São Paulo, quarta-feira, 20 de maio de 2009

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Presidente da Câmara britânica renuncia

Crise causada por uso abusivo de verbas de gabinete faz premiê propor órgão independente para controlar gastos dos parlamentares

Michael Martin é o primeiro presidente da Casa forçado a deixar o cargo desde 1695; trabalhistas perdem mais com escândalo, diz pesquisa


Matt Dunham-03.dez.08/Reuters
O presidente da Câmara dos Comuns, Michael Martin, que ontem anunciou que deixará o cargo

DA REDAÇÃO

A crise que vive o Parlamento britânico por denúncias de gastos irregulares de verbas extrassalariais e auxílios-moradia por seus integrantes provocou ontem a renúncia do presidente da Câmara dos Comuns.
Também houve reação do primeiro-ministro, Gordon Brown, que anunciou um projeto de reforma no controle de gastos dos parlamentares.
Presidente da Câmara baixa -centro do poder no Reino Unido-, o trabalhista Michael Martin não se envolveu com nenhuma das acusações de uso antiético do auxílio-moradia ou gastos supérfluos.
Ele, no entanto, se opôs à liberação das informações sobre gastos e é visto como defensor do atual estado de coisas, em que o Parlamento, segundo expressão usada ontem por Brown, funciona como um "clube de cavalheiros" privado.
Anteontem, parlamentares pediram a saída do presidente.
Num curto pronunciamento sobre o assunto na Câmara dos Comuns, Martin disse que, para manter a "unidade" da Casa, deixará o cargo em 21 de junho.
"É tudo que tenho a dizer sobre o assunto", afirmou, propondo em seguida uma nova discussão para a pauta. Faz parte das atribuições do presidente da Casa a definição da ordem dos debates e dos parlamentares a falar.
A última vez em que um "speaker", como é denominado o cargo, tinha sido obrigado a deixar a função fora em 1695. O então presidente da Câmara foi acusado de receber propina.
Também ontem à tarde, Brown convocou uma entrevista coletiva para anunciar mudanças no controle de gastos dos parlamentares. Ele prometeu uma proposta de legislação que crie uma comissão independente e permanente para acompanhar o uso de verbas públicas do Parlamento.
Propôs também alterações nas regras para uso do auxílio-moradia a que os parlamentares têm direito -o Parlamento ajuda no pagamento de prestações de uma "segunda casa" em Londres, já que muitos de seus membros são originários de outras regiões do país.
Segundo Brown, a ideia é exigir que qualquer ganho proveniente da venda de tais imóveis, se adquiridos com a ajuda de dinheiro público, seja ressarcido aos cofres públicos.
Numa terceira reação, a outra Casa do Parlamento, a Câmara dos Lordes, anunciou a instauração de uma investigação independente sobre os gastos dos seus integrantes bancados por recursos públicos.

Trabalhistas atingidos
Embora as acusações de uso abusivo de verbas perpassem diversas siglas, o Partido Trabalhista e o premiê foram os mais atingidos politicamente, de acordo com pesquisa realizada no fim de semana pelo jornal "The Guardian".
Entre os entrevistados, 69% disseram que Brown lidou mal com a crise; enquanto cerca de 55% disseram acreditar que o líder da oposição, David Cameron (do Partido Conservador), reagira de forma oposta.
A mesma pesquisa confirmou tendência anterior que indica uma possível alternância de poder no Reino Unido. Do total, 39% disseram pretender votar nos conservadores na próxima eleição, enquanto 28% afirmavam que votariam nos trabalhistas.
Anteontem, Cameron, principal nome de oposição a Brown, lançou a proposta de dissolução do Parlamento e a realização de eleição geral no país nos próximos meses. A decisão sobre eleições cabe ao primeiro-ministro, dentro de um prazo máximo que vence apenas no ano que vem.

Com agências internacionais



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