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Mandato de Chávez determina tempo da transição cubana
Parceria que garante petróleo barato facilita reformas, mas projeto do governo é diversificar suas relações até 2013
Há inspiração chinesa na abertura econômica com partido único, mas analistas salientam as diferenças
que jogam contra Cuba
DA ENVIADA A HAVANA
Ainda há dúvidas sobre se há
um plano estruturado por trás
das exortações para "mudar o
que tem de ser mudado" e promover "mudanças estruturais"
em Cuba, ambas citações dos
discursos mais importantes de
Raúl Castro na liderança da
ilha. Mas um aspecto é certo: a
melhora das perspectivas econômicas cubanas está ligada à
parceria estratégica com a Venezuela para a troca de petróleo barato por serviços médicos
e educacionais.
Mais premente ainda: a
união Havana-Caracas tem
uma data-chave, o ano de 2013,
quando termina o atual mandato de Hugo Chávez.
"Eles não dizem isso claramente nos discursos e não dirão. Mas, se você observa os
passos da política externa do
governo cubano, são movimentos claros para reduzir a dependência da Venezuela", diz o
professor Philip Peters, do Lexington Institute (EUA), que
assessorou o Congresso americano em temas cubanos.
Peters e o cubano-americano
Mauricio Font, diretor do Bildner Center, de Nova York, citam os mesmos movimentos de
Havana para não repetir o erro
de ultradependência da URSS:
as relações com China, Brasil,
Chile, Rússia e México, com o
qual as trocas diplomáticas foram plenamente retomadas.
Quanto às comparações dos
pequenos passos de Cuba com
o modelo chinês, os analistas
vêem pontos convergentes,
mas têm reservas. "Num sentido muito geral, de alavancar a
economia e ter o objetivo de
manter um sistema de partido
único, podemos falar de inspiração chinesa", diz Peters.
Militares e empresas
"Sabemos que Raúl tem relações antigas com os dirigentes
chineses", afirma Font, lembrando que o dirigente comandou por anos uma burocracia
militar que comanda os negócios estatais e negociou com
grandes corporações para criar
as empresas mistas que hoje
atuam no turismo e mineração.
Também há semelhanças no
gradualismo sugerido por Raúl.
A China levou 30 anos para implementar suas reformas, e começou justamente no campo,
com o fim das comunas e a institucionalização das propriedades familiares.
Mas o cubano-americano diz
que as semelhanças param por
aí. Cuba é pequena, com menos
de 12 milhões de habitantes,
não tem a importância geopolítica da qual os 1,3 bilhão de chineses gozam. Mais: é vizinha
dos EUA, e ainda depende dos
passos tomados pelo próximo
ocupante da Casa Branca.
Os economistas da ilha também discutem qual a vocação
de Cuba no mercado mundial:
se deve investir os parcos recursos para estimular alguma
produção industrial -a única
com perspectiva é a farmacêutica, que cresceu, também na
esteira da pareceria com Caracas, ou embarcar com força no
mercado de serviços (turismo e
serviços médicos e odontológicos).
(FLÁVIA MARREIRO)
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