São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2004

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ARGENTINA

Organizações de oposição realizam primeiro grande ato do ano, em protesto contra mudanças nas leis trabalhistas

Piqueteiros anti-Kirchner atacam reforma

Enrique Marcarian/Reuters
Piqueteiros bloqueiam estrada que leva a Buenos Aires, durante ato contra reforma trabalhista


CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES

Na primeira grande manifestação do ano contra o governo de Néstor Kirchner, organizações piqueteiras argentinas bloquearam ontem as principais rodovias de acesso à capital, Buenos Aires, e mais de cem estradas e avenidas em 22 das 24 Províncias do país. Não foram registrados incidentes.
As manifestações começaram pela manhã e seguiram até o final do tarde, quando grupos dos chamados "piqueteiros duros" -de oposição a Kirchner- fizeram uma concentração em frente ao Congresso.
Além de Buenos Aires, os protestos atingiram as principais cidades do país, como Córdoba, Rosário, Salta e Corrientes.
Segundo informações da agência de notícias argentina Dyn, a maior aglomeração nos bloqueios registrou 2.000 piqueteiros. Para os organizadores, a participação foi de 50 mil pessoas.
Os piqueteiros são grupos de trabalhadores desempregados que, por meio de bloqueios de ruas e marchas, protestam por "trabalho genuíno" e subsídios do governo. Parte do movimento se aliou a Kirchner, mas a maioria das organizações mantém oposição ao governo.
Apesar dos protestos, Kirchner segue altamente popular -segundo recentes pesquisas, ele tem mais de 70% de aprovação.

"Lei escravista"
Os piqueteiros reivindicavam ontem a anulação da atual lei de reforma trabalhista, votada durante o governo Fernando de la Rúa (1999-2001). A Justiça argentina investiga se o governo pagou subornos para garantir a aprovação da lei no Senado.
"É uma lei exploradora e escravista", disse Raúl Castells, líder do Movimento Independente de Desocupados e Aposentados.
Os piqueteiros pediam, ainda, a retirada da proposta de reforma apresentada por Kirchner ao Congresso em substituição à anterior. "É só maquiagem", disse Castells, para quem o projeto mantém a "precarização do trabalho". Antes dos protestos, os líderes do movimento foram recebidos no Senado, onde entregaram sua proposta de reforma.
Os piqueteiros cobravam ainda a restituição de 250 mil subsídios distribuídos dentro do plano Chefas e Chefes do Lar, o principal programa de assistência do governo a desempregados. Eles haviam sido cancelados por suspeitas de irregularidade.
O governo tentou minimizar as manifestações. "Cada vez são menos os piqueteiros que bloqueiam [as ruas]. Querem que o Estado reaja para que eles se façam de vítimas, mas não vamos reagir porque não queremos mais vítimas. Vamos cuidar da segurança e tentar fazer com que a violência não se reinstale", disse o chefe-de-gabinete, Alberto Fernández. "Prefiro seguir desativando todos os dias essa bomba a que ela estoure em uma tarde, porque o dano pode ser infinito."
Em 2002, o então presidente, Eduardo Duhalde, precisou antecipar as eleições devido à crise instalada após a morte de dois manifestantes em confronto com policiais.


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