São Paulo, terça-feira, 20 de maio de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

França admite conversas com Hamas e irrita EUA

Chanceler defende "contatos" com grupo palestino

DO "NEW YORK TIMES", EM PARIS

A França confirmou ontem que vem mantendo contatos com os líderes do grupo radical islâmico Hamas, que governa Gaza há alguns meses, a fim de tentar compreender melhor suas posições.
Os EUA, cujo presidente, George W. Bush, recentemente comparou negociar com o Hamas a apaziguar os nazistas, não demoraram a criticar os franceses pelos contatos, afirmando que não ajudam em nada. O chanceler francês, Bernard Kouchner, enfatizou que não houve negociações com o Hamas, classificado como grupo terrorista por Israel, pelos EUA e pela União Européia.
"Não se trata de um relacionamento, mas de contatos", disse Kouchner à rádio Europe 1. "Não somos os únicos a fazê-los", disse. "Precisamos poder conversar se queremos desempenhar um papel."
Kouchner confirmou uma reportagem do jornal "Figaro", na qual é citado o diplomata aposentado francês Yves Aubin de la Messuzière, antigo embaixador ao Iraque, que afirmou ter se reunido um mês atrás com Ismail Haniyeh, o primeiro-ministro do Hamas, e com Mahmoud Zahar, outro líder da organização palestina.
A confirmação dos contatos veio alguns dias antes da visita de Kouchner à região, que incluirá uma passagem por Belém, na Cisjordânia. A confirmação também surgiu menos de um dia após Bush ter concluído visita ao Oriente Médio, na qual ele reafirmou sua oposição a contatos com o Hamas.
Questionado sobre a conversa entre a França e o Hamas, Sean McCormack, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, disse: "Não acreditamos que isso seja útil em termos de promover a paz na região". Em Jerusalém, Arye Merkel, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores israelense, disse que seu governo já havia tratado dessa reunião "junto aos níveis mais elevados" do governo francês e recebido "garantias de que não há mudança na posição francesa quanto ao Hamas".
Sem novidades
De acordo com o relato de Aubin de La Messuzière, seus interlocutores no Hamas não disseram nada que o movimento já não tivesse reiterado em público. "Eles me garantiram que estão prontos a aceitar um Estado palestino que siga as fronteiras de 1967, e isso representa reconhecimento indireto de Israel", afirmou.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, visto como favorável a Israel, fará uma visita oficial ao país em junho e dedicará "algumas horas" a percorrer os territórios palestinos, mas não conversará com representantes do Hamas, disse Kouchner.
A União Européia anunciou que manterá seu veto a contatos formais com o Hamas. Kouchner disse que o Hamas parece "mais flexível do que antes", mas ainda não disposto a reconhecer o Estado de Israel. Ele não acrescentou detalhes.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

Texto Anterior: Americanas
Próximo Texto: Líbano: Liga Árabe tenta salvar diálogo de conciliação
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.