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EUA manterão embargo, diz Washington
Presidente Bush pede "eleições livres", ecoado por John McCain; democratas Obama e Hillary adotam tom conciliador
Dezenas saem às ruas em Little Havana, em Miami, mas com menos entusiasmo do que em 2006, quando Fidel se afastou por doença
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A MIAMI (FLÓRIDA)
A Casa Branca reagiu com ceticismo à renúncia de Fidel
Castro ontem, enquanto candidatos da oposição e parlamentares de ambos os partidos pediram mudanças na política
dos EUA em relação a Cuba. Já
em Little Havana, encrave de
exilados cubanos e descendentes no coração de Miami (Flórida), houve menos comemoração do que em 2006, quando foi
anunciada a doença do líder.
Informado da renúncia durante escala em Ruanda, na
África, o presidente George W.
Bush afirmou que o país deveria convocar eleições para escolher um sucessor depois de
meio século de governo comunista. "E eu quero dizer [eleições] livres e justas, não as encenadas que os irmãos Castro
tentam vender como democracia real", afirmou Bush.
"Os EUA vão ajudar o povo
de Cuba a perceber as benesses
da liberdade", afirmou, sem detalhar como o país faria isso. Indagado sobre se o ato mudava
algo na conturbada relação entre os dois países, Bush respondeu: "A pergunta na verdade
deveria ser o que [a renúncia]
significa para o povo de Cuba.
Foram eles que sofreram sob
Fidel Castro".
Em Washington, John Negroponte, o número dois do Departamento de Estado, disse
que o fim do embargo imposto
pelos EUA à ilha era "improvável". Por decisão de 1962, ratificada em 1992 e ampliada em
anos seguintes, os norte-americanos são proibidos de fazer
transações financeiras, econômicas e comerciais com Cuba,
com exceções humanitárias.
Em carta enviada ontem à secretária de Estado, Condoleezza Rice, mais de cem representantes (deputados federais) de
ambos os partidos majoritários
pediram uma revisão completa
dessa política. "Isso é uma relíquia da Guerra Fria", disse o
democrata James McGovern,
de Massachusetts.
"Políticos americanos têm sido historicamente tímidos ao
discutir mudanças nessa política, largamente devido a sua
pouco saudável e irracional obsessão com Fidel Castro", afirmou, em teleconferência ontem. "Agora, ele saiu de cena, e
devemos ver isso como uma
oportunidade."
Na campanha
É pouco provável que Bush
ou o atual Congresso consigam
fazer algo antes das eleições.
Não foi por outro motivo que os
três principais pré-candidatos
a sua sucessão se manifestaram
a respeito da renúncia.
Repetindo o discurso mais
confrontador da Casa Branca, o
republicano John McCain disse que a renúncia estava "atrasada em meio século". "A liberdade para o povo cubano ainda
não está ao alcance, e os irmãos
Castro claramente pretendem
se manter aferrados ao poder",
disse. "Devemos pressionar o
regime a soltar os presos políticos, legalizar os partidos e convocar eleições monitoradas internacionalmente."
Já o senador democrata Barack Obama afirmou que o dia
de ontem "deveria marcar o fim
de uma era sombria na história
de Cuba". Para o candidato da
oposição, que tem como proposta de política externa um
diálogo com os dirigentes estrangeiros considerados inimigos, "os EUA devem estar preparados para tomar os primeiros passos para normalizar as
relações e afrouxar o embargo".
O mesmo tom conciliatório
foi adotado por Hillary Clinton.
"Eu diria à nova liderança [cubana] que o povo dos EUA está
pronto para encontrá-la se ela
se mover em direção ao caminho da democracia."
Na "calle" Ocho
Em 2006, ao chegar a notícia
de que Fidel Castro estava
doente e os rumores de que
corria risco de morte, centenas
foram às ruas com bandeiras,
buzinaço e cantos de "na, na,
na, na, Fidel, good-bye". Ontem, cerca de cem pessoas se
reuniam em frente ao tradicional restaurante Versailles, na
"calle" Ocho. Dos 3 milhões de
hispânicos da Flórida, estima-se que 500 mil sejam cubanos.
Miguel Saavedra não se impressiona com a notícia. "Isso
não passa de um show que o governo de Havana criou para
agitar a mídia e confundir o povo de Cuba", diz o líder do grupo anticastrista Vigília Mambisa. Ainda assim, ele comemorava com uma bandeira cubana.
Nas rádios voltadas para a comunidade, comentaristas veteranos baixavam o tom. "É um
dia como outro qualquer", disse o apresentador Armando Pérez Roura, da Rádio Mambi.
"Mudança será quando os cubanos não forem mais perseguidos pelo que pensam, quando houver liberdade de expressão e eleições de verdade."
Em Miami, o comando da
Guarda Costeira não mudou a
rotina. "Está tudo normal", disse Barry Bena, porta-voz da força. Em 2006, as autoridades locais lidaram com a hipótese de
um êxodo em massa da ilha para a Flórida, que dista apenas
145 km. Segundo Bena, até a
conclusão desta edição não havia atividades fora do comum.
Com agências internacionais
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