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Pragmatismo no front externo é risco no interno
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
Ao procurar um caminho do meio nas decisões
de política externa, Barack
Obama tenta reforçar a
imagem de pragmático e
suprapartidário. Mas começa a parecer fraco aos
olhos da direita, cada vez
mais radicalizada, e da ala
progressista do Partido
Democrata, responsável
por boa parte da mobilização que o elegeu.
Obama corre ainda o risco de desagradar "idealistas", para os quais a exportação do modelo americano garante a hegemonia
do país, e "realistas", avessos à "construção de nações" e defensores de recuo no intervencionismo.
Ao público externo,
Obama envia mensagens
contraditórias. Age para
recompor o multilateralismo, mas a máquina diplomática e militar gira na
mentalidade tradicional
-como no acordo para o
uso de bases militares na
Colômbia e na irritação
com a proposta do governo japonês de renegociar o
tratado sobre as tropas
americanas no país.
Exemplo de oscilação
foi a reação ao atentado
frustrado no voo Amsterdã-Detroit, no Natal. Contido no início, Obama subiu a retórica depois de
onda de críticas. Tendo
aposentado a expressão
"guerra ao terror", fala em
"guerra à Al Qaeda".
No Afeganistão, houve a
mesma tentativa de satisfazer públicos diferentes.
Obama enviou parte do reforço pedido pelos militares, mas marcou para 2011
o início da retirada.
Em Honduras, o presidente apoiou a decisão da
OEA (Organização dos Estados Americanos) de pedir a restituição do presidente Manuel Zelaya.
Mas, ante ataque dos conservadores, optou por
apoiar as eleições realizadas sob os golpistas.
"Grandes expectativas
indo de encontro a realidades apavorantes; as realidades estão ganhando",
disse James Lindsay, do
Council on Foreign Relations, ao resumir o ano da
política externa obamista.
As principais iniciativas
negociadoras esperam resultados. Com o Irã, Obama parecia disposto a um
diálogo amplo, mas foi
atropelado pelo resultado
eleitoral em Teerã. Agora,
lida com pressão interna
renovada por ação militar.
Há dilema com a Rússia.
Obama desistiu da instalação do escudo antimísseis
no Leste Europeu, rejeitado por Moscou. Espera em
troca apoio a sanções mais
duras contra o Irã, mas
não há garantias.
O presidente prega a redução dos arsenais nucleares. Mas há dúvidas sobre
se o Congresso aprovaria
tratado nesse sentido com
os russos. Há 20 anos a
adesão dos EUA ao Tratado de Proibição de Testes
Nucleares pende de ratificação pelo Senado.
No Oriente Médio, a rápida movimentação inicial
por acordo definitivo entre israelenses e palestinos cedeu diante da resistência em Israel.
"Os EUA têm um poder
militar sem rival, mas, como vimos no Iraque, isso
não resolve tudo", disse
Lindsay. "E o presidente
sabe que a diplomacia
também não será solução
mágica para os problemas
que o país enfrenta."
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