São Paulo, segunda-feira, 20 de maio de 2002

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NOVO ESTADO

Xanana Gusmão é empossado presidente; país, extremamente pobre, tem sido "laboratório" de órgãos internacionais

Amparado pela ONU, Timor Leste se torna independente

DA REDAÇÃO

Depois de mais de quatro séculos sob dominação estrangeira, Timor Leste declarou ontem sua independência e empossou seu primeiro presidente, o ex-guerrilheiro Xanana Gusmão, 55.
Estavam presentes à cerimônia no estádio de Taci Tolúna, perto de Dili (capital), representantes de mais de 90 países, entre eles a presidente da Indonésia, Megawati Sukarnoputri, o ex-presidente dos EUA Bill Clinton, além do secretário-geral da ONU, Kofi Annan.
Ao som de "Ó, Liberdade", cantada pela soprano Barbara Hendricks, cerca de 100 mil pessoas, parte delas vestida de branco e com velas nas mãos, acompanharam o içamento da bandeira do mais novo Estado do mundo -em vermelho, preto e amarelo, com uma estrela branca.
Em seu discurso após a posse, Gusmão afirmou que o passado "não deve continuar a manchar nossos espíritos e impedir nossas atitudes e nossa conduta", referindo-se aos 24 anos de domínio da Indonésia. Disse também, em bahasa indonésio, que "poderei perdoar, mas não esquecer".
Timor Leste foi colônia portuguesa até 1975, quando foi invadido pela Indonésia. Em 1999, depois de violentos confrontos com as forças de ocupação, que resultaram em milhares de mortos, o país passou a ser administrado pela ONU.
Apesar do passado marcado pelo conflito, Gusmão acompanhou Megawati a um cemitério para homenagear os militares indonésios mortos no Timor Leste, pouco antes do início da cerimônia de independência. Em seguida entrou no estádio de mãos dadas com a presidente do país que o manteve preso por sete anos.
Essas atitudes do presidente eleito foram alvo de pesadas críticas de alguns líderes timorenses.
Gusmão destacou em seu discurso a situação de penúria do país, dos mais pobres do mundo. "Nossa independência não terá nenhum valor se o povo de Timor Leste continuar a passar todo tipo de dificuldade." Concluiu: "Conseguimos nossa independência para melhorar nossas vidas".
Já o secretário-geral da ONU previu um "brilhante futuro" para "a pequena nação capaz de inspirar o mundo". Annan também reconheceu "a coragem e a perseverança de Timor Leste" e lembrou aqueles "que não estão mais entre nós, mas que sonharam com este momento".
O Prêmio Nobel da Paz de 1996, José Ramos Horta, que exercerá o cargo de chanceler no Estado recém-criado, afirmou que agora "é tempo de paz, tolerância e perdão". "Nós estamos muito felizes. Nós somos um povo simples e orgulhoso que merece a paz, que merece a liberdade", concluiu.

Experiência inédita
A independência do Timor é o capítulo final da inédita experiência de governo em que se envolveu a comunidade internacional no segundo semestre de 1999.
Na época, a ex-Província indonésia e ex-colônia portuguesa era uma terra arrasada por milicianos que estavam inconformados com a esmagadora vitória da opção independentista em um referendo, em agosto de 1999.
A votação foi precedida de e sucedida por episódios de violência, em que morreram mais de mil pessoas. A violência entre a maioria católica e a minoria muçulmana, pró-Indonésia, deixou cerca de 200 mil pessoas mortas desde 1975, ano da invasão das tropas indonésias.
Sem instituições estabelecidas, sem economia formal ou informal, a nação acabou absorvida pela ONU com o objetivo de ser preparada para a independência e tem servido como "laboratório" na prática de ajuda internacional.
Em dois anos e meio, a República Democrática de Timor Leste ganhou Parlamento, partidos políticos, Constituição e presidente eleito, o carismático Xanana Gusmão, líder histórico da resistência à ocupação indonésia, após o fim da colonização portuguesa.
Escolas foram refeitas, um museu reinaugurado, a universidade, reerguida. Mas a economia está estagnada e sem sinais de recuperação no curto prazo, embora a médio prazo deva melhorar com a entrada de recursos da exploração de gás e petróleo no estreito que separa a ilha da Austrália.


Com agências internacionais

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