São Paulo, segunda-feira, 20 de maio de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Vice-presidente americano diz que "é quase certo" que haverá outras ações da rede terrorista Al Qaeda

Cheney prevê novo atentado nos EUA

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

A possibilidade de um novo ataque terrorista de grandes proporções contra os EUA é "quase certa", afirmou ontem o vice-presidente Dick Cheney.
"Na minha opinião, a perspectiva de um futuro ataque contra os EUA é quase certa", disse ele durante o programa de TV "Meet the Press", da rede NBC. "Não sabemos se será amanhã, na próxima semana ou no próximo ano, mas eles vão continuar tentando. E nós teremos que estar preparados", afirmou, referindo-se à rede terrorista Al Qaeda, comandada pelo saudita Osama bin Laden. "Não é uma questão de "se", mas de "quando"."
O alerta de Cheney é feito quatro dias depois da revelação de que o presidente dos EUA, George W. Bush, foi avisado pela CIA antes de 11 de setembro de que Bin Laden planejava sequestrar aviões comerciais do país.
Embora as últimas pesquisas mostrem que a alta popularidade do presidente não foi abalada por essa revelação, a maioria dos norte-americanos acha que Bush errou ao não ter repassado à população o alerta que recebeu da CIA.
Além disso, a oposição democrata tem usado esse episódio para criticar Bush abertamente, fazendo ruir a sustentação parlamentar maciça a Bush a seis meses das eleições parlamentares de novembro.
Ao fazer seu alerta ontem, Cheney disse que não está tentando absolver antecipadamente o governo caso outros ataques ocorram. O vice-presidente também não quis vincular a possibilidade de um novo ataque a indícios específicos dos serviços de inteligência dos EUA, dizendo que nenhum indício específico de ataque chegou à Casa Branca.
Segundo Cheney a certeza de um novo atentado é uma "simples constatação lógica" de que não é possível ter controle total sobre grupos terroristas. "Se tivermos 99% de controle, é possível que o 1% restante transforme-se num atentado." Apesar da ressalva, ele confirmou a notícia, revelada no sábado, de que o serviço de informações dos EUA detectou sinais de que outro ato terrorista poderia estar em andamento.
O "New York Times" informou que as agências de inteligência interceptaram recentemente comunicação entre membros da Al Qaeda sugerindo a preparação de um ataque "tão grande ou maior" do que os de 11 de setembro.
Indagado se Bin Laden prepara-se para atacar novamente alvos norte-americanos, Cheney disse: "Achamos que está. Certamente captamos um ruído no sistema indicando que eles continuam tentando". O vice-presidente disse que esses indícios são genéricos e devem ser vistos com cuidado porque podem ser manobras diversionistas da Al Quaeda para enganar a CIA e o FBI.
Segundo Cheney, a população precisa ficar atenta e não perder o grau de alerta pós-11 de setembro. "Existe uma grande tentação da população de rever 11 de setembro e dizer, "bem, não fomos atacados em oito meses, portanto as ameaças acabaram". Não acho que esse seja o caso."
A assessora para segurança nacional da Casa Branca, Condoleezza Rice, reforçou a tensão implícita no aviso de Cheney ao declarar ontem que o grau de alerta hoje nos EUA é o maior desde 11 de setembro. Desde os atentados que destruíram as torres do World Trade Center (WTC) e atingiram o Pentágono, o governo já alertou os cidadãos cinco vezes para o risco de ataques.

Defesa de Bush
Cheney criticou duramente a oposição democrata por ter dito nos últimos dias que Bush falhou por não ter agido apropriadamente depois de receber o alerta da CIA no dia 6 de agosto. "Tenho um sentimento profundo de raiva só de pensar que alguém possa sugerir que o presidente dos EUA tinha conhecimento prévio do que ocorreria e não agiu. Achei que isso passou dos limites."
Cheney disse que reviu o memorando entregue pela CIA a Bush em agosto e não viu nada que pudesse fazer a Casa Branca evitar os atentados. No entanto, reconheceu que houve falhas dos serviços de informação, afirmando que a CIA não conseguiu coordenar suas informações com o FBI, a agência de inteligência interna dos EUA.
"Não há dúvidas de que houve falhas", disse Cheney. "Mas não posso dizer que, se tivesse havido coordenação...chegaríamos à conclusão de que eles iriam atingir o WTC e o Pentágono."


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