São Paulo, quinta-feira, 20 de maio de 2010

Próximo Texto | Índice

Lula diz temer que caso Irã volte à estaca zero

Presidente afirma que acordo que obteve com Teerã é "exatamente o que os EUA queriam fazer há cinco meses" e prega diálogo

Brasil e Turquia enviam uma carta a todos os integrantes do Conselho de Segurança da ONU pedindo suspensão de discussão de sanções


Francisco Leong/France Presse
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é recebido em Portugal, última escala de seu giro pelo exterior iniciado na semana passada, pelo colega Aníbal Cavaco Silva

LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI

Em suas primeiras declarações sobre o tema desde que os EUA decidiram manter o esforço por novas sanções a Teerã apesar do acordo Brasil-Irã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse temer que as negociações voltem à "estaca zero" caso as potências não tenham disposição para o diálogo.
"Vocês sabem bem que nós fizemos exatamente o que os EUA queriam fazer há cinco, seis meses. Ninguém conseguia fazer o Irã sentar na mesa para negociar. E nós conseguimos, porque essas decisões às vezes são tomadas em função de uma relação de confiança", disse.
Questionado sobre o endosso de Rússia e China à proposta americana de sanções, Lula, que participou de um seminário sobre o Brasil em Madri, disse apenas que os dois países eram "grandes amigos".
Antes de viajar para Teerã para firmar o acordo pelo qual o Irã se compromete a enviar 1.200 quilos de seu urânio pouco enriquecido à Turquia, Lula se reuniu em Moscou com o presidente russo, Dmitri Medvedev, que chegou a qualificar as gestões do brasileiro como a "última chance" para o Irã.
Após a conclusão do acordo, Medvedev telefonou para Lula e disse que se abrira um "caminho alternativo" ao das sanções. No dia seguinte, porém, a Rússia deu seu apoio à proposta de resolução dos EUA.
Ontem, os chanceleres Celso Amorim (Brasil) e Ahmet Davutoglu (Turquia) enviaram carta aos membros do Conselho de Segurança da ONU apresentando o acordo fechado em Teerã e defendendo que se suspenda a discussão de sanções.
"Brasil e Turquia estão convencidos de que é hora de dar uma chance para as negociações e de evitar medidas em detrimento de uma solução pacífica para a questão", diz a carta. O apelo não surtiu efeito ao menos na França, copatrocinadora da proposta de sanções. "As negociações continuam, com ou sem eles [Brasil e Turquia]", disse o embaixador francês na ONU, Gérard Araud.
A expectativa das potências é que as sanções, que precisam de votos favoráveis de 9 dos 15 membros do conselho para entrarem em vigor, sejam aprovadas nas próximas semanas.

Críticas de Lula
A insistência dos membros permanentes do conselho em novas sanções levou Lula a fazer novas críticas à ONU, ontem em Madri. "Se a ONU continuar assim, vamos ter problemas sérios", disse o presidente. "A governança global de hoje representa o mundo político de 1945, não o de 2010. É preciso mudar, mas quem já está sentado na cadeira não quer mudar.
E aí podemos falar das confusões que não são resolvidas." Ele afirmou que o Brasil quer se tornar agora "um grande agente político global". "O Brasil e a Turquia não tinham poder para negociar acordo nuclear. A única coisa que queríamos era convencer o Irã de que ele deveria assumir compromisso com a agência [atômica da ONU] e deveria negociar."

Leia a íntegra da carta do Brasil e da Turquia à ONU

www.folha.com.br/1013712



Próximo Texto: Análise: Aprovação de sanções complicará o cenário
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.