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Rússia absolve acusados de matar repórter
Júri em Moscou inocenta supostos participantes na morte de Anna Politkovskaya, jornalista crítica a Putin, assassinada em 2006
Colegas da jornalista dizem que falhas da Promotoria dificultaram a condenação e impediram que se chegasse até os mandantes do crime
DA REDAÇÃO
Três acusados de envolvimento direto na morte da jornalista Anna Politkovskaya, assassinada com cinco tiros ao
chegar ao prédio em que morava, em Moscou, em outubro de
2006, foram inocentados unanimemente ontem por um júri
popular na capital russa.
Politkovskaya, que tinha 48
anos quando foi morta, ganhou
reconhecimento ao escrever
sobre abusos cometidos pelas
tropas russas na região separatista da Tchetchênia. Por sua
cobertura crítica ao Kremlin, a
jornalista sofria constante
pressão do governo.
Dois irmãos tchetchenos,
Dzhabrail e Igrabim Makhmudov, e um ex-policial russo, Sergei Khadzhikurbanov, estavam
sendo julgados por participarem da ação que resultou na
morte da jornalista. Um terceiro irmão Makhmudov, Rustam,
é acusado pela Promotoria de
ter sido o autor dos disparos,
mas ele se encontra foragido e
não estava em julgamento.
Um quarto acusado, o ex-agente do serviço secreto russo
Pavel Riaguzov, também era
réu no caso, porém sem ser
acusado de participação direta
no assassinato.
Os jurados decidiram que a
Promotoria não havia sido capaz de provar a participação
dos acusados no assassinato.
A atuação da Promotoria foi
caracterizada pelos advogados
da família da jornalista, por colegas e pela imprensa internacional como confusa e pouco rigorosa. Os representantes da
acusação são criticados por não
terem se esforçado para chegar
até os mandantes do crime.
O editor de Politkovskaya no
jornal "Novaya Gazeta", Sergei
Sokolov, afirma que a interferência de autoridades do governo russo pode ter contribuído
para a fragilidade da acusação.
O Kremlin sempre negou
qualquer envolvimento na
morte da jornalista, uma das
mais veementes críticas do governo de Vladimir Putin, hoje
primeiro-ministro, que era
presidente da Rússia à época do
assassinato.
Putin disse então que "inimigos" do governo poderiam ter
cometido o crime para sujar a
imagem do Kremlin. "O assassinato causa mais danos ao governo do que qualquer dos textos" de Politkovskaya, disse ele
pouco depois do crime.
Diante do veredicto, do qual
a Promotoria prometeu recorrer, a advogada da família da
jornalista disse que a decisão
poderia ajudar no esclarecimento do caso. "Qualquer declaração de culpa poderia permitir aos investigadores dizerem que o seu trabalho estava
concluído. Agora há a necessidade de se fazer uma investigação efetiva", afirmou Karina
Moskalenko.
Já o filho de Politkovskaya,
Ilya, disse considerar que "os
acusados participaram, de uma
forma ou de outra, do assassinato" de sua mãe. "O grau de
culpa deveria ter sido demonstrado no tribunal, mas a acusação não foi capaz de fazê-lo."
A Rússia é considerada pela
organização norte-americana
Comitê para a Proteção de Jornalistas o terceiro lugar mais
perigoso do mundo para repórteres, atrás apenas do Iraque e
da Argélia. Há um mês, outra
jornalista do "Novaya Gazeta",
Anastasia Baburova, 25, foi assassinada em Moscou. Ela e o
advogado Stanislav Markelov,
34, como Politkovskaya crítico
da atuação russa na Tchetchênia, foram mortos após participarem de entrevista coletiva.
Com agências internacionais
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