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Áustria condena homem que prendeu filha a pena perpétua
Josef Fritzl é culpado de seis crimes, inclusive assassinato por omitir socorro a bebê; parte da pena será em ala psiquiátrica
Engenheiro diz se lamentar por ter mantido Elisabeth no porão e estuprado-a por
24 anos; confissão não amenizou a decisão do júri
DA REDAÇÃO
Após admitir culpa e dizer-se
arrependido, o austríaco Josef
Fritzl, 73, foi condenado ontem
à prisão perpétua por crimes de
assassinato, estupro, escravização, coerção, cárcere privado e
incesto. O engenheiro havia
mantido a filha Elisabeth presa
por 24 anos no porão de sua casa, estuprando-a repetidamente -3.000 vezes, segundo as
contas da acusação e da defesa- e tido sete filhos com ela.
O mais grave para a Justiça
austríaca, porém, foi o assassinato por omissão de socorro de
uma das crianças -que morreu
recém-nascida em 1996 de males respiratórios e teve o corpo
incinerado no jardim da casa.
"Arrependo-me do fundo do
meu coração. Infelizmente não
posso consertar isso. Só posso
tentar limitar os danos que causei", declarou ontem Fritzl ao
tribunal, a 69 km de Viena.
A promotora Christiane Burkheiser respondeu pedindo aos
jurados que não fossem "ingênuos como foi Elisabeth há 24
anos" e condenassem o réu.
Logo veio o veredicto, que
não considerou a admissão de
culpa um atenuante. Fritzl deve passar ao menos 15 anos preso -já cumpriu 11 meses da pena- até ter direito à liberdade
condicional. Mas, segundo seu
advogado, ele não vai apelar e já
está preparado para passar o
resto da vida na cadeia.
Martírio
O martírio de Elisabeth (hoje
com 42 anos) começou em
1984, quando o pai pediu sua
ajuda em um conserto no porão
-um bunker que inclui um
abrigo nuclear e cômodos secretos e ultraprotegidos. Fritzl
sedou a filha com éter e prendeu-a. Seu argumento é que a
menina de 18 anos era desobediente, e ele queria protegê-la
de drogas e más companhias.
Simulou que ela tinha fugido de
casa, e como Elisabeth de fato
já fugira antes, a mãe da jovem
acreditou.
Elisabeth passou os primeiros meses de cativeiro acorrentada, até o pai remover as correntes porque "atrapalhavam
sua atividade sexual com a filha", segundo a Promotoria.
Do pequeno porão Elisabeth
não viu a queda do Muro de
Berlim, o fim do regime do
Apartheid, os atentados de 11
de Setembro. Não conheceu a
internet, o celular, o DVD. Em
vez disso, sofreu abusos e engravidou seis vezes -uma delas, de gêmeos. Os seis filhos-netos sobreviventes têm hoje
entre 6 e 20 anos. Três das
crianças foram viver "na superfície", com o pai-avô -que simulou seu abandono na porta
de casa pela filha- e a avó; os
outros três só conheceram a luz
do sol no ano passado.
Dados do processo coletados
pelo jornal "Guardian" descrevem o porão como um lugar
mal ventilado, onde calor, frio e
mofo eram sentidos intensamente, e ratos tinham de ser
caçados por Elisabeth com as
próprias mãos. Nos primeiros
anos, Fritzl e a filha não conversavam; depois, ele passou a
ameaçá-la e aos filhos-netos,
dizendo que as portas de segurança lhes dariam choques
mortais se tentassem escapar.
Mas a mais velha das filhas-netas adoeceu gravemente em
abril de 2008, e Fritzl teve que
levá-la ao hospital. Os médicos
se surpreenderam com a jovem
de aparência excepcionalmente pálida e dentes apodrecidos.
Logo o caso foi desmascarado.
Em seu testemunho, Fritzl
tentou atribuir seu comportamento aos maus tratos que disse ter sofrido na infância. A psiquiatra Adelheid Kastner, que
o avaliou, disse ontem à corte
que, "no nível mental, [o réu]
está bem. Mas no nível emocional, tem um enorme déficit".
Os primeiros anos da sentença de Fritzl devem ser na ala
psiquiátrica de uma penitenciária em Viena, até que o considerem apto a uma prisão comum. Se quiser escrever e vender suas memórias, ele terá de
pedir autorização ao governo.
Com agências internacionais
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