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França admite conversas com Hamas e irrita EUA
Chanceler defende "contatos" com grupo palestino
DO "NEW YORK TIMES", EM PARIS
A França confirmou ontem
que vem mantendo contatos
com os líderes do grupo radical
islâmico Hamas, que governa
Gaza há alguns meses, a fim de
tentar compreender melhor
suas posições.
Os EUA, cujo presidente,
George W. Bush, recentemente
comparou negociar com o Hamas a apaziguar os nazistas,
não demoraram a criticar os
franceses pelos contatos, afirmando que não ajudam em nada. O chanceler francês, Bernard Kouchner, enfatizou que
não houve negociações com o
Hamas, classificado como grupo terrorista por Israel, pelos
EUA e pela União Européia.
"Não se trata de um relacionamento, mas de contatos",
disse Kouchner à rádio Europe
1. "Não somos os únicos a fazê-los", disse. "Precisamos poder
conversar se queremos desempenhar um papel."
Kouchner confirmou uma
reportagem do jornal "Figaro",
na qual é citado o diplomata
aposentado francês Yves Aubin
de la Messuzière, antigo embaixador ao Iraque, que afirmou
ter se reunido um mês atrás
com Ismail Haniyeh, o primeiro-ministro do Hamas, e com
Mahmoud Zahar, outro líder da
organização palestina.
A confirmação dos contatos
veio alguns dias antes da visita
de Kouchner à região, que incluirá uma passagem por Belém, na Cisjordânia. A confirmação também surgiu menos
de um dia após Bush ter concluído visita ao Oriente Médio,
na qual ele reafirmou sua oposição a contatos com o Hamas.
Questionado sobre a conversa entre a França e o Hamas,
Sean McCormack, porta-voz
do Departamento de Estado
norte-americano, disse: "Não
acreditamos que isso seja útil
em termos de promover a paz
na região". Em Jerusalém, Arye
Merkel, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores israelense, disse que seu governo
já havia tratado dessa reunião
"junto aos níveis mais elevados" do governo francês e recebido "garantias de que não há
mudança na posição francesa
quanto ao Hamas".
Sem novidades
De acordo com o relato de
Aubin de La Messuzière, seus
interlocutores no Hamas não
disseram nada que o movimento já não tivesse reiterado em
público. "Eles me garantiram
que estão prontos a aceitar um
Estado palestino que siga as
fronteiras de 1967, e isso representa reconhecimento indireto
de Israel", afirmou.
O presidente francês, Nicolas
Sarkozy, visto como favorável a
Israel, fará uma visita oficial ao
país em junho e dedicará "algumas horas" a percorrer os territórios palestinos, mas não conversará com representantes do
Hamas, disse Kouchner.
A União Européia anunciou
que manterá seu veto a contatos formais com o Hamas.
Kouchner disse que o Hamas
parece "mais flexível do que antes", mas ainda não disposto a
reconhecer o Estado de Israel.
Ele não acrescentou detalhes.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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