São Paulo, sexta-feira, 20 de maio de 2005

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TRAGÉDIA NA ÁSIA

Sismo causador do tsunami que matou quase 180 mil no Índico foi o mais longo já registrado, dizem cientistas

Planeta todo tremeu com abalo de Sumatra

RANDOLPH E. SCHIMID
DA ASSOCIATED PRESS

O terremoto que atingiu a costa de Sumatra em dezembro de 2004 e provocou o tsunami que matou quase 180 mil pessoas em 11 países foi o mais longo desde que os tremores passaram a ser medidos e abalou toda a superfície da Terra, disseram cientistas. Semanas depois, o planeta ainda estava tremendo
O abalo sísmico foi o resultado da mais longa ruptura de uma falha na superfície terrestre já observada (algo entre 1160 e 1250 quilômetros) e demorou cerca de dez minutos. A duração média de um terremoto é de 30 segundos.
O terremoto do tsunami foi o primeiro dessa magnitude a ser registrado e estudado por novos instrumentos digitais de medição sísmica, espalhados pelo mundo. Os resultados começam a emergir na edição da revista "Science" desta semana, que publica uma seção especial com seis artigos científicos sobre o tremor.
"Trata-se de um evento revolucionário. Nunca tivemos dados tão abrangentes sobre um grande terremoto, pois não tínhamos instrumentos para reuni-los há 40 anos", disse Thorne Lay, professor de Ciências da Terra e diretor do Instituto de Geofísica e Física Planetária da Universidade da Califórnia em Santa Cruz.
O terremoto ocorreu quando duas placas tectônicas gigantescas que formam a superfície terrestre entraram em atrito. No local do choque, a placa da Eurásia estava sendo forçada para baixo pela placa Indo-australiana, que descia. O tremor liberou a ponta da placa da Eurásia, que levantou o fundo do oceano Índico e deu origem ao tsunami, uma onda gigantesca que matou mais de 176 mil pessoas e deixou mais de 50 mil desaparecidos, diz o estudo.
Ainda de acordo com os artigos, a porção elevada do fundo do oceano deslocou tanta água da baía de Bengala e do mar de Adaman que o nível do mar no mundo inteiro subiu em 0,1 milímetro.
"Nenhum ponto sobre a Terra permaneceu intacto", escreveu Roger Bilham, da Universidade do Colorado.
De fato, movimentações no solo de até um centímetro ocorreram em toda parte da superfície do planeta, embora na maioria dos casos tenha sido muito pequena para ser sentida. O tremor "deu um chacoalhão no nosso planeta" que foi sentido por semanas, ressaltou uma equipe de pesquisadores da Universidade Yale.
Segundo cálculos do grupo, o terremoto provocou na Terra oscilações como as de um sino, por períodos de 17 minutos, que eles conseguiram medir por semanas após o ocorrido. Um fenômeno semelhante foi notado pela primeira vez em um terremoto em 1960 no Chile.
O terremoto original do dia 26 de dezembro de 2004 teve sua magnitude calculada entre 9,1 e 9,3 na escala Richter, e um segundo terremoto em 28 de março deste ano chegou a 8,6.
Entre as outras conclusões dos estudos ainda está o fato de, no Sri Lanka, a mais de 1600 quilômetros do epicentro, o chão ter se movido 10 centímetros, enquanto no Alasca, ondas de tremor provocaram 14 terremotos locais.
Além disso, a ruptura se alastrou de norte a sul: na Rússia, para onde convergia o movimento, os aparelhos registraram uma freqüência maior, enquanto na Austrália, que ficava na direção contrária das ondas, ele foi registrado com uma freqüência menor.
Também assinaram artigos Charles J. Ammon (Universidade Estadual da Pensilvânia), Michael West (Universidade do Alasca) e Roland Burgmann (Universidade da Califórnia em Berkeley).


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