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Lula diz temer que caso Irã volte à estaca zero
Presidente afirma que acordo que obteve com Teerã é "exatamente o que os EUA queriam fazer há cinco meses" e prega diálogo
Brasil e Turquia enviam uma carta a todos os integrantes do Conselho de Segurança da ONU pedindo suspensão de discussão de sanções
Francisco Leong/France Presse
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é recebido em Portugal, última escala de seu giro pelo exterior iniciado na semana passada, pelo colega Aníbal Cavaco Silva
LUISA BELCHIOR
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI
Em suas primeiras declarações sobre o tema desde que os
EUA decidiram manter o esforço por novas sanções a Teerã
apesar do acordo Brasil-Irã, o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse temer que as negociações voltem à "estaca zero"
caso as potências não tenham
disposição para o diálogo.
"Vocês sabem bem que nós
fizemos exatamente o que os
EUA queriam fazer há cinco,
seis meses. Ninguém conseguia
fazer o Irã sentar na mesa para
negociar. E nós conseguimos,
porque essas decisões às vezes
são tomadas em função de uma
relação de confiança", disse.
Questionado sobre o endosso
de Rússia e China à proposta
americana de sanções, Lula,
que participou de um seminário sobre o Brasil em Madri,
disse apenas que os dois países
eram "grandes amigos".
Antes de viajar para Teerã
para firmar o acordo pelo qual o
Irã se compromete a enviar
1.200 quilos de seu urânio pouco enriquecido à Turquia, Lula
se reuniu em Moscou com o
presidente russo, Dmitri Medvedev, que chegou a qualificar
as gestões do brasileiro como a
"última chance" para o Irã.
Após a conclusão do acordo,
Medvedev telefonou para Lula
e disse que se abrira um "caminho alternativo" ao das sanções. No dia seguinte, porém, a
Rússia deu seu apoio à proposta de resolução dos EUA.
Ontem, os chanceleres Celso
Amorim (Brasil) e Ahmet Davutoglu (Turquia) enviaram
carta aos membros do Conselho de Segurança da ONU apresentando o acordo fechado em
Teerã e defendendo que se suspenda a discussão de sanções.
"Brasil e Turquia estão convencidos de que é hora de dar
uma chance para as negociações e de evitar medidas em detrimento de uma solução pacífica para a questão", diz a carta.
O apelo não surtiu efeito ao
menos na França, copatrocinadora da proposta de sanções.
"As negociações continuam,
com ou sem eles [Brasil e Turquia]", disse o embaixador
francês na ONU, Gérard Araud.
A expectativa das potências é
que as sanções, que precisam
de votos favoráveis de 9 dos 15
membros do conselho para entrarem em vigor, sejam aprovadas nas próximas semanas.
Críticas de Lula
A insistência dos membros
permanentes do conselho em
novas sanções levou Lula a fazer novas críticas à ONU, ontem em Madri. "Se a ONU continuar assim, vamos ter problemas sérios", disse o presidente.
"A governança global de hoje
representa o mundo político de
1945, não o de 2010. É preciso
mudar, mas quem já está sentado na cadeira não quer mudar.
E aí podemos falar das confusões que não são resolvidas."
Ele afirmou que o Brasil quer
se tornar agora "um grande
agente político global". "O Brasil e a Turquia não tinham poder para negociar acordo nuclear. A única coisa que queríamos era convencer o Irã de que
ele deveria assumir compromisso com a agência [atômica
da ONU] e deveria negociar."
Leia a íntegra da carta do
Brasil e da Turquia à ONU
www.folha.com.br/1013712
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