São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2002

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RELIGIÃO

Eliana Chinn estava entre os 70 ocidentais presos quinta-feira em Pequim durante protesto contra perseguição ao movimento

Brasileira da Fa Lun Gong relata abusos na China

ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO

Dois brasileiros estavam entre os cerca de 70 ocidentais presos na quinta-feira passada na praça Tiananmen (Paz Celestial), em Pequim, quando participavam de um protesto contra a perseguição do governo chinês ao movimento religioso Fa Lun Gong, banido no país desde julho de 1999.
Eliana Penido Chinn, 34, moradora de Nova York e seguidora da Fa Lun Gong há dois anos, diz ter sofrido abusos e relata casos de espancamentos a outros manifestantes presos. "Houve muita violência", disse ela em entrevista à Folha, por telefone. Ontem, cerca de vinte integrantes do grupo foram ao Congresso americano e ao Departamento de Estado para protestar contra a ação. Leia a seguir trechos da entrevista:

Folha - Qual o objetivo do protesto que vocês fizeram?
Eliana Penido Chinn -
Não era exatamente um protesto. Era um apelo ao governo chinês para que pare com essa perseguição. Há centenas de milhares de pessoas em campos de trabalho forçado, quase 2.000 já morreram.

Folha - E como foi a repressão a essa manifestação?
Eliana -
Houve muita violência. No dia em que as pessoas iam se reunir na praça, não estavam deixando nenhuma câmera entrar e as pessoas tinham que passar por um detector de metais. Parece que eles já sabiam da manifestação. Eu e meu marido não levávamos nada conosco, mas uma pessoa perto de nós levava um cartaz e foi pega. Imediatamente, saíram correndo atrás da gente também.
Cinco ou seis policiais à paisana me jogaram no chão, me arrastaram, puxaram meu cabelo e me jogaram num carro. Nos levaram para uma delegacia. Levaram tudo o que eu tinha comigo, dinheiro, passaporte, minha agenda eletrônica. E o tempo todo fiquei longe do meu marido, sem saber onde ele estava.

Folha - E o que eles diziam?
Eliana -
Não falavam nada para a gente. Nos colocaram numa caminhonete e passamos mais de uma hora e meia de viagem sem saber para onde estávamos indo. Não deixaram a gente se comunicar com as embaixadas. Havia gente de mais de 15 países. Depois, cada pessoa foi levada para um quarto e interrogada.

Folha - E houve violência durante o interrogatório?
Eliana -
No meu caso, houve ameaças. Perguntaram se eu já havia sido espancada. Um policial ameaçou jogar um cinzeiro na minha cara, mas outro o parou.

Folha - E outros foram agredidos?
Eliana -
Muitas pessoas contaram. Uma pessoa viu uma garota saindo de um dos quartos carregada por cinco policiais e muito machucada.

Folha - E todos foram expulsos?
Eliana -
Depois de umas 24 horas. Tiraram as pessoas separadamente dos quartos e levaram a gente para outra caminhonete. Quando vimos, estávamos ao lado de um avião e começaram a colocar a gente para dentro. Algumas pessoas foram carregadas. Foi horrível, porque nem as pessoas dentro do avião sabiam o que estava acontecendo. A gente nem sabia para onde o avião estava indo. Só depois descobrimos que estava indo para Detroit [EUA".



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