São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2002

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ANÁLISE

Violência reduz apoio a Sharon e desespera israelenses

JAMES BENNET
DO "THE NEW YORK TIMES", EM JERUSALÉM

O premiê israelense, Ariel Sharon, foi eleito com a promessa de trazer paz e segurança a seu país. No entanto, um ano depois de sua posse, Israel não tem nenhuma das duas coisas -e, em termos políticos, Sharon tampouco.
A direita acusa Sharon de tratar os palestinos com brandura excessiva. A esquerda o acusa de exagerar na violência. Ambos concordam que Sharon não possui plano algum para pôr fim a um conflito que, 17 meses depois de começar, parece estar se tornando cada vez mais mortífero. Na sexta-feira, uma sondagem conduzida pelo jornal "Maariv" revelou que, para 49%, "a liderança nacional perdeu o controle sobre a situação de segurança".
Sharon tem conseguido manter-se à tona porque está navegando numa onda de conquistas políticas domésticas e externas. Ele vem conseguindo manter seu governo de união, composto por partidos da direita e da esquerda, o que abranda as críticas ao dividir as responsabilidades. Ele também tem conseguido o apoio da administração Bush em sua política de confinar e isolar o líder palestino Iasser Arafat.
Seus assessores dizem que a guerra contra a violência palestina é uma luta de longo prazo. Mas a paciência do público parece estar se esgotando. O nível de apoio a Sharon, que já chegou a ser altíssimo, vem caindo. Em perguntas mais específicas, Sharon se sai ainda pior. Não apenas a maioria dos entrevistados pelo "Maariv" se disse insatisfeita com sua atuação em matéria de segurança, como 79% reprovaram seu desempenho na área econômica -o desemprego atingiu recorde.
Enquanto isso, a popularidade de Arafat parece estar aumentando entre os palestinos. Israel mantém Arafat preso em Ramallah, na Cisjordânia, há mais de dois meses, para pressioná-lo a reprimir a violência ou para incentivar os palestinos a trocar de líder. Mas mesmo alguns altos oficiais israelenses já reconhecem que é pouco provável que alguma dessas duas alternativas ocorra. Uma sondagem da Universidade Bir Zeit, em Ramallah, indicou que Arafat vem ganhando apoio: 52% avaliaram seu desempenho como "positivo", contra 38% em outubro.
Ao mesmo tempo, a esquerda dormente está dando sinais de vida em Israel. Um grupo de mais de mil generais da reserva e integrantes dos serviços de segurança está lançando uma campanha exortando a retirada unilateral de quase toda a faixa de Gaza e da maior parte da Cisjordânia. Enquanto isso, setores de direita temem que a retirada sob fogo possa aumentar a ousadia dos militantes palestinos.
Essas visões distintas foram refletidas no jornal "Yediot Ahronot", ao apresentar as soluções conflitantes propostas pelos líderes do país. Expressando o sentimento cada vez maior de desesperança e de que o país está preso num beco sem saída, a manchete do jornal indagou: "Como sairemos da lama?" A foto que a acompanha, tirada após um ataque recente, é de uma policial apoiando a cabeça nas mãos, em evidente tristeza e desalento.



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