São Paulo, sábado, 20 de fevereiro de 2010

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Brasil prega reaproximação com Honduras

Porta-voz de Lula enfatiza, porém, que solução da crise não deve criar precedente de apoio a movimentos golpistas na região

Presidente brasileiro, que participará de encontro regional em Cancún, quer reconciliação hondurenha e retorno de Manuel Zelaya


Elizabeth Ruiz/Efe
Funcionários colocam cartaz na fachada do hotel de Cancún onde acontecerá cúpula regional

SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo brasileiro mudou de posição e passou a acenar pela reaproximação com Honduras. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva considera que é importante retomar o diálogo com o governo hondurenho e que aquele país volte a integrar a OEA (Organização dos Estados Americanos).
"O presidente acha que é, sim, importante que Honduras volte à OEA e que é importante que qualquer solução que seja dada para essa crise não crie um precedente de apoio a movimentos golpistas na América Latina", disse ontem o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach.
Lula não levará nenhuma proposta concreta à reunião da Calc (Cúpula da Unidade da América Latina e do Caribe), que ocorrerá segunda e terça-feira em Cancún (México), mas avalia que o encontro é uma boa oportunidade para discutir o assunto.
"O Brasil foi lançado, um pouco a contragosto, no cerne dessa questão, pela decisão do presidente [Manuel] Zelaya de pedir abrigo na embaixada brasileira. Mas o presidente Lula não quer que perdure uma situação de ruptura do diálogo com o governo hondurenho e vai à reunião da cúpula acreditando que é uma oportunidade privilegiada para discutir o tema com os países da região e, a partir daí, tentar uma retomada desse diálogo com o [novo] governo de Honduras", afirmou Baumbach.
O Brasil ainda não reconheceu Porfirio "Pepe" Lobo, eleito em janeiro, como presidente, pois considera que sua vitória surgiu de um processo eleitoral "ilegítimo". Segundo o porta-voz, algumas medidas internas devem ser tomadas para que haja o retorno de Honduras à OEA e o reconhecimento do novo governo.
Citou como necessárias a criação de uma comissão da verdade e o retorno de Zelaya ao país para que ocorra um verdadeiro processo de reconciliação nacional. Baumbach, entretanto, deixou claro que essas questões não são condicionantes para fazer o Brasil se reaproximar de Honduras.
A Folha apurou que o Brasil não quer levar uma proposta concreta de reconhecimento do governo Lobo e de retorno de Honduras à OEA porque se envolveu demais na crise que causou a deposição de Zelaya.
Espera, portanto, que algum país que integra a Calc tome a iniciativa. Eventuais condições sugeridas pelo Brasil não deixam de ser uma forma de evitar um posicionamento automático pelo fim do impasse, já que o governo brasileiro fez ampla defesa de Zelaya.
"O presidente vai dialogar na cúpula, e vai trocar ideias com os outros mandatários que estarão presentes lá. E a posição brasileira evolui de acordo, também, com esse diálogo. O presidente quer, sim, retomar esse diálogo, acha importante e necessário, dentro do contexto da integração, dentro do contexto do diálogo na região", disse o porta-voz.

Aceno hondurenho
Anteontem, Lobo anunciou que retirará uma demanda apresentada contra o Brasil na Corte Internacional de Justiça de Haia, como forma de restabelecer os laços com a comunidade internacional.
A denúncia fora apresentada em outubro passado pelo então presidente de facto de Honduras, Roberto Micheletti, um mês após Zelaya ter se refugiado na embaixada brasileira em Tegucigalpa.
Zelaya permaneceu por quatro meses na embaixada sitiada por militares e policiais. Embarcou para a República Dominicana em 27 de janeiro, quando se encerrou seu mandato e Lobo assumiu o governo.
Ontem, Lobo pediu que Zelaya "deixe de atrapalhar Honduras" e rechaçou a ideia do ex-mandatário de dissolver setores das Forças Armadas envolvidos no golpe.

Com agências internacionais



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