São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Rússia absolve acusados de matar repórter

Júri em Moscou inocenta supostos participantes na morte de Anna Politkovskaya, jornalista crítica a Putin, assassinada em 2006

Colegas da jornalista dizem que falhas da Promotoria dificultaram a condenação e impediram que se chegasse até os mandantes do crime

DA REDAÇÃO

Três acusados de envolvimento direto na morte da jornalista Anna Politkovskaya, assassinada com cinco tiros ao chegar ao prédio em que morava, em Moscou, em outubro de 2006, foram inocentados unanimemente ontem por um júri popular na capital russa.
Politkovskaya, que tinha 48 anos quando foi morta, ganhou reconhecimento ao escrever sobre abusos cometidos pelas tropas russas na região separatista da Tchetchênia. Por sua cobertura crítica ao Kremlin, a jornalista sofria constante pressão do governo.
Dois irmãos tchetchenos, Dzhabrail e Igrabim Makhmudov, e um ex-policial russo, Sergei Khadzhikurbanov, estavam sendo julgados por participarem da ação que resultou na morte da jornalista. Um terceiro irmão Makhmudov, Rustam, é acusado pela Promotoria de ter sido o autor dos disparos, mas ele se encontra foragido e não estava em julgamento.
Um quarto acusado, o ex-agente do serviço secreto russo Pavel Riaguzov, também era réu no caso, porém sem ser acusado de participação direta no assassinato.
Os jurados decidiram que a Promotoria não havia sido capaz de provar a participação dos acusados no assassinato.
A atuação da Promotoria foi caracterizada pelos advogados da família da jornalista, por colegas e pela imprensa internacional como confusa e pouco rigorosa. Os representantes da acusação são criticados por não terem se esforçado para chegar até os mandantes do crime.
O editor de Politkovskaya no jornal "Novaya Gazeta", Sergei Sokolov, afirma que a interferência de autoridades do governo russo pode ter contribuído para a fragilidade da acusação.
O Kremlin sempre negou qualquer envolvimento na morte da jornalista, uma das mais veementes críticas do governo de Vladimir Putin, hoje primeiro-ministro, que era presidente da Rússia à época do assassinato.
Putin disse então que "inimigos" do governo poderiam ter cometido o crime para sujar a imagem do Kremlin. "O assassinato causa mais danos ao governo do que qualquer dos textos" de Politkovskaya, disse ele pouco depois do crime.
Diante do veredicto, do qual a Promotoria prometeu recorrer, a advogada da família da jornalista disse que a decisão poderia ajudar no esclarecimento do caso. "Qualquer declaração de culpa poderia permitir aos investigadores dizerem que o seu trabalho estava concluído. Agora há a necessidade de se fazer uma investigação efetiva", afirmou Karina Moskalenko.
Já o filho de Politkovskaya, Ilya, disse considerar que "os acusados participaram, de uma forma ou de outra, do assassinato" de sua mãe. "O grau de culpa deveria ter sido demonstrado no tribunal, mas a acusação não foi capaz de fazê-lo."
A Rússia é considerada pela organização norte-americana Comitê para a Proteção de Jornalistas o terceiro lugar mais perigoso do mundo para repórteres, atrás apenas do Iraque e da Argélia. Há um mês, outra jornalista do "Novaya Gazeta", Anastasia Baburova, 25, foi assassinada em Moscou. Ela e o advogado Stanislav Markelov, 34, como Politkovskaya crítico da atuação russa na Tchetchênia, foram mortos após participarem de entrevista coletiva.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Disputa rural: Campo aceita diálogo, mas fará locaute contra Cristina
Próximo Texto: EUA criticam Rússia, mas recuam de escudo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.