São Paulo, terça-feira, 20 de março de 2007

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Bush pede tempo, 4 anos depois da invasão do Iraque

Presidente diz que "luta pode ser ganha" e procura dividir as responsabilidades

Segundo ele, Congresso americano têm a obrigação de destinar mais dinheiro ao conflito; ex-vice de Saddam será enforcado em Bagdá


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

No aniversário de quatro anos da invasão do Iraque, George W. Bush foi à televisão pedir mais tempo aos norte-americanos. Com a popularidade em recorde negativo e na segunda metade de seu último mandato, o presidente procurou se distanciar do conflito, ao chamar as forças da coalizão liderada pelos EUA de "eles" e dividir a responsabilidade da condução da guerra com o Congresso.
"Há quatro anos, as forças da coalizão deram início à Operação Liberdade Iraquiana para tirar Saddam Hussein do poder", começou o republicano. "Eles fizeram isso para eliminar a ameaça que o regime dele oferecia ao Oriente Médio e ao mundo." "Hoje", continuou, "o mundo está livre do tirano, que foi responsabilizado por seus crimes por seu próprio povo".
Na fala de pouco mais de dez minutos, Bush afirmou que a missão mais importante é "ajudar os iraquianos a tornar sua capital segura", operação que "ainda está nos estágios iniciais", e avisou que "a nova estratégia ainda precisará de mais tempo para dar resultado". "A luta é difícil, mas pode ser ganha", disse.
Bush aproveitou a ocasião para pressionar publicamente o Congresso, desde janeiro nas mãos da oposição democrata.
Neste momento, a Câmara dos Representantes (deputados federais) dos EUA discute um projeto de lei que aprova US$ 124 bilhões em despesas militares extraordinárias, dos quais US$ 95,5 bilhões para o Iraque. A proposta traz uma cláusula posta pelos democratas que vincula a liberação da verba a uma retirada escalonada das tropas até o fim de 2008. Deve ser votada nesta semana.
"Eles [os parlamentares] têm a responsabilidade de assegurar que essa lei garanta os fundos e a flexibilidade de que nossas tropas precisam", afirmou.
O presidente dos EUA se recusa a aceitar prazos para a retirada dos soldados norte-americanos do Iraque. Segundo Bush, um Iraque autônomo faria "os terroristas emergirem do caos".

Reação democrata
A reação da oposição veio minutos depois do discurso. "Paciência não é uma estratégia", disse o senador John Kerry, candidato derrotado nas eleições presidenciais de 2004. Opinião semelhante mostrou o líder da maioria no Senado, Harry Reid: "Um balanço dos últimos quatro anos revela uma série de fracassos do governo Bush: ao planejar a ocupação, ao abastecer nossas tropas e ao prestar contas".
Nem só os políticos de oposição parecem discordar do raciocínio de Bush. Segundo levantamento divulgado pela CNN na semana passada, 54% dos entrevistados acreditam que os EUA não têm condições de ganhar a guerra, a primeira vez em quatro anos que a maioria tem essa opinião. O percentual é idêntico ao dos que responderam que o governo "confundiu deliberadamente" a população na questão sobre se Saddam tinha ou não armas de destruição em massa -não tinha, como comprovado depois.
Sentimento semelhante vem do Iraque. Levantamento encomendado por três emissoras de TV revela que 39% dos iraquianos consideram boa sua vida, ante 71% que pensavam assim havia dois anos. Já 35% acreditam que terão uma vida melhor em um ano, queda em relação aos 64% de 2005.
Mesmo a secretária de Estado de Bush, Condoleezza Rice, deixou escapar algumas ressalvas. Em entrevista pela manhã, em que de resto defendeu a invasão, afirmou que os EUA "provavelmente" erraram ao não enviar mais tropas logo após a condenação de Saddam.

Forca
Assim como Saddam o foi no fim do ano passado, seu vice-presidente quando da queda do regime, Taha Yassin Ramadan, também deve ser enforcado em breve.
Autoridades iraquianas solicitaram aos EUA, que mantêm Ramadan sob sua custódia, que o entregassem para execução ainda hoje.
Ramadan, Saddam Hussein e mais dois membros do antigo governo já executados foram condenados pelo massacre de 148 xiitas em 1982.


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