dos cidadãos americanos. As companhias americanas fazem voos periódicos no
aeroporto da cidade. Todos os
dias forma-se uma longa fila na
porta da Embaixada americana: gente que, carregando seus
bens, aguarda uma chance de
deixar o Haiti.
No aeroporto, não há checagem de bagagem, e a imigração
se limita a carimbar o passaporte antes mesmo da aquisição do bilhete. A negociação de
passagens ocorre na pista, onde
os passageiros aguardam voos
humanitários ou fretados.
O balcão das companhias de
fretamento é uma cadeira próxima ao aeroporto.
A mesma companhia que
trouxe a Folha de Santo Domingo para Porto Príncipe por
US$ 900 o bilhete cobra agora
US$ 300. Os preços não são
uniformes. Um holandês de
olhos azuis pagou US$ 580 para viajar no mesmo voo.
A menor procura não significa, porém, mais conforto. Decorre de menos voos. Um pequeno avião de sete lugares
chega com uma hora de atraso,
e, após constatar a venda excessiva de bilhetes, a repórter
viaja no lugar do copiloto.
Outra alternativa para deixar
o Haiti é alugar um helicóptero, opção mais cara.
Em Santo Domingo, todos
querem saber notícias de como
anda o Haiti. Do carregador de
bagagens ao taxista e até o pessoal do check-in do aeroporto
internacional. Eles temem
uma invasão de haitianos, que
há tempos seguem para o país
para ocupar vagas que exigem
menor nível de instrução, como operários e serventes.
Nos balcões das companhias
aéreas americanas, os funcionários afirmam que os haitianos chegam com as malas
prontas e compram bilhetes
para os EUA.
Em um sinal da preocupação
da República Dominicana com
os efeitos da crise no país vizinho, o cardeal Nicolás de Jesús
López Rodríguez afirmou que o
país já fez mais do que estava
humanamente a seu alcance
para ajudar o Haiti a se recuperar dos estragos causados pelo
terremoto, mas que não pode
assumir o problema sozinho.
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