São Paulo, quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

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Pragmatismo no front externo é risco no interno

CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO

Ao procurar um caminho do meio nas decisões de política externa, Barack Obama tenta reforçar a imagem de pragmático e suprapartidário. Mas começa a parecer fraco aos olhos da direita, cada vez mais radicalizada, e da ala progressista do Partido Democrata, responsável por boa parte da mobilização que o elegeu.
Obama corre ainda o risco de desagradar "idealistas", para os quais a exportação do modelo americano garante a hegemonia do país, e "realistas", avessos à "construção de nações" e defensores de recuo no intervencionismo.
Ao público externo, Obama envia mensagens contraditórias. Age para recompor o multilateralismo, mas a máquina diplomática e militar gira na mentalidade tradicional -como no acordo para o uso de bases militares na Colômbia e na irritação com a proposta do governo japonês de renegociar o tratado sobre as tropas americanas no país.
Exemplo de oscilação foi a reação ao atentado frustrado no voo Amsterdã-Detroit, no Natal. Contido no início, Obama subiu a retórica depois de onda de críticas. Tendo aposentado a expressão "guerra ao terror", fala em "guerra à Al Qaeda".
No Afeganistão, houve a mesma tentativa de satisfazer públicos diferentes. Obama enviou parte do reforço pedido pelos militares, mas marcou para 2011 o início da retirada.
Em Honduras, o presidente apoiou a decisão da OEA (Organização dos Estados Americanos) de pedir a restituição do presidente Manuel Zelaya. Mas, ante ataque dos conservadores, optou por apoiar as eleições realizadas sob os golpistas.
"Grandes expectativas indo de encontro a realidades apavorantes; as realidades estão ganhando", disse James Lindsay, do Council on Foreign Relations, ao resumir o ano da política externa obamista.
As principais iniciativas negociadoras esperam resultados. Com o Irã, Obama parecia disposto a um diálogo amplo, mas foi atropelado pelo resultado eleitoral em Teerã. Agora, lida com pressão interna renovada por ação militar.
Há dilema com a Rússia. Obama desistiu da instalação do escudo antimísseis no Leste Europeu, rejeitado por Moscou. Espera em troca apoio a sanções mais duras contra o Irã, mas não há garantias.
O presidente prega a redução dos arsenais nucleares. Mas há dúvidas sobre se o Congresso aprovaria tratado nesse sentido com os russos. Há 20 anos a adesão dos EUA ao Tratado de Proibição de Testes Nucleares pende de ratificação pelo Senado.
No Oriente Médio, a rápida movimentação inicial por acordo definitivo entre israelenses e palestinos cedeu diante da resistência em Israel.
"Os EUA têm um poder militar sem rival, mas, como vimos no Iraque, isso não resolve tudo", disse Lindsay. "E o presidente sabe que a diplomacia também não será solução mágica para os problemas que o país enfrenta."


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