São Paulo, sexta-feira, 20 de maio de 2005

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CUBA

Opositores fazem, em Havana, congresso ao ar livre, que será observado por cubanos de Miami, mas divisões persistem

Dissidência desafia Fidel e faz reunião hoje

Jorge Rey/Associated Press
Dissidentes cubanos põem faixa que alude ao congresso que ocorrerá hoje, em Havana, para reunir membros da oposição a Fidel


PAULO PARANAGUÁ
DO "LE MONDE"

Dois anos depois da onda de prisões que assustou o mundo, a dissidência cubana quer mostrar que ainda está viva. Marta Beatriz Roque, a única mulher entre os 75 opositores condenados em 2003, está por trás de um congresso de dissidentes que ocorrerá hoje, ao ar livre, perto do aeroporto internacional de Havana.
"A realização da reunião ao ar livre mostra as condições excepcionais existentes em Cuba", afirmou René Gómez Manzano, outro dos organizadores do evento.
"O regime totalitário, que controla a economia e a política, impede o desenvolvimento de uma sociedade civil. Não podemos nos reunir num salão público ou num teatro porque ficaríamos à mercê de uma ordem oficial de último minuto. Como temos os pés no chão, faremos o encontro atrás da casa de Félix Bonne."
Este e Manzano, além de Valdimiro Roca, foram os inspiradores do manifesto "A Pátria Pertence a Todos" (1997), pelo qual tiveram de cumprir pena de prisão.
"A sentença de 20 anos de prisão contra Marta Beatriz determinada em 2003 só foi suspensa por razões de saúde, mas ela pode voltar à prisão a qualquer momento", disse Gómez.
Na última segunda-feira, o ditador Fidel Castro acusou os dissidentes de serem "mercenários" a serviço dos EUA e de terem escolhido se reunir em 20 de maio, que era o Dia da República, porque se trata de uma "data especial para os apátridas e os anexionistas". "Escolhemos o dia 20 de maio justamente porque se trata de uma data proscrita", afirmou Gómez.
O governo expulsou do país um senador tcheco e se prepara para deportar um legislador alemão convidados para o encontro.

Oposição divida
Embora tenha sido apresentado como um projeto que buscará unir a oposição, o congresso foi contestado por dissidentes que preferiram não participar da iniciativa. "No início, a reunião para fortalecer a sociedade civil tinha um caráter abrangente e horizontal. Mas tomou rumos antidemocráticos", disse o opositor socialista Manuel Cuesta Morua.
"Em vez de preservar o pluralismo, os organizadores forjaram laços com o Escritório de Interesses Americanos em Havana e com a extrema direita de Miami, que apóia o embargo americano." Os cubanos de Miami acompanharão o congresso da oposição.
Mesmo assim, o socialista deseja sucesso ao evento de hoje, que, segundo ele, é "a principal iniciativa da oposição desde 2003".
O social-democrata Vladimiro Roca admitiu que as posições dos organizadores "não correspondem às suas", mas disse que isso não o impedirá de aceitar o convite. "Apóio qualquer iniciativa da oposição", afirmou Roca.
O mais conhecido dos dissidentes cubanos, Oswaldo Payá, líder do Movimento Cristão de Libertação e autor do Projeto Varela, que pede "reformas democráticas sob a égide da Constituição", não participará do evento. Ele discorda de seus organizadores e acusa os "extremistas de Miami, que são apoiados pelo governo americano, de tentar atrapalhar as mudanças pacíficas em Cuba".
Elizardo Sánchez, um dos pioneiros da oposição cubana, apóia todas as correntes dissidentes da ilha. "Há 18 anos, quando entramos na dissidência, éramos dez. Hoje os opositores são milhares. Não estamos divididos. Estamos nos multiplicando", afirmou.


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