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RELIGIÃO
Eliana Chinn estava entre os 70 ocidentais presos quinta-feira em Pequim durante protesto contra perseguição ao movimento
Brasileira da Fa Lun Gong relata abusos na China
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
Dois brasileiros estavam entre
os cerca de 70 ocidentais presos
na quinta-feira passada na praça
Tiananmen (Paz Celestial), em
Pequim, quando participavam de
um protesto contra a perseguição
do governo chinês ao movimento
religioso Fa Lun Gong, banido no
país desde julho de 1999.
Eliana Penido Chinn, 34, moradora de Nova York e seguidora da
Fa Lun Gong há dois anos, diz ter
sofrido abusos e relata casos de
espancamentos a outros manifestantes presos. "Houve muita violência", disse ela em entrevista à
Folha, por telefone. Ontem, cerca
de vinte integrantes do grupo foram ao Congresso americano e ao
Departamento de Estado para
protestar contra a ação. Leia a seguir trechos da entrevista:
Folha - Qual o objetivo do protesto que vocês fizeram?
Eliana Penido Chinn - Não era
exatamente um protesto. Era um
apelo ao governo chinês para que
pare com essa perseguição. Há
centenas de milhares de pessoas
em campos de trabalho forçado,
quase 2.000 já morreram.
Folha - E como foi a repressão a
essa manifestação?
Eliana - Houve muita violência.
No dia em que as pessoas iam se
reunir na praça, não estavam deixando nenhuma câmera entrar e
as pessoas tinham que passar por
um detector de metais. Parece que
eles já sabiam da manifestação.
Eu e meu marido não levávamos
nada conosco, mas uma pessoa
perto de nós levava um cartaz e foi
pega. Imediatamente, saíram correndo atrás da gente também.
Cinco ou seis policiais à paisana
me jogaram no chão, me arrastaram, puxaram meu cabelo e me
jogaram num carro. Nos levaram
para uma delegacia. Levaram tudo o que eu tinha comigo, dinheiro, passaporte, minha agenda eletrônica. E o tempo todo fiquei
longe do meu marido, sem saber
onde ele estava.
Folha - E o que eles diziam?
Eliana - Não falavam nada para a
gente. Nos colocaram numa caminhonete e passamos mais de
uma hora e meia de viagem sem
saber para onde estávamos indo.
Não deixaram a gente se comunicar com as embaixadas. Havia
gente de mais de 15 países. Depois, cada pessoa foi levada para
um quarto e interrogada.
Folha - E houve violência durante
o interrogatório?
Eliana - No meu caso, houve
ameaças. Perguntaram se eu já
havia sido espancada. Um policial
ameaçou jogar um cinzeiro na
minha cara, mas outro o parou.
Folha - E outros foram agredidos?
Eliana - Muitas pessoas contaram. Uma pessoa viu uma garota
saindo de um dos quartos carregada por cinco policiais e muito
machucada.
Folha - E todos foram expulsos?
Eliana - Depois de umas 24 horas.
Tiraram as pessoas separadamente dos quartos e levaram a gente
para outra caminhonete. Quando
vimos, estávamos ao lado de um
avião e começaram a colocar a
gente para dentro. Algumas pessoas foram carregadas. Foi horrível, porque nem as pessoas dentro
do avião sabiam o que estava
acontecendo. A gente nem sabia
para onde o avião estava indo. Só
depois descobrimos que estava
indo para Detroit [EUA".
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