São Paulo, domingo, 20 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mandato de Chávez determina tempo da transição cubana

Parceria que garante petróleo barato facilita reformas, mas projeto do governo é diversificar suas relações até 2013

Há inspiração chinesa na abertura econômica com partido único, mas analistas salientam as diferenças que jogam contra Cuba

DA ENVIADA A HAVANA

Ainda há dúvidas sobre se há um plano estruturado por trás das exortações para "mudar o que tem de ser mudado" e promover "mudanças estruturais" em Cuba, ambas citações dos discursos mais importantes de Raúl Castro na liderança da ilha. Mas um aspecto é certo: a melhora das perspectivas econômicas cubanas está ligada à parceria estratégica com a Venezuela para a troca de petróleo barato por serviços médicos e educacionais.
Mais premente ainda: a união Havana-Caracas tem uma data-chave, o ano de 2013, quando termina o atual mandato de Hugo Chávez.
"Eles não dizem isso claramente nos discursos e não dirão. Mas, se você observa os passos da política externa do governo cubano, são movimentos claros para reduzir a dependência da Venezuela", diz o professor Philip Peters, do Lexington Institute (EUA), que assessorou o Congresso americano em temas cubanos.
Peters e o cubano-americano Mauricio Font, diretor do Bildner Center, de Nova York, citam os mesmos movimentos de Havana para não repetir o erro de ultradependência da URSS: as relações com China, Brasil, Chile, Rússia e México, com o qual as trocas diplomáticas foram plenamente retomadas.
Quanto às comparações dos pequenos passos de Cuba com o modelo chinês, os analistas vêem pontos convergentes, mas têm reservas. "Num sentido muito geral, de alavancar a economia e ter o objetivo de manter um sistema de partido único, podemos falar de inspiração chinesa", diz Peters.

Militares e empresas
"Sabemos que Raúl tem relações antigas com os dirigentes chineses", afirma Font, lembrando que o dirigente comandou por anos uma burocracia militar que comanda os negócios estatais e negociou com grandes corporações para criar as empresas mistas que hoje atuam no turismo e mineração.
Também há semelhanças no gradualismo sugerido por Raúl. A China levou 30 anos para implementar suas reformas, e começou justamente no campo, com o fim das comunas e a institucionalização das propriedades familiares.
Mas o cubano-americano diz que as semelhanças param por aí. Cuba é pequena, com menos de 12 milhões de habitantes, não tem a importância geopolítica da qual os 1,3 bilhão de chineses gozam. Mais: é vizinha dos EUA, e ainda depende dos passos tomados pelo próximo ocupante da Casa Branca.
Os economistas da ilha também discutem qual a vocação de Cuba no mercado mundial: se deve investir os parcos recursos para estimular alguma produção industrial -a única com perspectiva é a farmacêutica, que cresceu, também na esteira da pareceria com Caracas, ou embarcar com força no mercado de serviços (turismo e serviços médicos e odontológicos). (FLÁVIA MARREIRO)


Texto Anterior: Artigos de Fidel fream análises mais ousadas
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.