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NOVO ESTADO
Xanana Gusmão é empossado presidente; país, extremamente pobre, tem sido "laboratório" de órgãos internacionais
Amparado pela ONU, Timor Leste se torna independente
DA REDAÇÃO
Depois de mais de quatro séculos sob dominação estrangeira,
Timor Leste declarou ontem sua
independência e empossou seu
primeiro presidente, o ex-guerrilheiro Xanana Gusmão, 55.
Estavam presentes à cerimônia
no estádio de Taci Tolúna, perto
de Dili (capital), representantes
de mais de 90 países, entre eles a
presidente da Indonésia, Megawati Sukarnoputri, o ex-presidente dos EUA Bill Clinton, além do
secretário-geral da ONU, Kofi
Annan.
Ao som de "Ó, Liberdade", cantada pela soprano Barbara Hendricks, cerca de 100 mil pessoas,
parte delas vestida de branco e
com velas nas mãos, acompanharam o içamento da bandeira do
mais novo Estado do mundo
-em vermelho, preto e amarelo,
com uma estrela branca.
Em seu discurso após a posse,
Gusmão afirmou que o passado
"não deve continuar a manchar
nossos espíritos e impedir nossas
atitudes e nossa conduta", referindo-se aos 24 anos de domínio
da Indonésia. Disse também, em
bahasa indonésio, que "poderei
perdoar, mas não esquecer".
Timor Leste foi colônia portuguesa até 1975, quando foi invadido pela Indonésia. Em 1999, depois de violentos confrontos com
as forças de ocupação, que resultaram em milhares de mortos, o
país passou a ser administrado
pela ONU.
Apesar do passado marcado pelo conflito, Gusmão acompanhou
Megawati a um cemitério para
homenagear os militares indonésios mortos no Timor Leste, pouco antes do início da cerimônia de
independência. Em seguida entrou no estádio de mãos dadas
com a presidente do país que o
manteve preso por sete anos.
Essas atitudes do presidente
eleito foram alvo de pesadas críticas de alguns líderes timorenses.
Gusmão destacou em seu discurso a situação de penúria do
país, dos mais pobres do mundo.
"Nossa independência não terá
nenhum valor se o povo de Timor
Leste continuar a passar todo tipo
de dificuldade." Concluiu: "Conseguimos nossa independência
para melhorar nossas vidas".
Já o secretário-geral da ONU
previu um "brilhante futuro" para "a pequena nação capaz de inspirar o mundo". Annan também
reconheceu "a coragem e a perseverança de Timor Leste" e lembrou aqueles "que não estão mais
entre nós, mas que sonharam
com este momento".
O Prêmio Nobel da Paz de 1996,
José Ramos Horta, que exercerá o
cargo de chanceler no Estado recém-criado, afirmou que agora "é
tempo de paz, tolerância e perdão". "Nós estamos muito felizes.
Nós somos um povo simples e orgulhoso que merece a paz, que
merece a liberdade", concluiu.
Experiência inédita
A independência do Timor é o
capítulo final da inédita experiência de governo em que se envolveu a comunidade internacional
no segundo semestre de 1999.
Na época, a ex-Província indonésia e ex-colônia portuguesa era
uma terra arrasada por milicianos
que estavam inconformados com
a esmagadora vitória da opção independentista em um referendo,
em agosto de 1999.
A votação foi precedida de e sucedida por episódios de violência,
em que morreram mais de mil
pessoas. A violência entre a maioria católica e a minoria muçulmana, pró-Indonésia, deixou cerca
de 200 mil pessoas mortas desde
1975, ano da invasão das tropas
indonésias.
Sem instituições estabelecidas,
sem economia formal ou informal, a nação acabou absorvida
pela ONU com o objetivo de ser
preparada para a independência e
tem servido como "laboratório" na
prática de ajuda internacional.
Em dois anos e meio, a República Democrática de Timor Leste
ganhou Parlamento, partidos políticos, Constituição e presidente
eleito, o carismático Xanana Gusmão, líder histórico da resistência
à ocupação indonésia, após o fim
da colonização portuguesa.
Escolas foram refeitas, um museu reinaugurado, a universidade,
reerguida. Mas a economia está
estagnada e sem sinais de recuperação no curto prazo, embora a
médio prazo deva melhorar com
a entrada de recursos da exploração de gás e petróleo no estreito
que separa a ilha da Austrália.
Com agências internacionais
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