São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PENA DE MORTE

Para o esquizofrênico Alexander Williams, condenado por estupro e assassinato, a atriz Sigourney Weaver é Deus

EUA sustam execução de doente mental

DAVID USBORNE
DO "THE INDEPENDENT", EM NOVA YORK

Após pressões de última hora, as autoridades carcerárias da Geórgia, Estado no sudeste dos EUA, anunciaram ontem que suspenderam a execução, prevista para hoje, de um homem diagnosticado como esquizofrênico paranóico crônico, que conversa com rãs imaginárias em sua cela e acha que a atriz Sigourney Weaver é Deus.
Os advogados de Alexander Williams, 33, haviam lançado um último apelo de clemência ao Conselho de Perdões e Condicionais da Geórgia, com base no estado mental prejudicado do réu. O conselho decidiu adiar a execução até pelo menos 25 de fevereiro, para rever o caso de Williams, condenado em 1986 por estupro, roubo e assassinato.
Ironicamente, a Suprema Corte americana deve debater hoje outro caso que vai obrigá-la a assumir uma posição nova quanto à imposição de pena de morte a réus mentalmente deficientes.
Entre aqueles que já pediram ao governo da Geórgia que poupe a vida de Williams figuram a ex-primeira-dama americana Rosalynn Carter, a União Européia e a Associação Americana de Advogados.
Outra questão em pauta é a da idade. Williams matou sua vítima, um estudante de segundo grau, quando tinha 17 anos. Nos últimos três anos, os únicos países a executarem pessoas por crimes cometidos quando tinham menos de 18 anos são os Estados Unidos, o Irã e a República Democrática do Congo.
"Executar Alexander Williams antes que a Suprema Corte dos EUA tenha a oportunidade de pelo menos discutir a questão da culpa dos mentalmente retardados constituiria uma grotesca violação dos direitos humanos e uma decisão judicial terrivelmente injusta", afirmou Steven Hawkins, da Coalizão Nacional para a Abolição da Pena de Morte.
Ultimamente, a Suprema Corte vem decidindo contra a execução de presos considerados loucos. Mas ela não se pronunciou em alguns casos em que existe doença mental nem disse se é constitucional executar uma pessoa que se torna mentalmente competente, no momento da execução, por meio de administração de medicamentos. Williams recebe medicamentos contra a esquizofrenia, que lhe são administrados à força pelos carcereiros.
Entre os sintomas de sua doença figuram delírios contundentes. Além de enxergar a atriz Sigourney Weaver como Deus, Williams afirma que insetos arrancaram um de seus olhos.
Desde a reintrodução da pena de morte nos EUA, na década de 70, 99 presos que estavam no corredor da morte já foram retirados dela, e muitas condenações à pena capital foram revogadas, informou um estudo da Universidade Columbia divulgado neste mês.


Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: Entenda: Todo muçulmano apto deve fazer a peregrinação
Próximo Texto: Panorâmica - Chacina: Alemão mata ex-chefes e diretor de escola
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.